"O Brasil conhece muito pouco o Brasil e o próprio sertão, em particular. E quando digo isso não estou me excluindo, não. Por exemplo, já estive na Amazônia, mas não posso dizer que conheço a Amazônia. O Brasil é muito grande e cabe a nós, escritores nordestinos e sertanejos, chamar atenção para nossa realidade."
"Não acho que o ser humano seja um ser completo, ele está a caminho e ele caminha para o absoluto, para a divindade. O Cristo dizia uma coisa muito interessante. Ele disse que nós temos que ser fermento. Ele sabia que o homem está a caminho. Mas perceba que o progresso moral da humanidade é muito lento.""A política é uma coisa indispensável. Isso porque, ela entendida como deve ser, é a arte do bem comum. Uma decisão política bem tomada melhora muito as coisas. Agora, repito que essa é uma mudança lenta. Nós gostaríamos de identificar o tempo da história como o tempo da nossa biografia. Mas isso não é possível. Veja bem, antes do Cristo, a crueldade era uma coisa tão comum que não se tinha sequer acanhamento em demonstrá-la. Júlio César foi considerado um sujeito muito generoso porque, em relação aos generais do tempo dele que cortavam as duas mãos dos povos conquistados, ele só cortava uma. Pois bem, hoje a crueldade continua, porém ninguém mais tem coragem de expô-la com essa desfaçatez. Isso, em si, é um ganho. Embora, elas tenham ocorrido através do sangue de muitos inocentes, sobretudo, daquele que chamamos de Cristo."
Ariano Suassuna
Escritor, teatrólogo, artista (16/06/1927 - 23/07/2014)
http://rascunho.gazetadopovo.com.br/um-homem-de-boa-fe/
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