Por que a mídia privada não consegue ver o FSM?
A mídia mercantil é um caso perdido para a compreensão do mundo contemporâneo. Não por acaso a crise atual a afeta diretamente. Não tardará para que comecem as quebras de empresa de jornalismo por aqui também. E eles serão vitimas da sua própria cegueira, aquela que lhes impede de ver os projetos do futuro da humanidade, que passeiam pelas veredas de Belém.
Emir Sader
Mais uma vez a mídia privada não  consegue ver o FSM. Os leitores que dependerem dela ficarão sem saber o que  acontece aqui em Belém. Por que? O que impede uma boa cobertura, se a riqueza de  idéias, a diversidade de presenças, a força dos intercâmbios  como não se  encontra em lugar algum do globo  estão todos aqui? Há jornalistas, algum  espaço é dedicado pela imprensa ao evento, mas o fundamental passa  despercebido.
O fundamental não tem preço  diz um dos lemas melhores do  FSM. Enquanto o neoliberalismo e o seu reino do mercado tentam fazer com que  tudo tenha preço, tudo se venda, tudo se compre, ao estilo shoping-center, o FSM  se opôs desde o seu começo a isso, opondo os direitos de todos ao privilégio de  quem tem poder de compra, incrementando sempre mais as desigualdades.
Um  jornalista da FSP (Força Serra Presidente) se orgulha de ter ido a todos os  Foros de Davos e, consequentemente, a nenhum Forum Social Mundial. A espetacular  marcha de abertura do FSM retratada com belíssimas fotos por Carta Maior, foi  inviabilizada pela mídia mercantil. 
A cobertura se faz com a ótica com  que essa imprensa se comporta, com os óculos escuros que a impedem de ver a  realidade. O FSM, como tudo, é objeto das fofocas sobre eventuais desgastes do  governo Lula  a obsessão dessa mídia. Não cobrem o dia do Forum PanAmazônico,  não deram uma linha sobre o Forum da Mídia Alternativa, não ouvem os palestinos,  nem os africanos ou os mexicanos. Nada lhes interessa. No máximo aguardam para  ver se Brad Pitt e Angelina Jolie vão vir.
Seu estilo e sua ótica está  feita para Davos, para executivos, ex-ministros de economia. Lamenta a imprensa  que a América Latina, a África e a China estejam tão pouco representados em  Davos. Mas o que teriam a fazer por lá? Não se perguntam, nem querem saber. Seus  jornalistas não são orientados senão para seguir os passos de Lula e seus  ministros.
Temas como os diagnósticos da crise e as alternativas, a  guerra e as alternativas de paz, as propostas de desenvolvimento sustentável   fundamentais no FSM  estão fora da pauta. Nem falar da crise da própria mídia  tradicional e das propostas de construção de mídias públicas e  democráticas.
A mídia mercantil é um caso perdido para a compreensão do  mundo contemporâneo. Não por acaso a crise atual a afeta diretamente. Não  tardará para que comecem as quebras de empresa de jornalismo por aqui também. E  eles serão vitimas da sua própria cegueira, aquela que lhes impede de ver os  projetos do futuro da humanidade, que passeiam pelas veredas de  Belém.
Fotos: Eduardo Seidl
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