Antes de escrever este post, para não confiar apenas na minha bolha visível das redes sociais, conversei com alguns dirigentes sindicais e partidários, falei com profissionais que monitoram redes e pedi para os meus amigos do Facebook e do Twitter enviarem suas avaliações. Depois disso tudo, estou cravando que falta muito pouco para que o Brasil viva na sexta-feira uma greve geral histórica. Uma greve com o simbolismo da de 1917, há exatos 100 anos, e que paralisou toda a indústria e o comércio.
A greve de 1917 foi resultado de uma aliança das organizações operárias, que naquele tempo tinham inspiração anarquista, aliada à imprensa mais alternativa. E de certa forma mostrou a força do novo segmento que nascia no Brasil, o operariado.
Pode-se dizer que aquela greve foi filha direta da primeira industrialização brasileira, provocada entre outros fatores pela I Guerra Mundial (14 a 18). E ao mesmo tempo pela elevação dos preços de alimentos causados pelo aumento da exportação agrícola para os países da chama Tríplice Entente (França, Inglaterra e Rússia).
A questão é como este movimento cresceu tão rápido e se fortaleceu tanto apesar de uma industrialização ainda imberbe e de um nível baixo de conexão entre os trabalhadores. A resposta que muitos historiadores arriscam é que as condições de trabalho impostas aos operários daquela época foram o combustível da reação.
Cem anos depois, o governo Temer, seus aliados do mercado e a Rede Globo parecem ter desconsiderado este princípio básico. O marketing não se sobrepõe à experiência de vida. Principalmente quando se percebe que sua vida vai piorar e que seus parcos direitos serão retirados se nada for feito.
O governo Temer, ilegítimo, buscou sua validação a partir de reformas absolutamente impopulares, mas que poderiam lhe garantir a confiança dos seus fiadores golpistas internos e externos. Imaginou que os trabalhadores só iriam se revoltar contra isso lá na frente, quando não haveria mais com o que se preocupar. Enganou-se.
Pelos depoimentos que colhi, a greve já está na boca do povo. Literalmente. Nos bares, cabeleireiros, pontos de ônibus e escolas, as pessoas estão discutindo o que vai acontecer na sexta-feira.
Aliás, das escolas particulares (pasmem!) chegam as notícias mais surpreendentes. Colégios de classe média alta já avisaram pais e alunos que seus professores decidiram parar. E que o fazem para defender (pasmem, again) seus direitos.
Os aeroviários também estão falando em parar. Metroviários e motoristas de ônibus das principais capitais, idem.
Prefeitos progressistas já estão abonando o dia dos funcionários públicos que decidirem parar.
Quem conhece processo de mobilização em redes sabe no que isso pode vir a dar. A bola que desce da avalanche costuma crescer de maneira exponencial no processo final. Nos últimos dias do acontecimento alvo.
A greve geral desta sexta de 2017 pode repetir uma história de 100 anos e vir a recolocar o Brasil nos trilhos. Porque ao fim e ao cabo, o capitalismo só entende uma mensagem. A que lhe toca no bolso. E se os trabalhadores brasileiros não quiserem vir a ter uma qualidade de vida próxima aos de 1916, a hora de ir à luta é agora. E pelo jeito, boa parte já percebeu isso.
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