Eduardo Suplicy se emociona ao ler carta de Miruna Genoíno sobre o seu pai, José Genoíno.
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Política| 10/10/2012 | Copyleft
         
        "A coragem é o que dá sentido à liberdade"
Você teria coragem de assumir como profissão a manipulação de informações e a especulação? Se sentiria feliz, praticamente em êxtase, em poder noticiar a tragédia de um político honrado? Acharia uma excelente ideia congregar 200 pessoas na porta de uma casa familiar em nome de causar um pânico na televisão? Teria coragem de mandar um fotógrafo às portas de um hospital no dia de um político realizar um procedimento cardíaco? Pois os meios de comunicação desse nosso país sim tiveram coragem de fazer isso tudo e muito mais. O texto é de Miruna Genoino.
Miruna Genoino
(*) Carta escrita pela filha de José              Genoino.
            
            Com essa frase, meu pai, José Genoino Neto, cearense,            brasileiro, casado, 
            pai de três filhos, avô de dois netos, explicou-me como estava            se sentindo em relação à condenação que hoje, dia 9 de            outubro, foi confirmada. Uma frase saída do livro que está            lendo atualmente e que me levou por um caminho enorme de            recordações e de perguntas que realmente não têm resposta.
            
            Lembro-me que quando comecei a ser consciente daquilo que meus            pais tinham feito e especialmente sofrido, ao enfrentar a            ditadura militar, vinha-me uma pergunta à minha mente: será            que se eu vivesse algo assim teria essa mesma coragem de            colocar a luta política acima do conforto e do bem estar            individual? Teria coragem de enfrentar dor e injustiça em nome            da democracia?
            
            Eu não tenho essa resposta, mas relembrar essas perguntas me            fez pensar em muitas outras que talvez, em meio a toda essa            balbúrdia, merecem ser consideradas...
            
            Você seria perseverante o suficiente para andar todos os dias            14 km pelo sertão do Ceará para poder frequentar uma escola?            Teria a coragem suficiente de escrever aos seus pais uma carta            de despedida e partir para a selva amazônica buscando            construir uma forma de resistência a um regime militar?            Conseguiria aguentar torturas frequentes e constantes, como            pau de arara, queimaduras, choques e afogamentos sem perder a            cabeça e partir para a delação? Encontraria forças para            presenciar sua futura companheira de vida e de amor ser            torturada na sua frente? E seria perseverante o suficiente ao            esperar 5 anos dentro de uma prisão até que o regime político            de seu país lhe desse a liberdade?
            
            E sigo...
            
            Você seria corajoso o suficiente para enfrentar eleições            nacionais sem nenhuma condição financeira? E não se            envergonharia de sacrificar as escassas economias familiares            para poder adquirir um terno e assim ser possível exercer seu            mandato de deputado federal? E teria coragem de ao longo de 20            anos na câmara dos deputados defender os homossexuais, o            aborto e os menos favorecidos? E quando todos estivessem            desejando estar ao seu lado, e sua posição fosse de destaque,            teria a decência e a honra de nunca aceitar nada que não fosse            o respeito e o diálogo aberto?
            
            Meu pai teve coragem de fazer tudo isso e muito mais. São mais            de 40 anos dedicados à luta política. Nunca, jamais para            benefício pessoal. Hoje e sempre, empenhado em defender aquilo            que acredita e que eu ouvi de sua boca pela primeira vez aos 8            anos de idade quando reclamava de sua ausência: a única coisa            que quero, Mimi, é melhorar a vida das pessoas...
            
            Este seu desejo, que tanto me fez e me faz sentir um enorme            orgulho de ser filha de quem sou, não foi o suficiente para            que meu pai pudesse ter sua trajetória defendida. Não foi o            suficiente para que ganhasse o respeito dos meios de            comunicação de nosso Brasil, meios esses que deveriam ser            olhados através de outras tantas perguntas...
            
            Você teria coragem de assumir como profissão a manipulação de            informações e a especulação? Se sentiria feliz, praticamente            em êxtase, em poder noticiar a tragédia de um político            honrado? Acharia uma excelente ideia congregar 200 pessoas na            porta de uma casa familiar em nome de causar um pânico na            televisão? Teria coragem de mandar um fotógrafo às portas de            um hospital no dia de um político realizar um procedimento            cardíaco? Dedicaria suas energias a colocar-se em dia de            eleição a falar, com a boca colada na orelha de uma pessoa,            sobre o medo a uma prisão que essa mesma pessoa já vivenciou            nos piores anos do Brasil?
            
            Pois os meios de comunicação desse nosso país sim tiveram              coragem de fazer isso tudo e muito mais.
             
            Hoje, nesse dia tão triste, pode parecer que ganharam, que              seus objetivos foram alcançados. Mas ao encontrar-me com meu              pai e sua disposição para lutar e se defender, vejo que              apenas deram forças para que esse genuíno homem possa              continuar sua história de garra, HONESTIDADE e defesa              daquilo que sempre acreditou.
             
            Nossa família entra agora em um período de incertezas. Não            sabemos o que virá e para que seja possível aguentar o que vem            pela frente pedimos encarecidamente o seu apoio. Seja            divulgando esse e/ou outros textos que existem em apoio ao meu            pai, seja ajudando no cuidado a duas crianças de 4 e 5 anos            que idolatram o avô e que talvez tenham que ficar sem sua            presença, seja simplesmente mandando uma palavra de carinho.            Nesse momento qualquer atitude, qualquer pequeno gesto nos            ajuda, nos fortalece e nos alimenta para ajudar meu pai.
            
            Ele lutará até o fim pela defesa de sua inocência. Não              ficará de braços cruzados aceitando aquilo que a mídia e              alguns setores da política brasileira querem que todos              acreditem e, marca de sua trajetória, está muito bem e muito              firme neste propósito, o de defesa de sua INOCÊNCIA e de sua              HONESTIDADE. 
          
Vocês que aqui nos leem sabem de nossa vida,            de nossos princípios e de nossos valores. E sabem que, agora,            em um dos momentos mais difíceis de nossa vida, reconhecemos            aqui humildemente a ajuda que precisamos de todos, para que            possamos seguir em frente.
            
            Com toda minha gratidão, amor e carinho,
            
            Miruna Genoino
            09.10.2012
          
        
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