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"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

23.8.15

Pampianas: gaúchos, grenal e sociedade alternativa

Pampianas: gaúchos, grenal e sociedade alternativa

Por: Demétrio Xavier*
22/08/2015 - 05h01min


Disse alguém que o gaúcho não vive sua identidade: a sofre. Puxa, que soa a maldição... Será assim? Identidades não se prestam a certezas unânimes, a representações simplificadoras e reduções fáceis; supô-lo – e impô-lo – talvez cause, mesmo, sofrer. Entre os traços pretensamente típicos do rio-grandense, tem-se destacado o caráter polarizado: gremistas ou colorados, maragatos ou chimangos; incapazes à matização, à diversidade. Esse maniqueísmo permearia a cultura, determinaria a política, constituiria o imaginário.

A idealização de uma identidade unificada, na literatura e no discurso das oligarquias, desde o século 19, e de movimentos como o tradicionalismo, recupera a figura histórica e o tipo social do gaúcho. Aqui e no Prata, ele foi o homem que se afastou ou não teve lugar na sociedade colonial e foi viver do gado alçado que proliferava nas pastagens ainda sem dono.

Bastardo da união de peninsular e índia; negro; índio missioneiro ou pampiano; desertor de tropas regulares e marinha e mesmo filho aventureiro de famílias crioulas, vagava à margem de uma sociedade estratificada, cheia de privilégios e proibições, que praticava escravidão e execuções públicas, genocídio, castigos físicos a militares, estudantes e marinheiros; promovia duelos... Sociedade na qual grassava vigorosa e terrível a Inquisição.

Os gaúchos, andejos "sem lei, nem rei, nem Deus", circulavam e viviam períodos entre os indígenas; relacionavam-se com exércitos antagônicos e quilombolas; comerciavam com piratas... Seu espírito libertário desconstruía a ética do trabalho e da propriedade: viviam "dentro de sua camisa, debaixo de seu chapéu". O poncho de cultura e idioma que os abrigou fez-se de múltiplos retalhos étnicos e sociais, cada um bem-vindo e útil.

A pergunta que talvez nos ajude é: não seria esse personagem um campeão de diversidade e tolerância, mais presente nos versos de Raul Seixas do que na cantilena que o reivindica, quando eivada de antagonismos grenalistas? 


* Músico, produtor e apresentador do programa "Cantos do Sul da Terra", na FM Cultura



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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz