Mais de 2.500 pessoas participaram da abertura oficial do VI Congresso Brasileiro de Agroecologia e do 2.º Congresso Latino Americano de Agroecologia, na noite de segunda-feira (9), em Curitiba. "A grande participação credencia o setor a reivindicar políticas públicas federais e estaduais para fortalecimento do setor em todo o País", disse o presidente da Associação Brasileira da Agroecologia (ABA), Francisco Caporal. A abertura contou com pesquisadores, técnicos, estudantes de agroecologia do Brasil e da América Latina, além de integrantes do movimento Via Campesina.
Os congressos vão até quinta-feira (12) com palestras técnicas e apresentação de trabalhos científicos, na Universidade Positivo, e dinâmicas de campo que são realizados no Centro Paranaense de Agropecologia (CPRA), em Pinhais, Região Metropolitana de Curitiba. Os eventos são promovidos pela Associação Brasileira de Agroecologia - ABA e pela Sociedade Latinoamericana de Agroecologia - Socla, realizados pelo Governo do Estado, com apoio de diversas entidades da sociedade civil.
O secretário da Agricultura e do Abastecimento, Valter Bianchini, representou o governador Roberto Requião e o vice-governador Orlando Pessuti. Ele ressaltou as ações e programas do Paraná em defesa da agroecologia, em prática desde 2003, que fazem o Estado se sobressair na produção e técnicas inovadoras de alimentos agroecológicos. Na safra 2007/08 foram produzidas mais de 100 mil toneladas, com envolvimento de 5.300 produtores.
A Orquestra Sinfônica do Paraná fez uma apresentação na solenidade de abertura dos congressos, que contou com a presença do secretário do Meio Ambiente, Rasca Rodrigues, do secretário nacional do Ministério do Meio Ambiente, Egon Krakhecke, do presidente da Sociedade Latino-Americana de Agroecologia (Socla), Miguel Altieri, do diretor-geral da Itaipu Binacional, Jorge Sameck, da diretora executiva da Embrapa, Tatiana Deane de Sá, do presidente dos congressos, Ivo Melão, do delegado federal do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) no Paraná, Reni Denardi, do secretário municipal do Abastecimento de Curitiba, Norberto Ortigara, e de deputados estaduais.
HOMENAGENS – Bianchini apresentou vídeo gravado pelo governador Roberto Requião, que estava impossibilitado de comparecer à abertura oficial. Requião anunciou a inauguração da estação agroecológica do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), em Santa Tereza do Oeste, para 5 de dezembro. A área era da multinacional Syngenta e foi palco de conflito com o movimento Via Campesina, que resultou na morte de Valmir Mota de Oliveira, o Keno, integrante do movimento. "Ele dá o nome da nova estação do Iapar que será também o Centro de Agricultura Orgânica do Paraná", anunciou o governador.
A professora Ana Maria Primavesi, agrônoma e uma das pioneiras em pesquisas da agroecologia do País, foi homenageada. Ela é austríaca, mas lecionou na Universidade Federal de Santa Maria (RS), desde quando chegou ao Brasil, há 60 anos. Ela defende que a agronomia não compete com as leis da natureza e que antes de cuidar das plantas, tem que tratar do solo.
O secretário Valter Bianchini, em nome do governo, presenteou a professora com uma peça em madeira de araucária esculpida a figura de um pinhão. A homenagem teve grande participação dos estudantes e professores da Escola Latino-Americana de Agroecologia, que funciona na Lapa, Região Metropolitana de Curitiba.
MODELOS – A adesão aos congressos superou as expectativas. Foram 3.200 pessoas inscritas com mais de 1.500 pedidos para apresentação de trabalhos científicos. Para o presidente da ABA, essa adesão sinaliza que essa trajetória tem que ser trilhada e para conseguir ser bem-sucedida precisa unir conhecimentos e saberes dos camponeses, dos agricultores familiares e do setor técnico-científico.
Segundo Caporal, a superação das crises econômica, financeira, social, de alimentação e ambiental que estão atingindo o planeta passa pela agroecologia, que é o reverso do atual modelo de exploração baseado no petróleo e na transgenia. "Não há como repetir o mesmo modelo da revolução verde, que prega o uso excessivo de agrotóxicos e insumos químicos que intoxicam o solo, os alimentos e está provocando uma crise de civilização", alertou. Caporal chamou a atenção para o fracasso da primeira geração de produtos modificados geneticamente e destacou o trabalho da ABA na mobilização que leva ao avanço de novos conhecimentos e novos saberes na superação das crises.
A ABA e a Embrapa firmaram protocolo de co-edição, onde a Embrapa vai editar documentos técnico-científicos do campo para consolidar o avanço da agroecologia como ciência.
O presidente da Socla, Miguel Altieri também destacou a importância de fortalecer a agroecologia como agricultura do futuro e que oferece alternativa ao atual modelo de exploração agropecuária que deixa a natureza sem saída. "É a única que pode eliminar a pobreza do campo, protege o meio ambiente e evita a concentração de terra no meio rural", afirmou.
Krakhecke, do ministério do Meio Ambiente, defendeu a luta por um novo paradigma para a agricultura brasileira com a construção de outro modelo diferente de vida. Segundo ele, o aquecimento global que é a ponta mais visível da crise ambiental em escala planetária é uma prova viva que ela precisa ser enfrentada. E que o atual sistema de produção e consumo em escala planetária não se sustenta mais.
MÓDULOS – O secretário Rasca Rodrigues defendeu a construção e consolidação de uma ampla rede de articulação na América Latina em torno de questões fundamentais do desenvolvimento rural, notadamente aquelas que mais afligem a agricultura familiar. Rodrigues falou das importantes ações que vem sendo desenvolvidas pela secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, que irão contribuir durante o evento.
"É muito importante que possamos estudar e trocar experiências sobre agroecologia. Aqui no Paraná é isso que realmente estamos proporcionando aos agricultores do Estado. Devemos buscar possibilidades por cultivos cada vez mais ecologicamente corretos", ressaltou.
O secretário Rasca Rodrigues, explicou ainda que os projetos apresentados nos congressos brasileiro e latino-americano de agroecologia são soluções inteligentes, que permitem a geração de renda para o agricultor a custo baixo, mas que também protegem o meio ambiente.
RESULTADOS – Entre as ações apresentadas pela Secretaria estão os resultados alcançados na construção de 69 módulos agroecológicos, por meio do Projeto Paraná Biodiversidade, que atendem a mil famílias de agricultores das regiões dos corredores de biodiversidade: Araucária, Iguaçu-Paraná e Cauiá-Ilha Grande.
A proposta dos módulos é converter a agricultura tradicional por sistemas produtivos que dê baixo impacto à fauna e à flora local. O trabalho inclui, por exemplo, a introdução de espécies nativas de plantas para auxiliar no controle de pragas. Nos módulos, técnicos da Emater, Secretaria da Agricultura, Secretaria do Meio Ambiente e Instituto Ambiental do Paraná capacitam agricultores, professores, líderes locais e universitários, para disseminar as técnicas agroecológicas.
Segundo Rasca, atualmente todos os agricultores que vivem no entorno dos corredores de biodiversidade estão aptos a produzir alimentos utilizando técnicas agrícolas de menor impacto ao meio ambiente.
O grande desafio dos congressos para consolidar sua prática será a discussão de vários temas importantes para a sociedade que é a discussão de um mundo melhor. O objetivo é gravar a forte diferença entre a agroeconomia que visa o lucro dos agricultores e da agroecologia que propõe apenas benefícios para o produtor.
11.11.09
Congressos brasileiro e latino-americano de agroecologia reúnem mais de 2.500 pessoas
10/11/2009 12:54:53
Arquivos anexados: 1011congressos.doc
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