Como PT e PSDB diferem
Nos últimos anos, o Brasil vem tendo que aturar a propagação de uma mentira descarada, mentira que choca mais por ter sido sustentada por tanto tempo a despeito de ser tão claramente evidente. Refiro-me à afirmação de que o governo do PT é mera continuação do governo do PSDB, de que as políticas dos dois partidos são as mesmas.
Há anos que venho apontando as diferenças cruciais que há entre as formas dos dois partidos de governar. Agora, a crise econômica começa a deixar mais claras essas diferenças.
Escrevi várias vezes aqui sobre a política externa, a diplomacia, os investimentos sociais exponencialmente mais robustos do governo petista, mas é a antiqüíssima e histórica pregação do PT de criar um mercado de consumo de massas no Brasil que foi cumprida à risca por este governo enquanto a direita tucano-pefelê-midiática ficava batendo na tecla do continuísmo.
Os investimentos num programa como o Bolsa Família, por exemplo, deram início àquele mercado de massas. Não faltam estudos acadêmicos que mostram como este governo fez dezenas de milhões de brasileiros, que só consumiam alimentos, passarem a consumir de tudo, de roupas a eletrodomésticos.
E não foi necessário quebrar muito a cabeça para criar esse mercado interno que está sustentando o país em meio à quebradeira mundial que tornou o mercado externo muito mais difícil de ser disputado. Bastou transformar os programas sociais cosméticos da era FHC em verdadeiros programas sociais. Como? Simplesmente investindo pesadamente neles.
Mas foi quando o mundo entrou em crise que as diferenças entre as visões petistas e tucanas se tornaram escandalosamente evidentes. Quem de vocês viu, alguma vez, um governo estimular as pessoas a consumirem para "fazer a roda da economia girar"? No passado, quando havia crise, o Estado pregava que o povo não gastasse, que o próprio Estado "economizasse".
Excluindo o evidente conluio que havia entre o Estado brasileiro e seus credores internos e externos, um arreglo que fazia o primeiro economizar recursos para pagar os segundos, o que gerava a parte honesta daquele ideário era a visão conservadora e neoliberal.
Com o mundo em recessão, os países terão que se voltar para seus mercados internos mais do que nunca. Não é à toa que todas as grandes potências econômicas estão despejando centenas de bilhões de dólares nos seus mercados internos, reduzindo juros, incentivando o consumo. Tardiamente, estão fazendo o que o Brasil já vinha fazendo há anos.
Apesar da conversa fiada de que o governo Lula estimula a ciranda financeira com juros altos, compare-se a taxa de juros média dos anos FHC, Itamar, Collor ou Sarney com a taxa dos anos Lula e veremos que ela nunca foi tão baixa. O governo tucano chegou a elevar a Selic a quase 50% por conta de crises que, perto desta, não passavam de marolinhas.
A aprovação de Lula disparou com a chegada da crise porque o brasileiro está perplexo ao ver até peças publicitárias do governo e o próprio titular desse governo estimulando as pessoas a consumirem, a realizarem sonhos, obviamente que com responsabilidade. Aquela velha pregação dos governos de direita para as pessoas se retraírem diante de crises, deu lugar ao seu oposto.
Essa diferença de visões entre o PT e o PSDB, porém, atingiu ontem (sexta-feira) seu ponto mais visível.
Vários prefeitos conservadores que assumiram ou que reassumiram seus cargos no primeiro dia de 2009, já saíram declarando que, por conta da crise, cortarão investimentos, paralisarão projetos etc. O bibelô número dois da direita (o primeiro, é o governador José Serra), o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, saiu pregando a retração do Estado diante da crise e anunciando "economia". Aludiu, inclusive, à fábula da cigarra e a formiga.
No âmbito da liderança magnífica que Lula vem exercendo desde que a crise se implantou de vez no mundo e começou a forçar a porta do Brasil, o presidente criticou duramente as declarações dos prefeitos conservadores dizendo que não é hora de economizar, mas de investir mais para o país não parar.
Outra diferença gritante evidenciou-se quando o governo José Serra, em coro com o presidente da Vale do Rio Doce, propôs "suspensão de direitos trabalhistas". Lula, mais uma vez, criticou os empresários que não dividiram lucros exorbitantes que auferiram até a materialização de uma crise que já vinha minando o mundo há mais de um ano, mas que agora querem dividir prejuízos que nem tiveram só porque estão dizendo que poderão tê-los.
Ora, como eu poderia deixar de comemorar essa mudança escandalosamente evidente de visão do Estado brasileiro? Justo eu, que desde sempre preguei que não seria através da recessão que se consertaria a economia, mas fazendo justamente o contrário...
Quem tiver um pingo de honestidade intelectual, terá que concordar comigo que o governo do PT – ou, pelo menos, ESTE governo do PT – é a antítese de todos os outros governos que este país teve nas últimas quatro décadas. E é por isso, e só por isso, que o país está resistindo à maior crise que o mundo já viu nos últimos oitenta anos.
É preciso que todos saibam que este país não pode, de maneira nenhuma, voltar às mãos da direita neoliberal. Se essa tragédia ocorrer, como diz o presidente Lula o Brasil perderá o bonde da história. Um bonde que poderá demorar décadas a passar de novo.
Escrito por Eduardo Guimarães
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