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Gabriel o Pensador - Linhas Tortas (Clipe Oficial)
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=24QmQfPCsgQ
Gabriel o Pensador - Linhas Tortas (Video Lyrics)
http://www.youtube.com/watch?feature=endscreen&NR=1&v=Xtk-2R9b1ZI
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Linhas Tortas
Gabriel o Pensador / André Gomes
Alguns às vezes me tiram o sono, mas não me tiram o sonho
Por isso eu amo e declamo, por isso eu canto e componho
Não sou o dono do mundo, mas sou um filho do dono
Do verdadeiro Patrão, do verdadeiro Patrono
- E aí, Gabriel, desistiu do cachê?
- Cancelei um trabalho aí pra não me aborrecer.
- Explica isso melhor, o que foi que você fez?
- Tá tudo bem, eu explico pra vocês:
Tudo começou na aula de português
Eu tinha uns cinco anos, ou talvez uns seis
Comecei a escrever, aprendi a ortografia
Depois as redações, para a nossa alegria
Professora dava tema-livre, eu demorava
Pra escolher um tema, mas depois eu viajava
E nessas viagens, os personagens surgiam
Pensavam, sentiam, choravam, sorriam
Aí a minha tia-avó, veja só você
Me deu de aniversário uma máquina de escrever
Eu me senti um baita jornalista, tchê
Que nem a minha mãe, que trabalhava na TV
Depois, já aos quinze, mas com muita timidez
Fiquei muito sem graça com o que a professora fez
Ela pegou meu texto e leu pra turma inteira ouvir
Até fiquei feliz mas com vontade de fugir
Então eu descobri que já nasci com esse problema
Eu gosto de escrever, eu gosto de escrever, crer ver
Ver, crer, eu gosto de escrever e escrevo até até poema
Meu Pai, eu confesso, eu faço prosa e verso
Na feira eu vendo livro, no show eu vendo ingresso
Na loja eu vendo disco, já vendi mais de um milhão
Se isso for um crime, quero ir logo pra prisão
- Ih, pensador, isso é grave, hein!
É, vovó dizia que eu já escrevia bem
Tentei me controlar, me ocupar com um esporte
Surf, futebol, mas não era o meu forte
Um dia eu fiz uns raps e achei que tava bom
Me batizei de Pensador e quis fazer um som
Ficar famoso e rico nunca foi minha meta
Minha mãe já era isso, eu só queria ser poeta
Meu pai, um homem sério, um gaúcho de POA
Formado em medicina, não podia acreditar
Ao ver o seu garoto Gabriel
Com um fone nos ouvidos viajando com a caneta no papel
- O que você tá fazendo? Vai dormir, moleque!
- Ah, pai, peraí, eu só tô fazendo um rap!
Ninguém sabia bem o que era, mas eu tava viciado naquilo
E viciei uma galera!
Meu Pai, eu confesso, eu faço prosa e verso
Na feira eu vendo livro, no show eu vendo ingresso
Na loja eu vendo disco, já vendi mais de um milhão
Se isso for um crime, quero ir logo pra prisão
Não tô vendendo crack, não tô vendendo pó
Não tô vendendo fumo, não tô vendendo cola
Mas muitos me disseram que o que eu faço é viciante
E vicia os estudantes quando eu entro nas escolas
Até os professores às vezes se contaminam
Copiam minhas letras e textos e disseminam
Sementes do que eu faço, já não sei se é bom ou mau
Mas sei que muito aluno começa a fazer igual
Escrevendo poemas, escrevendo redações
Dazendo até uns raps e umas apresentações
Me lembro dos meus filhos e a saudade é cruel
Solidão me acompanha de hotel em hotel
Casamento acabou, eu perdi na estrada
O amor que ainda tenho é o amor da palavra
É falar e cantar, despertar consciências
Dediquei a vida a isso e maior recompensa
É servir de referência pra quem pensa parecido
Pra quem tenta se expressar e nunca é ouvido
É olhar pra minha frente e enxergar um mar de gente
E mergulhar no fundo dos seus corações e mentes
É esse o meu mergulho, não é o do Tio Patinhas
É esse o meu orgulho, escrever as minhas linhas
Eu escrevo em linhas tortas, inspirado por alguém
Que me deu uma missão que eu tento cumprir bem
Escuto os corações, como um cardiologista
Traduzo o que eles dizem como faz qualquer artista
Que ganha o seu cachê, que é fruto do trabalho
De cigarra e de formiga, e eu não sei o quanto eu valho
Mas eu sei que quando eu ganho, divido e multiplico
E quanto mais eu vou dividindo, mais fico rico
Rico da riqueza verdadeira que é de graça
Como um só sorriso que ilumina toda a praça
Sorriso emocionado de um senhor experiente
Em pé há duas horas debaixo do sol quente
Ouvindo os meus poemas em total sintonia
Eu sou ele amanhã, e hoje é só poesia.
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Sobre a Música
Gabriel o Pensador lança música e videoclipe inspirados na Feira do Livro de Bento Gonçalves e nas suas experiências como escritor desde garoto.
O mote da letra poderia ser resumido na frase "eu gosto de escrever", característica inata do rapper e autor de três livros (um deles premiado com o Prêmio Jabuti). Ironicamente, o Pensador "confessa" esse seu vício como um "problema" descoberto ainda na infância e que ele não teria conseguido controlar, nem mesmo apelando para o surf e o futebol, que "não eram o seu forte". "então eu descobri que já nasci com esse problema / eu gosto de escrever, eu gosto de escrever, crer ver / ver, crer, eu gosto de escrever e escrevo até poema".
No refrão, com um certo tom de desabafo, nota-se uma referência à polêmica em que se viu envolvido mês de abril, quando alguns escritores questionaram o investimento da Prefeitura de Bento Gonçalves na compra de dois mil exemplares de seus livros, além um show com todas as despesas incluídas, que seria realizado no encerramento da feira, no final de maio.
Gabriel foi a público, mostrou em seu site a planilha de custos detalhada do contrato, declarou que estava "de saco cheio" e desistiu de fazer o show e abriu mão da venda de seus livros, decidindo ir à Feira fazer palestras como Patrono gratuitamente, porém deixou bem claro que discorda da opinião de que Feira do Livro não é lugar de show musical: "Meu Pai, eu confesso, eu faço prosa e verso / na feira eu vendo livro, no show eu vendo ingresso / na loja eu vendo disco, já vendi mais de um milhão / se isso for um crime, quero ir logo pra prisão"
A música foi feita no Rio, em parceria com o compositor e produtor gaúcho André Gomes (letra integral de Gabriel o Pensador), com a participação do músico Antônio Villeroy, mais um gaúcho residente na cidade maravilhosa, destino que teve, aliás, o pai de Gabriel, citado na letra como "um homem sério, um gaúcho de POA" e representado no videoclipe por um boneco do gaúcho laçador.
O resultado é uma mistura de hip hop com gaita e violão gaúchos, com uma bela harmonia sobre batida eletrônica que funcionam como uma estrada por onde o rapper passeia relembrando cenas de sua trajetória profissional e pessoal.
A direção do clipe ficou por conta de Thiago Ferreira e Tchello DRC, baixista do Detonautas, e a edição a cargo de Thiago Ferreira, que também é músico, com a colaboração do próprio Gabriel, que cedeu imagens de arquivo e se disse emocionado com o resultado:
- No fim das contas, acho que por um lado eu até lucrei com essa história, pelo prazer de compor uma canção de amor à literatura, incluindo aí como "literatura" a minha paixão pelas letras de música e tudo que eu faço, que vem da palavra. Aprendi um pouco também. De repente eu me vi explicando valor de cachê e preço de livro, uma situação inédita pra mim até então. Fiquei aborrecido e poderia falar de intriga, de inveja, de política, de desinformação... mas acabei falando de coisas muito melhores na letra. De coisas lindas, que eu vejo com muita frequência, rodando pelas feiras literárias e por shows há muitos anos. Gratidão, amor, determinação, inspiração, troca, liberdade, pureza... são coisas que eu vejo quase sempre, que me acompanham, que são o meu maior pagamento desde que comecei a cantar e a escrever e sempre serão, e essa música, com a ajuda das imagens, talvez consiga passar um pouco desse meu mundo pra quem não conhece direito. De qualquer forma, me fez olhar pra isso tudo com um carinho ainda maior, como a gente sente quando mexe num baú de recordações, que foi exatamente como nasceu também meu primeiro livro.
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