*Adão Villaverde
A extraordinária notícia de que ingressamos na última fase experimental, que antecede a produção em escala, de um chip destinado ao rastreamento do rebanho bovino brasileiro, necessita ser ressaltada na sua real dimensão e alcance. Este aparente pequeno teste, que permitirá controlar a origem de cada animal com dados confiáveis, ajudando a combater problemas sanitários e contribuindo para qualificar e certificar a cadeia da carne brasileira, para o mercado nacional e exportação, é, sem sombra de dúvidas, um grande salto para o país.
Fruto da realidade concreta do Centro de Excelência em Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec), situado em Porto Alegre, esta iniciativa é a amostra do quanto é importante termos instrumentos para estruturar uma política nacional no campo da microeletrônica. Assim, o papel deste centro de pesquisa, desenvolvimento de circuito integrado, prototipagem e primeira fábrica de semicondutores na América Latina de chips, já dá fortes e decisivos sinais para vertebrar, no país, um novo padrão de relações internacional, não mais subordinado, sobretudo nesta área.
A consolidação do projeto materializa uma visão da sociedade do conhecimento, com a fundamental combinação da pesquisa, do desenvolvimento e da inovação, como condição necessária para uma política industrial de novo tipo. Talvez conferindo ao Estado, como tenho referido quase ad nausean, um caráter estratégico que pode guardar similitude ao que foi o Pólo Petroquímico nos anos 70 para nós. À época iniciando a pioneira produção de polímeros(plásticos); hoje, inserindo o país e região na microeletrônica, setor mais dinâmico da economia mundial e dando um sentido de ressignificação ao RS do ponto de vista industrial, ao mesmo tempo que projeta um sentido de futuro às gerações que nos seguirão. Tudo isto concorrendo para darmos passos largos na superação da condição de meros importadores de tecnologia e exportadores de inteligência e matéria prima. Afirmando nossa autonomia científico-técnica, repatriando nossas inteligências e, ao mesmo tempo,recuperando a noção de que é imprescindível atualizar o conceito de estado-nação, só que agora de forma altiva, soberana e independente.
*Professor, engenheiro. dep. Estadual PT/RS e ex-secretário estadual de C&T e Planejamento.
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