Política| 24/10/2012 | Copyleft
Ato na USP: "Haddad é resposta da civilização à barbárie"
No ato "São Paulo quer Mudança", promovido pelo Coletivo de Estudantes em Defesa da Educação Pública, professores da Universidade de São Paulo manifestaram apoio à candidatura de Fernando Haddad (PT). Nas falas, a eleição de Haddad foi apontada como uma possibilidade de mudança, uma resposta da civilização à barbárie. Para Marilena Chauí, Haddad aparece para São Paulo como uma passagem do medo, vindo da atual gestão, para a esperança no resgate da imagem cidadã da cidade.
Caio Sarack
São Paulo - O Coletivo de Estudantes em Defesa da Educação Pública promoveu terça-feira, às 17h, na USP, o ato “São Paulo quer Mudança”. O evento contou com professores da instituição que resolveram se colocar no debate das eleições de segundo turno. Marilena Chauí, André Singer, Homero Santiago, Deisy Ventura, Amélia Cohn, Ismail Xabier, Leda Paulani e outros intelectuais colocaram-se a favor da eleição do candidato Fernando Haddad (PT). Nabil Bonduki, vereador eleito e também professor da USP, compareceu para dar apoio ao que o evento chamou de "única possibilidade de mudança".
Estas eleições têm o potencial de ampliar a participação direta da população nas decisões públicas, afirmou o professor da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP, Ricardo Abramovay. O ato promovido na USP nesta terça, 23, pretendeu ser justamente um espaço de participação e debate sobre o segundo turno da eleição paulistana.
Nas falas, o mote foi bastante definido: a eleição de Haddad é uma possibilidade de mudança, uma resposta da civilização à barbárie. O projeto de cidade do petista foi elogiado e posto como paradigmático. Homero Santiago, professor de Filosofia da universidade, elogiou a maneira petista de governar e a contrapôs à maneira tucana de governar, "No transporte, o bilhete único mensal foge da lógica da discussão de planilhas de tarifa tucana. Dá direito a vida social e democrática, o deslocamento na cidade é uma questão da democracia", disse Homero. O professor fez o contraste com a gestão tucana, segundo ele, um projeto higienista e sem consulta ao povo. "Votar contra Serra é uma espera quase moral", finalizou.
Amélia Cohn, socióloga aposentada pela universidade, concordou. "São modos de governar radicalmente distintos. Uma, tecnocrática e se reduz a uma questão contábil, outra de transformação civilizada e apropriação do espaço público". Para a socióloga, Haddad é opção até dentro do PT, vem como um paradigma para o próprio partido e um entusiasmo de retomada da cidade. Saído do departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Sociais (FFLCH-USP), Haddad foi comparado com o também egresso da USP, Fernando Henrique Cardoso. "Saiu daqui a escola neoliberal que governou o país, mas agora sai alguém de esquerda," afirmou o professor Sérgio Cardoso.
A elaboração de um projeto sério para a economia também é importante, "A Alemanha vai bem porque 60% do seu PIB está nas mão das pequenas empresas e não na economia de escala dos oligopólios. O projeto do Haddad tenta dar uma saída para essa tendência econômica", disse o especialista em Economia das Organizações Paulo Feldmann.
O voto em Haddad despontou no ato como única opção possível de mudança, Leda Paulani, economista e professora também da universidade, disse que a democracia participativa é opção que nos sobrou, que já está ultrapassada e morta, no entanto é o que nos dá abertura para a democratização do acesso e do espaço público.
"A cidade no século XIX tinha relação estreita com o conceito de civilização, no século XX a cidade tem se confundido com a barbárie. Temos a possibilidade de um processo de desbarbarização, somos uma cidade ocupada", afirmou Ismail Xavier da Escola de Comunicação e Artes (ECA-USP). A reflexão sobre um projeto de cidade que a afaste de uma gestão higienista e tecnocrática aparece com urgência, segundo Xavier. A urgência deste debate e de achar uma saída que dê vazão ou espaço de movimentação democrática faz a esquerda se colocar a favor do petista.
Deisy Ventura, do Instituto de Relações Internacionais (IRI-USP), aposta em Haddad como a oportunidade de recolocar a universidade no debate sobre um governo de esquerda. "No segundo turno não temos um candidato ideal, isto é crença. Mas não estamos no ambiente da crença, sim no ambiente da política", concluiu Deisy.
"Há três maneiras de impedir a prática e participação políticas. A concepção teológica do poder, da escolha divina; a concepção moralista que vira as costas para a prática do mundo concreto e a submissão à ideologia da classe dominante, submissão ao monopólio da imagem que domina o corpo e o espírito da nossa sociedade", disse Marilena Chauí no final do evento. Para ela, Haddad aparece para São Paulo como uma passagem do medo, vindo da atual gestão, para a esperança no resgate da imagem cidadã de São Paulo.
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