A tragédia do PSDB segundo um ótimo historiador tucano
Boris Fausto não citou Serra nem como liderança passada, nem como liderança presente. Tal omissão provavelmente refletida foi um ponto alto de sua análise
Boris Fausto é um historiador de verdade.
Digo isso em oposição a tipos como o professor Villa, que se fantasia de historiador.
Em meus anos de Exame, contratamos Boris Fausto para dar uma série de aulas para a redação sobre a história econômica brasileira.
Foi um sucesso.
Com seu semblante de Humpty Dumpty, o personagem folclórico britânico de cara de ovo, Boris Fausto é alguém que merece ser ouvido quando se quer entender o Brasil.
Ele é simpatizante do PSDB, mas sabe separar sua simpatia pessoal dos fatos ao fazer suas análises.
Ele mostrou isso no Roda Viva, nesta segunda-feira.
Nem Augusto Nunes, com sua monomania antipetista, conseguiu estragar o programa.
Nunes, o Brad Pitt de Taquaritinga, tentou naturalmente manipular Boris Fausto, mas aquela era uma tarefa muito acima das suas possibilidades.
A parte mais interessante do programa foi quando Boris Fausto analisou o seu PSDB do coração.
Ele disse que o partido não formou lideranças à altura de Montoro e Covas, já mortos, e FHC, que ainda respira com vigor mas já não parece raciocinar.
Aécio, segundo ele, não conseguiu ser líder nacional até aqui, e é difícil que consiga agora, quando já vai chegando aos 60.
Boris Fausto não citou Serra nem como liderança passada e nem como liderança presente, e esta omissão provavelmente refletida foi um ponto alto de sua análise.
Ele disse também uma coisa que certamente não foi do agrado de Augusto Nunes.
O PSDB, afirmou Boris Fausto, deve se afastar completamente das manifestações pró-golpe da "extrema direita" para ser fiel a seu espírito "democrático".
Não é, lamentavelmente, o que tem se visto.
FHC e Aécio promovem delirantemente um golpe que faria o Brasil retroceder ao estágio de republiqueta.
Igualam-se, assim, a tipos como Kim Kataguiri, do assim chamado Movimento Brasil Livre, e Marcello Reis, do Revoltados Online.
E, já que estamos no terreno da história, igualam-se também a golpistas históricos como Carlos Lacerda, o Corvo da UDN.
A UDN, para os jovens pouco familiarizados, desesperada por não conseguir o poder pelos votos, tramou o golpe de 1964.
A UDN queria que os militares varressem os líderes políticos rivais e entregassem, depois, o poder para ela.
Era como se a UDN quisesse ganhar uma batalha eleitoral pela via do WO – ausência de adversários.
Só que os militares tinham outros planos, e preferiram ficar eles mesmos no poder, em vez de entregá-lo à UDN.
O PSDB, meio século depois, é a reprodução da UDN. É, mais uma vez, a direita tentando chegar ao poder pelo tapetão, e não pela democracia dos votos.
Não há mais tanques para colocar nas ruas, e nem marines americanos na retaguarda, mas hoje existem outras maneiras de derrubar alguém.
A UDN matou a democracia em 1964, e merecidamente depois pagou o preço disso. Lacerda acabou cassado, depois de dizer que Castello Branco era mais feio por dentro do que por fora, e morreu de desgosto.
O PSDB é, hoje, uma ameaça à democracia.
Não seria, se seus líderes ouvissem Boris Fausto.
Mas não ouvem, e é.
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