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pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

29.12.09

A década da América Latina



26/12/2009

A década de 1990 foi das piores que a América Latina já viveu. A crise da dívida – com suas conseqüências: FMI, cartas de intenção, ajustes fiscais, etc. – e as ditaduras militares abriram o caminho para que se impusessem governos neoliberais em praticamente todo o continente. Passamos a ser a região do mundo com a maior quantidade de governos neoliberais e com suas modalidades mais radicais.

A capacidade de reação da América Latina se revelou na sua capacidade de reverter radicalmente esse quadro: passamos a ser a região que concentra aos governos eleitos pela rejeição do neoliberalismo, que abriga processos de integração regional independentemente dos EUA, que promove formas inovadoras de integração fora da lógica mercantil.

Lideres latinoamericanos como Lula, Hugo Chavez, Evo Morales, Rafael Correa, entre outros, se projetaram internacionalmente, por sua capacidade de encarnar as necessidades dos seus povos. A Bolívia, o Equador e a Venezuela se somaram a Cuba, com os países que - conforme a Unesco - , terminaram com o analfabetismo.

Os países que optaram pela integração regional e não por Tratados de Livre Comércio, expandiram suas economias, distribuíram renda, avançaram nos direitos sociais da sua população, extenderam notavelmente o mercado interno de consumo popular, diversificaram seu comércio exterior, aumentaram significativamente o comércio entre eles.

Na década anterior, a América Latina havia sido reduzida à intranscendência. Governantes subalternos – Menem, Fujimori, FHC, Carlos Andrés Perez, Carlos Salinas de Gortari – tinham aplicado mecanicamente o mesmo modelo neoliberal, enfraquecido o Estado, a soberania, as economias nacionais. Os governos dos países que assumiram os programas neoliberais não incomodavam ninguém, havia reduzido nossos Estados a subseqüentes perdedores da globalização, que a aplaudiam, às custas da deteriorização ainda maior da situação dos povos dos nossos países.

A primeira década do novo século apresenta uma nova América Latina, com a maior quantidade de governos progressistas que o continente jamais teve. Com processos de integração regional fortalecidos – do Mercosul à Alba, do Banco do Sul à Unasul, do Conselho Sulamericano de Segurança ao Parlamento do Mercosul, entre outras iniciativas. Desenvolveu-se a Operação Milagre, que já permitiu recuperar a visão a mais de 2 milhões de pessoas, que de outra maneira não teriam possibilidade de recuperar a vista. Formaram-se novas gerações de médicos pobres na melhor medicina social do mundo – a cubana – nas Escolas Latinoamericanas de Medicina.

As crises econômicas da década anterior, típicas do neoliberalismo, que debilitaram a capacidade de defesa dos Estados nacionais diante do capital especulativo, que promoveu, entre tantas outras crises, as do México de 1994, do Brasil de 1999 e da Argentina de 2001-02, devastaram as economias desses países. O Brasil de FHC deixou um país em recessão prolongada e profunda para Lula, a quem coube superar a crise com políticas de desenvolvimento econômico.

Na década que termina, os países latinoamericanos que participam dos processos de integração regional – com destaque para o Brasil, a Bolívia, o Uruguai, o Equador – superaram a crise, desatada pelos países centrais do capitalismo, que ainda estão em recessão, que deverá se prolongar ainda por um bom tempo. Revelou a capacidade desses países de diversificar seu comércio exterior, de intensificar o comercio intraregional e de seguir expandindo o mercado interno de consumo popular.

A América Latina mostra hoje ao mundo a cara – imposta pela predominância de governos progressistas – de um continente em expansão econômica, afirmando sua soberania – em questões econômicas, políticas e de segurança regional -, melhorando a situação social do povo, consolidando políticas internacionais que intervêm na decisão dos grandes temas mundiais. Foi, sem dúvida, esta primeira década do novo século, a década da América Latina, que se projeta para a segunda década como um dos exemplos de luta na superação do neoliberalismo e de construção de sociedades mais justas e solidárias.

Postado por Emir Sader às 07:49

http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=389


Brasil 2009-2010



18/12/2009

Brasil 2009-2010

O ano, no Brasil, foi marcado pelas conseqüências da crise que chegou até nós na segunda metade do ano passado, e pela recuperação da economia, diante da forte ação do Estado, que induziu o consumo interno, dando continuidade às políticas de redistribuição de renda, com fortes efeitos sobre a demanda interna, e pela continuidade da demanda de importações chinesa.

Duas grandes novidades foram trazidas pela crise e a forma de sua superação: pela primeira vez nossa economia supera uma crise internacional, sem que a economia do centro do capitalismo – EUA, UE, Japão – tenha se recuperado, revelando a força dos intercâmbios do sul do mundo e o grau de diversificação do comércio exterior brasileiro. Em segundo, pela primeira vez, também, os pobres não arcaram com o ônus mais duro da crise: houve manutenção das políticas redistributivas, elevação real dos salários, continuidade da expansão do emprego formal, das políticas sociais.

Isso fez com que a popularidade do governo Lula tivesse uma pequena oscilação no transcurso da crise, mas se recuperasse espetacularmente de forma muito rápida depois e se consolidasse. É uma das referências políticas centrais, dado que logo depois das eleições municipais de fim de 2008, praticamente se abriu a conjuntura política das eleições gerais de 2010.

Praticamente tudo o que aconteceu no país foi sobredeterminado pela polarização governo-oposição, com as respectivas candidaturas ou pré-candidaturas. A oposição passa apenas com a candidatura do Serra, com continuidade de apoio nas pesquisas – mas já agora abaixo dos 40% -, um índice alto, embora com tendência declinante.

A desistência de Aécio e o programa do PT fizeram com que a campanha, já no fim de 2009, se anuncie como uma campanha plebiscitária em torno do governo Lula. Aécio é quem dizia que "não seria o candidato anti-Lula, mas pós-Lula", indicando o incômodo de se enfrentar ao governo. Serra diz que vai enfrentar a Dilma e não a Lula – considerando que fosse possível fazer essa dissociação -, com quem trataria de se medir como trajetória política – considerando que a sua poderia aparecer como melhor do que a de Dilma.

A saída de Aécio confirma também a polarização partidária, que anunciava que poderia romper, ganhando a setores a base governista. O jogo do PMDB foi e continua sendo o de valorizar seu passe, tentar sentir se Dilma aponta para ultrapasar a Serra, mas confiante que a indicação do vice lhe garante o lugar de sempre na base governista.

O resto do campo eleitoral não deve ganhar relevância a ponto de evitar a bipolaridade. Se esgotou o impulso de crítica ao PT que a candidatura de HH explorou, a falta de entendimento com Marina impede somar forças, fazendo com esta e Plínio provavelmente sejam candidatos, tirando força de ambos. Marina já mostrou os limites do seu impulso, aceitando um lugar intranscendente e confirmando os limites do discurso verde, seja para polarizar apoios, seja para constituir, a partir dele, um discurso que seja suficientemente abrangente para disputar apoio mais alem de camadas médias urbanas, mostrando-se impotente diante do extenso voto popular que sustenta o apoio a Lula.

A oposição conta com campanha despolitizada, de marketing, em que as imagens dos candidatos predominem. O governo, com a retomada da polarização do segundo turno de 2006. 2010 será assim não apenas uma disputa eleitoral, mas de dois projetos de país: o de que Serra tenta esconder – sem revelar, por exemplo, sua equipe econômica, de política exterior e de políticas sociais, três temas de ruptura do governo Lula em relação ao de FHC -, e o de aprofundamento das transformações em curso, que Dilma deve encarar. Quem considera que o governo FHC e Lula foram iguais, não entende nada do quadro político atual do país, preferindo olhar da janela a banda passar, quando a fisionomia do Brasil na primeira metade do século estará em jogo em 2010.

Postado por Emir Sader às 04:39


24.12.09

Natal

José Antonio Somensi (Zeca)
 
Dizem alguns historiadores que Ele nasceu em Belém e colocado numa manjedoura, outros que nasceu mesmo em Nazaré. Uns falam em presépio, outros em estábulo, alguns em gruta. Escrevem dizendo que não foi recebido nem pelos parentes, mas aconchegado pelo calor dos pastores, pessoas consideradas impuras daquele tempo, sem valor, os 'outros', aqueles que 'não eram gente de bem'. Reconhecido como sacerdote, Deus e profeta por sábios que após a visita ousaram fazer outro caminho, caminho que não os levassem ao império do mal, da dominação, da morte. A vinda deste menino chamou-se Natal e hoje quando é Natal?

É Natal quando as mulheres prestes a dar a luz fazem romarias entre hospitais e postos de saúde em busca de ajuda? É quando tocados por um sentimento de pena arriscamos a doar cestas básicas a famílias carentes? É quando nos deparamos com famílias acampadas à beira da estrada debaixo de lonas plásticas e definimos como um bando de vagabundos? É a grande festa familiar resumida à comilança e bebedeira? É o pinheiro enfeitado de luzes e ornamentos que lembra um país qualquer do norte? É amigo oculto em ambiente onde as pessoas nem se cumprimentam?

Se o descrito acima é Natal fico então com o escritor Gabriel Garcia Marques que os define como Natais sinistros e portanto recuso-me a apresentá-lo. Não digo com isso que não devamos nos reunir, festejar, desde que não troquemos o aniversariante – Deus menino – pelo bonachão papai Noel porque este Deus menino nos convida a transformar estes natais sinistros em vida plena, respeito, fraternidade não uma mera festa consumista.

Sejamos pois como os pastores que foram com sua 'impureza' levar a notícia e com isso desafiar os 'homens de bem', como os magos que após visitar o Deus menino fizeram um novo caminho.

Anunciemos pois que 'hoje nasceu para nós um Salvador, que é Cristo, o Senhor! Ao desejar Feliz Natal desejo também um grande compromisso com as pessoas, com a natureza, com a vida e que em 2010 possamos continuar acreditando na esperança que nos faz capaz de sermos protagonistas de nossa história.

23.12.09

A FRASE DO ANO

Se o clima fosse um banco eles já o teriam salvo!
(Hugo Chávez, presidente da Venezuela, sobre a reunião de Copenhague)

Assista vídeo UM GRITO PELOS DIREITOS - dos freis dominicanos que atuam na luta pela terra e contra trabalho escravo no brasil

Vídeo de 19 mn "Um grito pelos direitos".
 

Noticias do grande capital no Brasi l- Jornal valor economico 22 de dez09

O CAPITAL SEGUE  SUA LOGICA:
Acumulando, concentrando, centralizando e desnacionalizando, tambem na agricultura brasileira.
 
1. O movimento da rede Walmart.
 
O grupo WALMART  anunciou de que investirá um bilhao de dolares, em 2010, no Brasil.   Segundo declarações do seu presidente para america latina, Hector Nunez, o Brasil e a america latina serão a prioridade do grupo na estrategia de controlar o comercio varejista da regiao.
O grupo ja lidera o comercio no Mexico e no Chile.   E vai buscar essa liderança tambem no Brasil.
Em 2004 o grupo comprou a rede brasileira BOMPREÇO.
Emm 2005 comprou a rede brasileira SONAE.  Hoje a rede controla 435 lojas em todo país e as entidades marcas brasileiras, como: Bompreço, Tododia, Nacional, Mercadorama, Maxxi atacado, Hiper Bompreço, BIG e Mercadorama, alem é clara da sua marca Walmart.
 
Com esses investimentos a empresa espera comeptir com o outro grupo Pão-de-açucar que se asso ciou a capital estrangeiro (portugues e espanhol) e comprou em 2009, a rede Ponto frio e recentemente a rede das Casas Bahia.
 
Com os investimentos da Walmart previstos para 2010, a empresa espera abrir ou comprar mais 110 lojas em todo país.
 
2.TAM COMPRA A PANTANAL
 
A empresa aerea TAM  anunciou de que adquiriu 100% das ações da empresa aerea PANTANAL, pelo valor de 13 milhões de reais e assumindo o passivo da empresa.
 
Já a GOL esta de olho e fez oferta para comprar a empresa WEBJET, que ainda nao se concretizou.
 
3. BNDES  ANUNCIA FINANCIAMENTO PARA  GRUPO USINAS  SAO MARTINHO
 
O BNDEs anunciou a liberaçao ainda nesse ano de  288 milhoes de reais para o grupo Usinas são martinho.  O grupo ja possui tres usinas de açúcar e etanol, moendo 13 milhões de toneladas de cana, e com esse financimaneto, vai ampliar a construçao de mais uma Usina em Quirinipolis- Goias.
O grupo manter parceria para venda exclusiva de seu etanol para o grupo Mitsubishi, do Japão, e do açúcar com o grupo estadunidense  Amyris.
 
4.  A CONCENTRAÇÃO DA PRODUÇÃO DO LEITE NO BRASIL
 
Estão em fase adiantadas as negociações entre cinco grandes cooperativas de Leite, para se unificar num unico grupo. São elas: Itambé, com sede em BH; Centroleite, com sede em Goiania, Confepar, com sede em Londrina(PR) Cemil, com sede em Patos de Minas(MG) e Minas leite , com sede em Varginha(MG).  Se o negocio se concretizar, como tudo indica, o grupo vai processar  7,2 milhões de litros de leite por dia e se tornaria o principal grupo leiteiro do país.
 
Desta forma, o mercado do leite no Brasil vai se concentrando cada vez mais.
Já temos  a empresa NESLTE eDPA, (parceria da Nestle com a neozelandesa Fonterra, formando uma nova empresa de join venture: Dairy partners america) e outras compras realizadas no passado  consegue controlar hoje a produção de  5,2 milhões de litros de leite por dia.
 
A empresa Perdigão, com suas aquisições( no ano passado comprou a empresa ELEVA e depois a Cotoches-MG) e associada a parte de capital argentino, processa 4,5 milhões de litros de leite por dia.
E com a recente incorporação com a SADIA, e se transformando em BRASIL FOODS, o grupo se transformou um dos maiores grupos alimenticios do país,  graças ao apoio financeiro do Bndes, que financiou com quase dois bilhoes o processo de fusão.
 
A outra novidade de concentração rapida tem sido a empresa gaucha BOM GOSTO, de tapejara-RS.  desde 2007 para cá, com apoio financeiro do BNDES  a empresa já comprou  sete outros grupos de lacticinios, e  hoje lidera o mercado gaucho com processamente de 4 milhões de litros de leite diários.
 

DU o horror que o Imperialismo espalha por todo planeta

DU, o horror que o imperialismo espalha por todo o planeta

- Do DU não falam eles, os politiqueiros & os media que se arrogam serem "referência"
- Intoxicam-nos com a treta do inofensivo CO2 mas silenciam o crime real
- Organizações que se dizem ecologistas, como a Quercus e quejandas, são coniventes nesse silenciamento
- O DU é venenoso e tem efeitos teratogénicos – em Faluja nascem bebês deformados
- A semi-vida do DU é de milhões de anos
- As armas tóxicas do imperialismo ameaçam exterminar a humanidade
- As agressões ao Iraque, Jugoslávia e Afeganistão não afetam apenas esses povos

por David Randall

Em Setembro deste ano nasceram 170 crianças no Hospital Geral de Faluja, 24 por cento das quais morreram na primeira semana. Três quartos dessas crianças apresentavam deformações, incluindo "crianças nascidas com duas cabeças, sem cabeça, um só olho na testa, ou sem membros". Os dados comparativos com Agosto de 2002 – antes da invasão – registam 530 nascimentos, dos quais morreram seis e apenas um apresentava deformações.

Os dados – contidos numa carta enviada no mês passado às Nações Unidas por um grupo de médicos e activistas britânicos e iraquianos – anteciparam-se às alegações feitas num relatório, publicado no The Guardian de ontem, de que tem havido na cidade um forte aumento de defeitos à nascença. O jornal citava o director e especialista sénior do Hospital Geral de Faluja, Dr Ayman Qais, que afirmou: "Estamos a observar um aumento significativo de anomalias do sistema nervoso central… Há também um aumento muito pronunciado do número de casos de tumores cerebrais". Ainda este ano a Sky News noticiou que um coveiro de Faluja afirmara que, entre os quatro ou cinco recém-nascidos que enterra todos os dias, a maior parte apresenta deformações.

A carta dos activistas às Nações Unidas requer que seja feita uma investigação independente "aos materiais tóxicos utilizados pelas forças de ocupação, incluindo o urânio empobrecido e o fósforo", e um inquérito destinado a investigar os crimes de guerra praticados.

O urânio empobrecido e o fósforo branco são a principal, ou mesmo a única, causa dos defeitos nos nascituros. O fósforo branco, que os militares americanos reconheceram ter sido utilizado contra os insurgentes em Faluja, cidade que tem uma alta densidade de população, tem uma longa história de utilização militar, que remonta à Primeira Guerra Mundial.

E embora não haja nenhum estudo científico que tenha provado uma relação causal entre o urânio empobrecido e graves problemas médicos [1] – e há até alguns estudos que parece provarem o contrário – a situação não é nada clara. Desde a primeira Guerra do Golfo que o seu uso tem sido relacionado com cancros entre as tropas que regressam a casa.

O QUE É O URÂNIO EMPOBRECIDO?

O Urânio Empobrecido, ou DU (Depleted Uranium), é um resíduo da indústria nuclear. Produz-se uma grande quantidade deste resíduo quando o urânio natural é enriquecido para utilização em reactores e armas nucleares. Nos processos nucleares, tais como reactores e armamento, apenas se pode utilizar o isótopo U-235 do urânio. Como a maior parte deste isótopo é extraído do urânio que existe na forma natural, o urânio restante contém U-238 e quantidades mais pequenas de U-235 e U-234 muito mais radioactivos. O DU é tóxico simultaneamente do ponto de vista químico e radiológico. É este produto final, o que sobra do urânio, que contém principalmente U-238, que tem sido utilizado para fabricar armas de urânio "empobrecido". É utilizado para armamento porque o exército considera que este metal pesado e denso é um excelente perfurador de blindados, de tanques e até mesmo de edifícios do inimigo.

Grande parte do DU armazenado nos Estados Unidos tem sido contaminada com combustível nuclear utilizado e reciclado de reactores nucleares. Por exemplo, encontraram-se quantidades de U-236 e de substâncias altamente radioactivas, tais como plutónio, neptúnio e ternécio numa bomba anti-tanque de DU utilizada no Kosovo. Centenas de milhares de toneladas deste stock contaminado foram exportadas para o Reino Unido, para França e para outros países nos anos 90. Ainda não se sabe nem foi revelado até que ponto este DU foi contaminado com combustível utilizado e reciclado.

Os governos têm ignorado amplamente os graves perigos que este combustível reciclado apresenta. Uma defesa vulgar utilizada pelos governos britânico e americano e pelas suas forças armadas é afirmar que o urânio empobrecido é menos radioactivo do que o urânio natural e, portanto, não apresenta perigo para a saúde humana. Mas esta afirmação é mistificadora. Na sua forma natural o urânio está presente no nosso ambiente em quantidades muito pequenas nos minérios, por exemplo nas rochas e no solo. Ao invés, o DU utilizado pelos militares é concentrado em comparação com as quantidades presentes no ambiente e, portanto, é muitas vezes mais radioactivo do que o minério de urânio.

Em Maio de 2003, Scott Peterson, colaborador do jornal americano CSM, examinou os níveis radioactivos após o lançamento de projécteis DU em Bagdad e concluiu que as leituras do contador Geiger eram 1900 mais elevadas do que os níveis de radiação no ambiente. Quando o urânio natural está concentrado numa forma semelhante ao do urânio "empobrecido" emite cerca de mais 40% de radiações alfa, mais 15% de radiações gama e cerca do mesmo nível de radiações beta. A toxicidade química do urânio não depende do isótopo e, portanto, o urânio enriquecido, o 'normal' e o empobrecido são igualmente tóxicos do ponto de vista químico.

É extremamente difícil e dispendioso para a indústria nuclear armazenar o DU. Pensa-se que os EUA têm actualmente mil milhões de toneladas de resíduos radioactivos de urânio empobrecido, enquanto o Reino Unido tem pelo menos 50 mil toneladas. Este resíduo é guardado em cilindros em muitos locais por todos os EUA e Reino Unido e é vulnerável à corrosão e a fugas devido ao envelhecimento dos cilindros e ao armazenamento ao ar livre. É guardado principalmente sob a forma de hexafluorido de urânio empobrecido (DUF6) que pode gotejar se os cilindros corroídos abrirem um buraco. Há notícias de pelo menos 10 cilindros terem aberto brechas nos últimos 10 anos.

Transformar este desperdício de DU em armas resolve parte do problema que o governo e a indústria nuclear enfrentam, no que se refere ao que fazer com estes stocks enormes. Não só o DU é praticamente de graça para os fabricantes de armas, como deixa de ter que ser armazenado e vigiado indefinidamente.

OS EFEITOS PARA A SAÚDE DO URÂNIO EMPOBRECIDO

O urânio empobrecido é um risco para a saúde, quer como metal pesado tóxico quer como substância radioactiva. Os governos do Reino Unido e dos EUA há muito que tentam esconder estes riscos. Embora, já no fim de 2003, o governo do Reino Unido tenha andado a afirmar que o DU não apresentava perigo nem para soldados nem para civis, as provas acumuladas e alarmantes de cientistas, soldados e activistas forçaram-no a recuar e a reconhecer os riscos existentes. Mas o que é nítido a partir da leitura de todos os principais estudos é que é necessário que se faça urgentemente mais investigação. Existe muito pouca investigação sobre os efeitos da contaminação pelo urânio nos seres humanos e nunca foram feitos testes rigorosos para averiguar as doses de exposição da utilização militar do DU.

Há três vias principais através das quais ocorre a exposição ao DU no campo de batalha: a inalação, a ingestão e os ferimentos. Quando um penetrante DU atinge o seu alvo, parte do DU da arma reage com o ar no fogo que se segue e transforma-se numa poeira fina (chamada habitualmente 'aerosol') que facilita a inalação e ingestão para os que se encontram nessa área. Mesmo depois de a poeira assentar, mantém-se o perigo de que possa voltar a ficar em suspensão posteriormente através de outras actividades ou devido ao vento, e volte a ser uma ameaça para civis e outros durante muitos anos daí em diante. Já foi noticiado que partículas de DU viajaram 40 km impelidas pelo vento. Os ferimentos abertos também constituem uma porta de entrada de DU no corpo e alguns veteranos têm fragmentos de DU dentro do corpo, vestígios dos combates.

A poeira de DU inalada instala-se no nariz, na boca, nos pulmões, nas vias respiratórias e no tubo digestivo. Quando um penetrante de DU atinge o seu alvo, as altas temperaturas provocadas pelo impacto fazem com que as partículas de poeira de DU fiquem vidradas e portanto insolúveis na água. Isto significa que, ao contrário de outras formas mais solúveis de urânio, o DU se manterá no corpo durante períodos de tempo muito maiores. Este aspecto da toxicologia do urânio tem sido frequentemente ignorado nos estudos dos efeitos do DU sobre a saúde, estudos que se baseiam nas taxas de excreção do urânio solúvel. A poeira de DU pode manter-se nos tecidos quentes e húmidos dos pulmões e de outros órgãos, como os rins, durante muitos anos. Também se deposita nos ossos onde pode ficar durante mais de 25 anos. Isto permite explicar porque é que os estudos dos veteranos da Guerra do Golfo chegaram à conclusão de que os soldados continuam a expelir DU na urina 12 anos após o conflito de 1991. O DU ingerido pode ser incorporado nos ossos e daí irradiar para a medula óssea, aumentando o risco de leucemia e de um sistema imunitário enfraquecido.

A exposição externa ao DU significa exposição às radiações alfa, beta e gama. Embora a pele bloqueie as partículas alfa, as radiações beta e gama podem penetrar para lá das camadas de pele morta exterior e danificar os tecidos vivos. As partículas beta podem penetrar até uma profundidade de 2 cm, enquanto que as radiações gama (através de um processo chamado "o efeito de Compton") geram radiações de partículas beta ao longo da sua trajectória através do corpo. A exposição externa às radiações alfa também não é inofensiva. As cataratas, por exemplo, podem ser causadas pela exposição às radiações alfa.

No interior do corpo, o DU apresenta uma série de riscos para a saúde em diferentes órgãos. Os rins são o primeiro órgão a ser prejudicado pelo DU. Numa dose alta, os níveis de urânio nos rins podem levar à falência dos rins em poucos dias após a exposição. Doses mais baixas levam a disfunções dos rins e podem constituir um risco acrescido de doenças de rins a longo prazo.

Enquanto emissor radioactivo, o DU também constitui um risco para os pulmões. Tradicionalmente, a dosimetria de radiações mede o grau de dano calculando as radiações externas absorvidas pelos tecidos: a chamada dose "absorvida". Mas, como a poeira do DU é inalada ou ingerida, pode manter-se nos tecidos do corpo e emitir radiações intensas durante um período mais longo. Desta forma pode provocar uma grande quantidade de danos numa área relativamente pequena, alterando os códigos genéticos de uma pessoa e provocando cancros. Por causa disso, os soldados e civis expostos ao DU arriscam-se a contrair cancros, especialmente se forem fumadores, dado que os seus pulmões já se encontram irritados.

Estão a aparecer muitas novas provas acerca dos riscos das chamadas radiações de 'baixo nível' e dos danos que podem provocar no ADN. Ultimamente têm-se acumulado provas consideráveis sobre os efeitos 'testemunha', que demonstram que as células irradiadas transmitem os danos às células saudáveis vizinhas. Desta forma pensa-se que as radiações de baixo nível podem provocar danos muito maiores do que seria de esperar. Alguns estudos também têm demonstrado que as células irradiadas transmitem aberrações cromossómicas à sua prole, de modo que células não irradiadas durante várias gerações, ou divisões posteriores de células, podem vir a apresentar esta instabilidade genómica induzida pelas radiações.

Novos indícios também sugerem que a toxicidade química do DU e da sua radioactividade se reforça mutuamente num efeito chamado 'sinergético', o que significa que 'reforça o seu próprio poder' em termos dos danos que pode provocar às células. Alexandra Miller do Instituto Americano de Investigação de Radiobiologia das Forças Armadas dos EUA, num estudo de 2003, chegou à conclusão de que, quando as células ósseas humanas são expostas ao DU, separam-se fragmentos dos cromossomas que formam pequenos anéis de material genético. Este dano foi observado em células novas mais de um mês depois da remoção do DU, provocando um aumento de oito vezes nos danos genéticos em relação ao que era esperado.

Não é apenas em termos de risco acrescido de cancro que os danos do DU sobre o ADN podem afectar a saúde. Também é responsável por causar um sistema imunitário deficitário, problemas de reprodução e defeitos à nascença. Por exemplo, um estudo de veteranos americanos da Guerra do Golfo chegou à conclusão de que estes têm três vezes mais probabilidades de ter filhos com deformações à nascença do que os pais que não foram combatentes; e que as gravidezes terminam em taxas significativamente mais altas de aborto. Um importante estudo de 2004, da Escola de Londres de Higiene e Medicina Tropical, financiado pelo Ministério da Defesa, chegou à conclusão de que os bebés cujos pais prestaram serviço na primeira Guerra do Golfo têm mais 50% de probabilidades de ter anomalias físicas. Também encontraram um risco acrescido de 40 por cento de aborto nas mulheres cujos companheiros prestaram serviço no Golfo.

Em Bassorá, no sul do Iraque, têm aparecido notícias chocantes há uma série de anos sobre o aumento nesse local de cancros infantis e de deformações de nascimento ali observadas. As descobertas de um importante epidemiologista iraquiano, Dr. Alim Yacoub foram apresentadas em Nova Iorque em Junho de 2003 e mostram que tem havido um aumento de mais de cinco vezes em malformações congénitas e de quatro vezes mais das taxas de incidência de doenças malignas em Bassorá.

O Dutch
Journal of Medical Science noticiou as conclusões do oftalmologista holandês, Edward De Sutter. Este encontrou, em 4000 nascimentos no Iraque, 20 casos de bebés com o fenómeno anoftalmo: bebés que nasceram apenas com um olho ou a quem faltavam os dois olhos. Esta situação muito rara afecta normalmente apenas 1 em 50 milhões de nascimentos.

Os efeitos prejudiciais para a saúde que as armas de DU apresentam são especialmente preocupantes por causa da probabilidade de os civis ficarem expostos após o término dos conflitos. As crianças principalmente estão em risco porque brincam com terra contaminada que por vezes ingerem e a maior parte dos riscos para a saúde constituem um perigo especial para as crianças mais pequenas.

CONTAMINAÇÃO AMBIENTAL POR DU

A libertação de DU no ambiente pode poluir a terra e a água durante as próximas décadas [2] . O perigo não se limita às suas emissões no campo de batalha mas expõe as gerações actuais e futuras de civis a alimentos e abastecimento de água contaminados. Também é de prever que as emissões deste tipo no ambiente tenham efeitos negativos na vida das plantas e dos animais embora pouco se saiba quanto a isso.

A poeira de DU no ambiente pode voltar a ficar em suspensão no ar através das condições do tempo e da actividade humana, tais como a agricultura. Constitui uma preocupação especial o facto de as crianças serem particularmente vulneráveis a sofrer exposições significativas quando brincam em locais e ingerem terra contaminada através da sua típica actividade de levar tudo à boca.

O DU também pode contaminar o solo através da corrosão do projéctil original. Pensa-se que cerca de 70 a 80% de todos os projécteis de DU utilizados no Golfo e nos Balcãs se mantêm enterrados no solo. Um estudo do Programa do Ambiente das Nações Unidas na primavera de 2002 chegou à conclusão de que os projécteis recuperados tinham reduzido de massa em 10 a 15%. A corrosão pode canalizar o urânio para as águas subterrâneas, de onde pode viajar até aos pontos de abastecimento de água local. O DU no solo também pode entrar na cadeia alimentar visto que é absorvido pelas plantas que ali crescem e pelos animais utilizados para alimentação. Um relatório após os conflitos na Bósnia e na Herzegovina chegaram de facto à conclusão de que o DU também se tinha infiltrado na água subterrânea local. O mesmo estudo chegou à conclusão de que se mantinham focos radioactivos nalguns dos locais estudados. Klaus Toepfer, director executivo da UNEP, disse na altura, "Sete anos depois do conflito, o DU continua a ser motivo de preocupação ambiental e, portanto, é vital que tenhamos os factos científicos, com base nos quais possamos dar recomendações claras sobre como minimizar quaisquer riscos".

Os militares britânicos e americanos demonstraram uma irresponsabilidade extrema ao libertar DU no ambiente, utilizando-o sem a devida monitorização ou sem informação sobre os riscos que apresenta mesmo para os seus próprios países. Em Janeiro de 2003, a Marinha americana reconheceu ter disparado rotineiramente DU dos seus canhões Phalanx em importantes águas de pesca ao largo da costa do estado de Washington desde 1977. No local de testes de Dundrennan na Escócia foram disparadas cerca de 30 toneladas de projécteis de DU para a bacia de Solway. Apenas um foi recuperado, encontrado na rede de um pescador.

Os dois governos foram igualmente insensíveis na sua indiferença em relação aos perigos a longo prazo para os civis dos países em que utilizaram o DU.

O DU E OS MILITARES

O DU é utilizado numa série de aplicações militares. É atractivo para os militares, para os governos e para a indústria nuclear por três razões principais. Primeiro, como já foi mencionado, existe em quantidade e é barato e resolve o problema do armazenamento e da fiscalização. Em segundo lugar, é uma arma de batalha muito eficaz porque a sua alta densidade e qualidades de perfuração lhe permitem penetrar em alvos duros com facilidade. Em terceiro lugar, o DU é pirofórico, o que significa que arde sob impacto, reforçando a sua capacidade de destruir os alvos inimigos. O teste de fogo britânico de DU começou na serra de Eskmeals na Cúmbria no início dos anos 60. Os testes continuam hoje em Dundrennan, na Escócia do Sul, sobretudo antes do ataque ao Iraque em 2003. O DU é utilizado actualmente em dois tipos de munições nas forças armadas britânicas: os projécteis anti-tanque de 120 mm (CHARM 3), que são disparados pelos tanques Challenger do exército e os projécteis de 20 mm usados pelo Sistema de Armamento de Proximidade Phalanx da Royal Navy (um sistema de defesa anti-mísseis). O sistema Phalanx foi desenvolvido pela Marinha americana e é usado pelas Marinhas australiana e britânica. Em 1993, uma fuga de informação de um relatório do Pentágono revelou como a utilização do DU podia levar a riscos acrescidos de cancro: esta fuga levou os fabricantes americanos a mudar para alternativas de tungsténio. Por causa disso a Royal Navy também foi forçada a trocar as suas munições de reposição para o tungsténio, embora ainda tenha stocks de DU.

As forças armadas americanas utilizam o DU principalmente nos seus tanques Abrahams e aviões A10, embora também seja utilizado nos carros de combate Bradley, nos aviões Harrier AV-8B, nos helicópteros Super Cobra e no sistema Phalanx da Marinha. Também é utilizado pelas forças armadas americanas numa série de outras aplicações, incluindo bombas, blindagem de tanques, lastro de aviões e minas anti-pessoais. Embora os militares americanos e britânicos sejam os únicos países que estão devidamente documentados como utilizando armas de DU, sabe-se que estas existem em pelo menos mais dezassete países, incluindo: a Austrália, o Bahrain, a França, a Grécia, Israel, a Jordânia, o Kuwait, o Paquistão, a Rússia, a Arábia Saudita, a Coreia do Sul, Taiwan, a Tailândia, a Turquia e os Emirados Árabes Unidos.

Os testes de armas de DU provocaram uma contaminação considerável nos locais de testes em todo o mundo. Em Dundrennan, na Escócia, por exemplo, um relatório de 2004 do Ministério da Defesa revelou como, desde 1982, mais de 90 bombas erraram o alvo ou funcionaram mal e espalharam fragmentos de DU pelo terreno. Apesar das pesquisas, parte desses fragmentos nunca foram recuperados. São altos os níveis de contaminação nessas áreas, que tiveram que ser isoladas. Em Okinawa no Japão e em Vieques, uma ilha de Porto Rico, os militares americanos utilizaram armas de DU sem as devidas autorizações e sem informarem os respectivos governos ou populações locais. Nos EUA, o exército está a tentar ilibar-se das suas responsabilidades de descontaminar antigos locais de testes, como o de Picatinny Arsenal em Nova Jersey e o de Jefferson Proving Ground na Indiana.

É hoje óbvio que os militares conheciam os riscos do urânio empobrecido mas nunca deram instruções de segurança aos soldados, tanto nas Guerras do Golfo de 1991 como nos conflitos dos Balcãs. Um estudo preparado pelo exército americano em Julho de 1990, um mês antes de o Iraque invadir o Kuwait, diz: "Os riscos para a saúde associados à exposição interna & externa de DU durante as situações de combate são certamente muito menores do que outros riscos relacionados com o combate. Mas, na sequência dos combates, a situação do campo de batalha e os riscos a longo prazo para a saúde de nativos e veteranos de combate podem vir a constituir um problema quanto à aceitabilidade da utilização continuada do DU".

Mais ainda, a fuga de informação em 1993 de um documento do gabinete americano do General Cirurgião do Exército dizia, "Quando os soldados inalam ou ingerem poeira de DU incorrem num possível risco acrescido de cancro… esse acréscimo pode ser quantificado em termos de dias previstos de perda de vida".

O DU NO IRAQUE

A Guerra do Golfo de 1991 assistiu à primeira utilização comprovada de armas de DU. Foram utilizadas nessa guerra cerca de 320 toneladas de DU em armamento, das quais cerca de uma tonelada foi utilizada pelos militares britânicos. Segundo os dados do Departamento de Defesa americano, dezenas ou centenas de milhares de militares americanos podem ter tido exposição ao DU. Tanto o governo americano como o britânico declinaram qualquer responsabilidade pela descontaminação e ambos se recusaram a estudar as taxas de exposição ou os efeitos posteriores desta utilização de DU. Alguns anos depois, começaram a aparecer no Iraque as provas quanto à crescente incidência de cancro e de deformações à nascença no sul do país. Depois de fortes pressões americanas, a Assembleia-Geral da ONU, em Novembro de 2001, derrotou uma proposta iraquiana para que as Nações Unidas estudassem os efeitos do DU ali utilizado.

No ataque de 2003 ao Iraque, os militares americanos e britânicos utilizaram o DU apesar da falta de dados fiáveis sobre os efeitos da sua utilização no Iraque 12 anos antes. O governo britânico reconheceu ter utilizado 1,9 tonelada de DU. Embora isto seja apenas uma leve proporção de todo o DU utilizado no Iraque, é o dobro da quantidade utilizada em 1991. As autoridades americanas ainda não revelaram quanto utilizaram, embora uma fonte inicial do Pentágono tenha revelado que podem existir no Iraque 75 toneladas de DU, provenientes apenas dos aviões A-10.

As implicações para os civis iraquianos são alarmantes. Ao contrário da primeira Guerra do Golfo, que se restringiu principalmente a áreas desertas, grande parte da utilização de DU foi feita em áreas com edifícios, fortemente povoadas. O governo dos EUA recusou-se a qualquer limpeza de DU no Iraque, agarrando-se à afirmação de que não há qualquer relação com doenças, enquanto que o governo britânico reconheceu pela primeira vez que tem essa responsabilidade, mas afirma que ela não está no topo da sua lista de prioridades.

OUTROS PAÍSES CONTAMINADOS POR DU

BÓSNIA 1994-1995


Na Bósnia foram utilizados projécteis de DU pelos aviões americanos A-20, sob os auspícios da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO). Foram utilizados na Bósnia cerca de 10 800 projécteis de DU, ou seja três toneladas. No entanto, a NATO sempre negou que tenha sido utilizado o DU até 2000, seis anos depois dos ataques, até que começaram a aparecer as notícias nos meios de comunicação. Durante todo esse tempo não puderam ser feitas limpezas nem campanhas de sensibilização pública, o que levou a exposições desnecessárias dos civis. O relatório da UNEP, atrás mencionado, e divulgado em Março de 2003, descobriu contaminação por DU na água potável e 'focos' radioactivos. A UNEP recomendou uma monitorização continuada da água potável, a limpeza do DU dos locais, a limpeza de edifícios contaminados e a divulgação pela NATO de todas as coordenadas de ataques com DU.

KOSOVO, JUGOSLÁVIA – 1999

A aviação Americana A-10 disparou cerca de 31 300 projécteis de DU, ou seja nove toneladas de DU em áreas do Kosovo, Sérvia e Montenegro durante a acção da NATO nesses locais em 1999. Um ano depois da guerra foram divulgadas informações parciais sobre a utilização do DU, quando o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, enviou uma carta ao secretário-geral da NATO, Lord George Robertson, requerendo informações. Uma análise num estudo de campo da UNEP, após o conflito, sobre bombas de DU recuperadas, publicado em Março de 2001, chegou à conclusão de que algumas dessas bombas tinham sido feitas com urânio reciclado (ou seja, com urânio que tinha passado por um reactor nuclear) e estavam contaminadas com plutónio. O estudo não encontrou uma contaminação generalizada mas encontrou provas de movimentação de poeira de DU transportada pelo ar. Também encontrou pontos localizados de contaminação concentrada apresentando níveis de U-238 dez mil vezes mais altos do que os níveis normais do ambiente. O estudo recomendava a descontaminação, a remoção de penetradores e a monitorização da água potável. Um outro relatório publicado pela UNEP sobre a contaminação por DU na Sérvia e em Montenegro encontrou "contaminação generalizada por DU, embora de baixo nível, por partículas de DU transportadas pelo ar" e que "havia poeira de DU amplamente dispersa pelo ambiente".

Tal como os relatórios oficiais, têm aparecido provas episódicas abundantes do chamado "síndroma do Balcãs" em soldados deslocados na região e nas populações civis. Os sintomas são semelhantes ao "síndroma da Guerra do Golfo" com elevados níveis de leucemia, doenças do sistema respiratório e do sistema imunitário. Em meados de 2004 morreram 27 soldados italianos com sintomas que se pensa estarem relacionados com a exposição ao DU. Um tribunal de Roma ordenou que o Ministério da Defesa italiano indemnizasse a família de Stefano Melone, um soldado que morreu de um tumor vascular maligno. Segundo o tribunal, a morte de Melone foi "devida à exposição de substâncias radioactivas e cancerígenas" em missões nos Balcãs.

Provocou grande tensão no seio da NATO já que os países membros não foram avisados de que os seus soldados iam entrar em zonas contaminadas por DU.

AFEGANISTÃO 2001- 2004

Há algumas provas de que foi utilizado DU no Afeganistão, embora isso nunca tenha sido confirmado oficialmente. Por exemplo, sabe-se que estiveram activos na região os aviões americanos A-10 e Harrier, que utilizam munições DU. O secretário da Defesa, Donald Rumsfeld disse que os EUA encontraram radioactividade indicando a utilização de DU pelos talibãs ou pela Al-Qaeda.

Regras da Convenção de Genebra (de que os EUA e o Reino Unido são subscritores):

  • A limitação de sofrimento humano desnecessário [Art. 35.2]
  • A limitação de danos ao ambiente [Art. 35.3 e 55.1]
  • É proibido utilizar armas, projécteis e materiais e métodos de guerra de natureza tal que provoquem prejuízos supérfluos ou sofrimento desnecessário [Art. 35.3]
  • É proibido utilizar métodos ou meios de guerra que se destinem, ou dos quais se possa esperar causarem danos generalizados, a longo prazo e graves para o ambiente natural [Art. 35.2]
  • A fim de garantir o respeito e a protecção da população civil e dos objectos civis, as partes em conflito terão sempre que distinguir entre população civil e combatentes e entre objectos civis e objectivos militares e, consequentemente, deverão dirigir as suas operações apenas contra objectivos militares [Art. 48]
  • São proibidos ataques indiscriminados. Ataques indiscriminados são:
    a) os que não são dirigidos contra um objectivo militar específico;
    b) os que utilizem um método ou meio de combate que não possa ser dirigido contra um objectivo militar específico; ou
    c) os que utilizem um método ou meio de combate cujos efeitos não possam ser limitados conforme exigido por este Protocolo; e consequentemente, em cada um destes casos, são de natureza tal que atinjam objectivos militares e civis e objectos civis sem qualquer distinção [Art. 51.4]
  • Deve ter-se o cuidado na guerra de proteger o ambiente natural contra danos generalizados, a longo prazo e graves. Esta protecção inclui a proibição do uso de métodos ou meios de guerra que se destinem ou dos quais se possa esperar causarem esses danos ao ambiente natural e, portanto, prejudicar a saúde ou a sobrevivência da população [Art. 55.1]

07/Dezembro/2009

NR:
[1] A afirmação é falsa. Há numerosos estudos científicos que demonstram essa relação causal
[2] Não se trata apenas de décadas e sim de milhões de anos. Os efeitos são irreversíveis.


Ver também:

·  International Coalition to Ban Uranium Weapons

·  Entrevista de Leuren Moret

·  Bombas sujas, mísseis sujos e balas sujas

·  O urânio e a guerra

·  Uma questão de integridade

·  Afeganistão: O pesadelo nuclear principia

·  O urânio empobrecido retorna aos EUA

O original encontra-se em: http://globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=16442 . Tradução de Margarida Ferreira.



Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

trabalho de migrantes é superexoplorada

 
22.12.09 - BRASIL
Mão de obra de migrantes sul-americanos é explorada em oficinas de costura

São Paulo - Adital -
Entrevista - Daniel Augusto Gaiotto

Daniel Augusto Gaiotto é Procurador do Trabalho na Procuradoria Regional do Trabalho da 2ª Região, em São Paulo, capital paulista. Ocupa atualmente o cargo de representante regional da Coordenadoria Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo do Ministério Público do Trabalho, atuando especificamente na Grande São Paulo e Baixada Santista, no combate ao trabalho degradante ou trabalho análogo ao escravo.

Atualmente, um dos focos principais da sua atuação é a exploração sofrida por migrantes latinos no setor de confecções em algumas regiões da cidade. E foi sobre esse assunto que ele falou à Adital, principalmente sobre o combate que o órgão faz em relação a estes crimes que violam gravemente a dignidade humana. Confira a entrevista.

Adital - Atualmente, muito se fala do trabalho análogo ao escravo ou degradante. Em relação aos migrantes bolivianos em São Paulo, o senhor poderia fazer um breve histórico para percebermos como se chegou ao ponto em que estamos hoje.

Daniel Augusto - Minhas informações são baseadas em fatos práticos e também em dados que vou colhendo. No setor de confecções, sobretudo de roupas femininas, há um ciclo de exploração, pelo menos nos últimos 30 ou 40 anos. Isso em relação às confecções existentes no Brás e no Bom Retiro, as regiões de São Paulo que mais vendem esse tipo de roupa. A pessoa que trabalha na confecção ou nas oficinas de costura, com o tempo vai juntando o seu dinheiro, enriquece e passa a ser dono da oficina. Depois, chega à fase do lojista, progride, sai dessa atividade, e vai exercer outra atividade mais qualificada e rentável, em outro ramo. Isso aconteceu no meio da década de 60 com muitos dos coreanos, que passaram por todas essas fases. Agora, estamos na fase dos bolivianos. Então, existe um ciclo de exploração, em que um sempre vai sendo explorado lá na base. Mas o ciclo de exploração está evoluindo. Evoluindo no sentido figurado, obviamente. Sempre existe aquele grupo que é explorado hoje e vai progredindo, ainda que à custa dos outros e, de forma injusta, ascende na cadeia produtiva. 

Adital - Antes dos coreanos, havia outros grupos? É interessante conhecer esse aspecto, e a área geográfica, talvez, da cidade em que isso mais se identifica.

Daniel Augusto - O Brás e o Bom Retiro são as regiões mais famosas. É um pouco inseguro, contudo, voltar muito atrás e elencar os grupos que primeiramente atuavam por lá. Necessário também ter cautela para evitar rotular um grupo social pela conduta de alguns de seus integrantes. As comunidades predominantes nessas regiões eram de origem síria, libanesa, judaica; os italianos também atuavam, embora em menor número. Atuavam em vários setores do comércio.

Mas, pelos relatos, os coreanos já chegaram a trabalhar como costureiros, depois foram donos de oficinas e de lojas. Na verdade, trabalharam para alguém que, nessa época, já os explorava nas confecções e nas lojas. Devemos ter a atenção de lembrar que estamos analisando o passado com os olhos de hoje, de forma que aquilo que é visto atualmente como degradante, poderia não sofrer tanta rejeição da sociedade naquela realidade. Por isso até, não há registros oficiais de denúncias de exploração de trabalhadores em oficinas de costura naquela época. Estou falando sobre o que aconteceu no passado, com base em informações de pessoas que viveram naquela época, que trabalharam como costureiros, como donos de oficina e, depois, como lojistas.  

Adital - Qual é a dimensão disso? Quantas pessoas estão envolvidas nesse tipo de exploração?

Daniel Augusto - O trabalho nas confecções e nas oficinas de costura é muito pulverizado, o que acaba dificultando o nosso trabalho. Se antigamente era um pouco mais concentrado, poucas oficinas com mais empregados, ultimamente nós temos oficinas funcionando com meia dúzia de pessoas. O número total de trabalhadores envolvidos chega a ser assustador e há uma certa divergência quanto ao número de bolivianos. Muitos estão em situação ainda não regularizada, e continuam chegando. Já ouvi pessoas falando de 50 mil, de 100, 200, 300, 400 mil pessoas aqui na Grande São Paulo. Não tenho dados seguros, mas são muitos.

Adital - E como a Procuradoria age quando recebe alguma denúncia? Como é esta atuação?

Daniel Augusto - Nós recebemos as denúncias, por e-mail ou pessoalmente, sigilosas ou não, que são autuadas e distribuídas para os procuradores. As denúncias também podem ser feitas pelo próprio Procurador ou por outra autoridade. Aberta a investigação, vamos até o estabelecimento do denunciado, com apoio da Polícia Federal. Uma vez constatadas as irregularidades, intimamos o dono e propomos um termo de compromisso para que ele regularize a situação. Obrigações como registrar os empregados, pagar salário em dia, limitar a jornada de trabalho para oito horas, no máximo dez, recolhimento de FGTS e, especialmente, a regularização das condições de trabalho. Isso porque as condições são degradantes, os ambientes úmidos, mal ventilados e pouco iluminados, há risco de incêndio por causa da fiação e do material inflamável. Geralmente, essas oficinas de costura são precárias. Nessa medida, também é preciso fazer  programas de saúde e de prevenção de acidentes dentro da empresa. Ao longo do tempo, os trabalhadores também adquirem doenças do trabalho, pois a atividade é desgastante, ainda mais porque o mobiliário não é ergonômico.

Adital - Desde que começou esse trabalho, quantos grupos ou pessoas foram autuadas? Há quantos bolivianos nas confecções? Eles conseguiram se libertar ou é um rolo compressor tão forte que depois volta?

Daniel Augusto - Não atuamos só em relação às oficinas de costura. É preciso ampliar um pouco o objeto para abranger também quem toma o serviço das oficinas, que classificamos como lojistas ou tomadores. Nas oficinas de costura, sempre são localizados documentos (como notas fiscais) que revelam quem são os lojistas que repassaram os cortes de roupas para serem costurados. Em relação a estes tomadores, estabelecemos que têm de selecionar melhor as oficinas de costura que contratam. Entendemos que são responsáveis pelas condições de trabalho dos costureiros, tanto o dono da oficina de costura como quem o contrata.

Chamamos os lojistas para que se comprometam a selecionar somente as oficinas que estão em situação regular, que tenham um ambiente digno e que mantenham empregados registrados. Mesmo aqui, não há como calcular o número de trabalhadores envolvidos, porque são muitos.

Adital - A partir de quando começaram a chegar as denúncias em relação aos bolivianos?

Daniel Augusto - Eu prefiro colocar os "sul-americanos", porque já constatamos, embora em número bem menor, os paraguaios no setor de confecções de roupas. As denúncias começaram a chegar aqui no final da década de 90. Então a partir dessa época, tivemos uma fase em que diminuíram um pouco as denúncias, mas elas aumentaram consideravelmente nos últimos três meses.

Adital - Uma questão crônica no Brasil é a pouca infraestrutura que às vezes se dispõe para executar uma determinada ação. Seu trabalho dispõe de quais meios, pessoas e instrumentos para executar suas ações? Ou as denúncias são tantas que não conseguem ir atrás de tantas denúncias?

Daniel Augusto - O Ministério Público do Trabalho não atua só com base nas denúncias recebidas. Às vezes, criamos programas e vamos atrás das empresas, quando constatamos a recorrência de um problema. A nossa estrutura não é a ideal, mas, conseguimos bons resultados. Um dos caminhos que seguimos foi  atuar em conjunto com o Ministério do Trabalho, a Prefeitura de São Paulo, as comunidades envolvidas, a Associação Brasileira dos Coreanos, a Câmara do Comércio Brasil-Coréia, a Associação dos Bolivianos, a Associação dos Paraguaios, o CAMI (Centro de Apoio ao Migrante) e a Centro Pastoral dos Migrantes para tentar resolver essa questão. Um dos resultados da atuação conjunta foi a celebração de um Pacto Social com vistas a regularizar as condições do trabalho dos trabalhadores no setor de confecção. Primeiro vamos orientar, pois, esse pacto está dizendo o que cada um tem que fazer, quais as obrigações dos lojistas e das oficinas de costura.  É um trabalho que não sabemos ainda o tamanho que vai adquirir no futuro, quando nós partirmos para a fiscalização. Isso é uma forma que encontramos para contar com a própria participação dos envolvidos, para regularizarem a situação voluntariamente. Depois, em uma segunda fase, vamos verificar se eles cumpriram aquilo a que se comprometeram.

Adital - Com relação aos problemas práticos, os que mais aparecem à medida que se descobre essa questão, a pulverização, que incita também grandes lojas que aproveitam esse tipo de trabalho, o senhor poderia falar um pouco?

Daniel Augusto - O que encontramos nas oficinas de costura não são só as etiquetas e as notas fiscais de lojas pequenas, dessas localizadas no Brás e no Bom Retiro. Recentemente, fomos até uma oficina de costura, onde encontramos etiquetas de uma rede de lojas de roupas femininas de marca conhecida em shopping centers. Outras grandes lojas, inclusive multinacionais, também já  repassaram roupas, ainda que indiretamente, para oficinas de costura precárias.

Já fizemos termos de compromisso com alguns dos maiores magazines do país, para que controlem as confecções que contratam para confeccionar as roupas a serem vendidas. Estamos ainda em fase de acompanhamento desses termos de compromisso. Ainda não podemos dizer que o problema foi totalmente resolvido, mas contamos com outras entidades para nos ajudar, porque o número de fornecedores passa, muitas vezes, de 200, 300, 400.

Quanto aos pequenos lojistas, é mais difícil, porque é mais pulverizado. São pequenos, aos milhares, tornando esse controle bem mais difícil. Contudo, um problema complexo exige várias soluções. Estamos trilhando vários caminhos e vamos resolver, pelo menos aqui em São Paulo. E um dos meios que adotamos é justamente esse Pacto Social, que foi firmado em colaboração com várias entidades da sociedade civil e envolvendo também o Ministério do Trabalho.

22.12.09

 

Le Monde Diplomatique: o embate entre governo Lula e rede Globo

Mídia

21 de Dezembro de 2009 - 13h22

No início da década de 1980, centenas de milhares de brasileiros cantaram em coro "O povo não é bobo, abaixo a rede Globo!", quando a corporação na qual se apoiou a ditadura militar censurou as mobilizações populares contra o regime militar, utilizando fotonovelas e futebol para tentar anestesiar a opinião pública. Hoje, um segmento crescente do público brasileiro expressa seu descontentamento frente o grupo midiático hegemônico.

Por Dario Pignotti*, no Le Monde Diplomatique (Cone Sul e Espanha)

Medições de audiência e investigações acadêmicas detectaram um dado, em certa medida inédito, sobre as relações de produção e consumo de informação: a credibilidade da rede Globo, inquestionável durante décadas, começa a dar sinais de erosão. Contudo, é possível perceber uma diferença substantiva entre a indignação atual e o descontentamento daqueles que repudiavam a Globo durante as mobilizações de três décadas atrás em defesa das eleições diretas.

Em 1985, José Sarney, primeiro presidente civil desde o golpe de Estado de 1964, obstruiu qualquer pretensão de iniciativa reformista relativa à estrutura de propriedade midiática e ao direito à informação, em cumplicidade com a família Marinho – proprietária da Globo, da qual, aliás, era sócio. O atual chefe de Estado, Luiz Inácio Lula da Silva, parece disposto a iniciar a ainda pendente transição em direção à democracia na área da comunicação.

No início de 2009, no Fórum Social Mundial realizado na cidade de Belém, Lula convocou uma Conferência Nacional de Comunicação. A partir daí, mais de 10 mil pessoas discutiram em assembleias realizadas em todo o país os rumos da comunicação e definiram propostas para levar para a Conferência, realizada de 14 a 17 de dezembro, em Brasília.

"É a primeira vez que o governo, a sociedade civil e os empresários discutem a comunicação; isso, por si só, já é uma derrota para a Globo e sua política de manter esse tema na penumbra (...). O presidente Lula demonstrou estar determinado a instalar na sociedade um debate sobre a democratização das comunicações; creio que isso terá um efeito pedagógico e poderá converter-se em um dos temas da campanha (de 2010)", assinala Joaquim Palhares, diretor da Carta Maior e delegado na Conferência.

O embate entre Lula e a Globo poderia ser resumido como uma disputa pela verossimilhança, um bem escasso no mercado noticioso brasileiro. Ao participar quase que diariamente de atos ou eventos públicos, o presidente dialoga de forma direta com a população, estabelecendo um contrato de confiança que contrasta com a obstinação dos meios dominantes em montar um discurso noticioso divorciado dos fatos que, às vezes, beira a ficção.

Lula configura um "fenômeno comunicacional singular; o povo acredita nele, não só porque fala a linguagem da gente simples, mas porque as pessoas mais carentes foram beneficiadas com seus programas sociais; isso é concreto, o Bolsa Família atende a 45 milhões de brasileiros que não prestam muita atenção ao que diz a Globo", observa a professora Zélia Leal Adghirni, doutora em Comunicação e coordenadora do programa de investigação sobre Jornalismo e Sociedade da Universidade de Brasília.

"Por que Lula ganhou duas vezes as eleições (2002 e 2006), uma delas contra a manifesta vontade da Globo? Por que Lula tem uma popularidade de 80%?", pergunta Adghirni, para quem "as teorias de comunicação clássica que estudamos na universidade não são aplicadas ao fenômeno Lula. Desde a teoria da 'agulha hipodérmica' até a da 'agenda setting', dizia-se que os meios formam a opinião ou pautam o temário do público, mas com Lula isso não ocorre: os meios de comunicação estão perdendo o monopólio da palavra".

Por outro lado, como se sabe, a construção de consensos sociais não se galvaniza só com mensagens racionais ou versões críveis da realidade, também é necessário trabalhar no imaginário das massas, um território no qual a Globo segue sendo praticamente imbatível. A empresa do clã Marinho controla o patrimônio simbólico brasileiro: é a principal produtora de novelas e detém os direitos de transmissão das principais partidas de futebol e do carnaval carioca.

Frente à gigantesca indústria de entretenimento da Globo, o governo é praticamente impotente. Não obstante, a imagem do presidente-operário provavelmente ganhará contornos míticos em 2010, com o lançamento do longa-metragem Lula, o Filho do Brasil, que será exibido no circuito comercial e em um outro alternativo (sindicatos e igrejas). O produtor Luis Carlos Barreto prevê que cerca de 20 milhões de pessoas assistirão à história do ex-torneiro mecânico que se tornou presidente, o que seria a maior bilheteria da história no país.

O balanço provisório da política de comunicação de Lula indica que esta tem sido errática. Em seu primeiro mandato (2203-2007), impulsionou a criação de um Conselho de Ética informativa, iniciativa que arquivou diante da reação empresarial. Após essa tentativa fracassada, o governo não voltou a incomodar as "cinco famílias" proprietárias da grande imprensa local, até o final de sua primeira gestão.

Em seu segundo governo – iniciado em 1° de janeiro de 2007, Lula nomeou Hélio Costa como ministro das Comunicações, um ex-jornalista da Globo que atua como representante oficioso da empresa no ministério. Mas enquanto a designação de Costa enviava um sinal conciliador aos grupos privados, Lula seguia uma linha de ação paralela.

Em março de 2008, o Senado, com a oposição cerrada do PSDB, do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, aprovou o projeto do Executivo para a criação da Empresa Brasileira de Comunicações, um conglomerado público de meios que inclui a interessante TV Brasil, para a qual, em 2010, o Estado destinará cerca de US$ 250 milhões. O generoso orçamento e a defesa da nova televisão pública feita pelos parlamentares do Partido dos Trabalhadores (PT) indicavam que Lula havia decidido enfrentar a direita política e midiática. Ao mesmo tempo em que media forças com a Globo – ainda que não de forma aberta -, Lula aproximou posições com as empresas de telefonia (interessadas em participar do mercado de conteúdos e disputar terreno com a Globo) e algumas televisões privadas, como a TV Record – de propriedade de uma igreja evangélica.

A estratégia foi tomando contornos mais firmes no final do mês de outubro quando Lula defendeu, durante uma cerimônia de inauguração dos novos estúdios da Record no Rio de Janeiro, o fim do "pensamento único" capitaneado por alguns formadores de opinião (em óbvia alusão à Globo) e a construção de um modelo mais plural. Dias mais tarde, o mesmo Lula afirmava: "Quanto mais canais de TV e quanto mais debate político houver, mais democracia teremos (...) e menos monopólio na comunicação".

Com um discurso monolítico e repleto de ressonâncias ideológicas próprias da Doutrina de Segurança Nacional (como associar qualquer objeção à liberdade de imprensa empresarial com ocultas maquinações "sovietizantes"), o grupo Globo lançou uma ofensiva, por meios de seus diversos veículos gráficos e eletrônicos, contra a incipiente tentativa do governo de estimular o debate sobre a atual ordem informativa, que alguns definem como um "latifúndio" eletrônico.

O primeiro passo neste sentido, assinala Joaquim Palhares, foi "esvaziar e boicotar a Conferência Nacional de Comunicação, retirando-se dela, dando um soco na mesa e saindo impestivamente para tentar deslegitimá-la", movimento seguido por outros grupos midiáticos. O segundo movimento consistiu em articular um discurso institucional para fazer um cerco sanitário contra o contágio de iniciativas adotadas por governos sulamericanos como os da Argentina, Equador e Venezuela, orientadas na direção de uma reformulação do cenário midiático.

A Associação Brasileira de Rádio e Televisão (Abert) e a Associação Nacional de Jornais (ANJ) "temem que o que ocorreu na Argentina se repita no Brasil; eles veem essa lei como uma ameaça e começaram a manifestar sua solidariedade com a imprensa da Argentina", afirma Zélia Leal Adghirni. O receio expresso pelas entidades representativas dos grandes conglomerados midiáticos é o seguinte: se o descontentamento regional contra a concentração informática ganha força junto à opinião pública brasileira, poderia romper-se a cadeia de inércia e conformismo que já dura décadas e, quem sabe, iniciar-se um gradual – nunca abrupto – processo de democratização.

O inverso também se aplica: se o Brasil, liderado por Lula, finalmente assumir como suas as teses do direito à informação e à democracia comunicacional, é certo que essa corrente de opinião, atualmente dispersa na América Sul, poderá adquirir uma vertebração e uma legitimidade de proporções continentais.


* Dario Pignotti é jornalista e doutor em Comunicação pela Universidade de São Paulo
 
http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=121673&id_secao=6

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Brasil
 
21 de Dezembro de 2009 - 12h14

André Singer: por que o PT deve conversar com Ciro Gomes

O discurso pronunciado por Ciro Gomes no plenário da Câmara dos Deputados na terça passada (15) abre uma oportunidade que não deveria ser desperdiçada pelo Partido dos Trabalhadores. Vocalizando o crescente mal-estar com respeito ao comportamento do partido comandado por Michel Temer, Ciro acaba por tocar em ponto nevrálgico da situação atual, com possíveis reflexos de longo prazo, ao dizer à Folha que "a coalizão PT e PMDB tem feito mal ao Brasil".

Por André Singer*, na Folha de S.Paulo

Ciro Gomes não é um político tradicional. Em que pesem aspectos tipicamente personalistas, como a simpatia por Aécio Neves, que contrasta com a simétrica antipatia que devota por José Serra, o pré-candidato socialista detém uma característica que o distingue na geleia geral da política: tem ideias para o Brasil. Certas ou erradas, elas introduzem no debate elemento que o distingue da mera barganha entre interesses particulares.

Nos últimos 15 anos, Ciro buscou ocupar o espaço deixado vago com o deslocamento peessedebista em direção à direita do espectro ideológico. Originário do campo tucano, decidiu se opor ao viés neoliberal que o governo Fernando Henrique imprimiu ao país e ao PSDB, criado em oposição ao fisiologismo do PMDB.

Vale recordar que numa conversão, à época chocante e inesperada, FHC optou por uma aliança com o então PFL (hoje Democratas) na disputa presidencial de 1994. Tal junção descaracterizou o PSDB, como a de hoje com o PMDB ameaça o PT. Menos pelas concessões programáticas que acarreta do que pela falta de conteúdo que implica.

Desde há muito o PMDB deixou de ter apego a um programa. Talvez uma análise minuciosa mostre que o ciclo programático do partido se esgotou quando promulgada a Constituição de 1988. Desde então, a sigla se transformou em um condomínio de lideranças regionais, com as mais diversas inclinações.

A ausência de um ideário comum possibilita maior flexibilidade na ocupação de espaços de poder. Tanto apoia a opção neoliberal do segundo mandato de Fernando Henrique quanto o caminho desenvolvimentista do segundo mandato de Lula. Nunca se ouviu falar de um debate interno ao partido sobre os diferentes projetos que tais governos representam.

Diferentemente, mesmo em meio às transformações que o lulismo tem causado, o PT mantém um vínculo com a tradição que o orientou por mais de 20 anos. O terceiro congresso do partido, realizado em 2007, reafirmou o caráter socialista da sigla e as manifestações da direção partidária ao longo dos últimos dois anos foram sempre no sentido de orientar o Brasil para um modelo pós-neoliberal.

Não deverá ser diferente o programa proposto para a candidatura Dilma no quarto congresso, a ser realizado em fevereiro próximo. Muitos poderão dizer que são apenas palavras. Mas elas têm consequências práticas. Basta ver a ação dos ministros e parlamentares do PT durante o governo Lula.

Diante das alianças que darão suporte à postulação de Dilma, o PT deveria ser coerente com essas orientações. Consciente de que não tem a maioria dos votos no país, é correto buscar uma aproximação com outras correntes, sabendo que aliança se faz com aquele que pensa diferente.

Mas, para um partido de esquerda que deseja compor uma frente eleitoral, o diálogo esperado é com os vizinhos, sejam de centro-esquerda, como o PSB e o PDT, sejam de esquerda, como o PSOL, o PCdoB e o PV de Marina Silva. Pular sobre essas forças para unir-se ao PMDB sem discussão programática alguma é negar o sentido ideológico da escolha.

As razões para priorizar o PMDB não são desprezíveis. Elas atendem ao frio cálculo eleitoral. Deixar os cinco minutos de TV e várias seções estaduais peemedebistas nas mãos de Serra pode ameaçar a vitória nas urnas em outubro de 2010. Assim, é preciso estar consciente de que abrir uma temporada de conversas com a esquerda e a centro-esquerda, que poderia resultar na candidatura de Ciro a vice de Dilma, representa uma trilha ousada. Seria, contudo, uma lufada de ar fresco em um ambiente de sufocante ausência de propostas.

A sugestão presidencial de uma lista tríplice a ser enviada pelo PMDB para escolha do vice e a fala de Ciro na Câmara apontam para o mesmo perigo. O de que a candidatura Dilma seja envolvida por tal realismo que termine por negar os princípios que deseja representar. Mesmo com as incoerências passadas e presentes de Ciro Gomes e do PSB, eles ainda são uma chance que resta ao PT para impedir que o sistema partidário evolua em uma direção pasteurizada que não interessa à sociedade brasileira.


* André Singer é professor do Departamento de Ciência Política da USP. Foi secretário de Imprensa e porta-voz da Presidência da República no governo Lula
 
http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=121669&id_secao=1

El fracaso de las negociaciones en Copenhague, el futuro está en manos del pueblo

Comunicado de prensa - La Vía Campesina

(Copenhague, 19 de diciembre de 2009) Las negociaciones sobre el clima mantenidas esta semana en Copenhague han terminado fracasando. Los gobiernos del mundo se han mostrado incapaces o reacios a realizar los cambios necesarios para encontrar una solución justa al caos climático actual. Las negociaciones han estado marcadas por los intereses individuales y las "soluciones" de mercado que hasta ahora han mostrado ser ineficaces.

Josie Riffaud, una de las líderes del movimiento campesino La Vía Campesina, ha declarado: "El dinero y las soluciones de mercado no van a resolver la crisis actual. Necesitamos cambiar radicalmente la manera en la que producimos y consumimos y esto es justamente lo que no se ha hablado en Copenhague".

Los gobiernos de los países industrializados y no industrializados han demostrado su reticencia para abordar el modelo de desarrollo que ha derivado en desastres económicos y medioambientales.

Han sido incapaces de aportar soluciones reales y comprobar que los mercados de carbono no resolverán la crisis climática.

No se han debatido ni considerado los recortes drásticos de emisiones (incluidos en un acuerdo vinculante), la reorientación de las economías de agro-exportación, la reforma agraria y otras medidas que podrían realmente contribuir a enlentecer el calentamiento de la tierra. Una vez más los gobiernos han actuado individualmente de manera egoísta y han fracasado en considerar las alternativas reales ofrecidas por los movimientos sociales internacionales, grupos ecologistas, pueblos indígenas y otros para lograr una sociedad más justa.

A pesar de que el "acuerdo de Copenhague" no menciona explícitamente la agricultura, parece que durante las dos semanas de negociaciones, la Convención Marco de las Naciones Unidas sobre el Cambio Climático (CMNUCC) ha querido incluir el suelo entre los métodos para capturar carbono e incluir la agricultura en su transferencia de tecnología, abriendo así el espacio a las compañías transnacionales para recibir subsidios con el fin de introducir semillas transgénicas y métodos de agricultura industrial como la labranza cero. Ésta es precisamente la fórmula de desarrollo agrícola que nos ha llevado a la crisis social y medioambiental que sufre actualmente el campo.

La calle y los pasillos del Bella Center fueron testigos el 16 de diciembre del auténtico poder en Copenhague cuando los activistas, grupos comunitarios, movimientos sociales locales e internacionales y ONGs del Norte y del Sur presionaron para reunirse en un "tercer" espacio simbólico a las puertas del Bella Center.

La violenta represión de la policía, incluyendo la detención preventiva de muchos de los portavoces del movimiento "Climate Justice Action", puso de manifiesto la desesperación de los gobiernos a la hora de silenciar las voces que proclaman las auténticas soluciones.

No podemos esperar a que los gobiernos ofrezcan una solución mágica a la crisis climática. Bajo los dictados de las compañías transnacionales se limitan a perpetuar la especulación sobre el capital, en esta ocasión mediante el carbono, y hacer de los cimientos de la vida su mercado de valores.

A la vista del fracaso de la COP 15, los movimientos sociales internacionales están más preparados que nunca para atajar los problemas del mundo y se movilizarán para la próxima conferencia del clima que se celebrará en México a finales de 2010. Ha llegado su momento y los gobiernos no tendrán otra opción que escucharles.

Portal Vermelho .:: A Esquerda Bem Informada ::.

Brasil

21 de Dezembro de 2009 - 11h53

Pré-candidato ao Senado, Netinho (PCdoB) tem 22% em São Paulo

O vereador Netinho de Paula (PCdoB) — que estreou neste ano na Câmara Municipal paulistana — aparece com 22% das intenções de votos para o Senado em São Paulo. Os números foram revelados nesta segunda-feira (21) pelo Datafolha. No próximo ano, serão escolhidos dois senadores por estado.

O senador Aloizio Mercadante (PT) lidera a disputa, com 32% das intenções de voto, para o Senado por São Paulo, segundo a pesquisa Datafolha realizada na semana passada. Mercadante deve concorrer à reeleição assim como o também senador Romeu Tuma (PTB), que aparece com 27%.

Os dois são seguidos pelo ex-governador paulista Orestes Quércia (PMDB), com 24%. Na eleição municipal de 2008, o peemedebista fez um acordo com o DEM do prefeito Gilberto Kassab e com o governador José Serra (PSDB) para disputar uma vaga ao Senado.

Com 22% das intenções, além de Netinho, também está a subprefeita da Lapa, Soninha Francine (PPS). Dois nomes apresentados no questionário do Datafolha ficaram abaixo dos 10%: o vereador Gabriel Chalita (PSB) tem 7%, e o secretário estadual da Educação, Paulo Renato (PSDB), 6%. Ambos têm a educação como principal bandeira.

A taxa de eleitores que pretendem votar em branco ou anular o voto para ao menos uma das vagas ao Senado é de 25%. Já 14% disseram não saber quem serão seus candidatos.

Interior e capital

Líder das intenções de voto, Mercadante vai melhor no interior (34%) do que na capital (28%). O petista também tem mais apoio entre os eleitores com ensino superior (41%) do que entre aqueles de ensino fundamental ou médio (31%).

O ex-governador Orestes Quércia também se destaca no interior (28%) e não repete o resultado na capital (18%). Já Soninha Francine tem resultado inverso: se destaca no município de São Paulo (33%), mas fica bem abaixo no interior do Estado (13%).

Entre os eleitores mais jovens, Soninha é a que recebe mais apoio. Ela fica com 34% na faixa entre 16 e 24 anos, seguida por Netinho de Paula (29%), Mercadante (25%), Quércia (23%) e Tuma (13%).

Mercadante tem seu melhor resultado entre as pessoas de 35 a 44 anos, com 38%. Romeu Tuma se destaca entre os eleitores de 45 a 59 anos (37%) e de 60 anos ou mais (36%).

Da Redação, com informações da Folha de S.Paulo
 
http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=121668&id_secao=1

21.12.09

Avanços de Nuestra América

Jornal Correio do Brasil
 
Por Gilson Caroni Filho - do Rio de Janeiro

A crônica do ano de 2009 constitui um rico terreno a ser explorado pela lupa de historiadores e cientistas políticos. Tanto no Brasil, como no restante da América Latina, o cotidiano político produziu um rosário de fatos relevantes capaz de revelar o que se passa nas engrenagens das sociedades da região. No geral, as tendências democráticas acumularam forças, ampliaram o seu âmbito de influência em detrimento das velhas ordens carcomidas, consolidando e conquistando posições. Honduras foi a exceção, que de tão bizarra, confirmou a regra de uma América Latina que expressa, de maneira patente, sua vocação democrática.

O resultado das eleições bolivianas prova, com a própria dinâmica, que o movimento real, no sentido da democracia concreta, é sinuoso e se desenvolve desigualmente. A "velha toupeira" trabalha infatigável e a reafirmação da nova ordem política mostra um continente em que trabalhadores, camponeses e indígenas recuperam as forças perdidas em batalhas anteriores, demonstrando a robustez de movimentos sociais extremamente articulados.

Não foi outro o motivo que levou Evo Morales, falando do Palácio do Governo, na Praça Murillo, a afirmar que" essa vitória foi um aviso do povo a governos anti-imperialistas", agradecendo aos bolivianos por lhe dar a oportunidade de continuar a trabalhar para a eqüidade e a unidade no país sul-americano.

O líder aymara sabe que a condição para o avanço da democracia em seu país reside justamente na unidade e na abrangência das forças que o apóiam. Ambas -unidade e abrangência- serão imprescindíveis para resistir à ofensiva das oligarquias derrotadas, permitindo a formulação de novas alternativas econômicas, sociais e políticas.

Na Argentina, com a aprovação da Lei de Serviços de Comunicação Audiovisual, o governo de Cristina Kirchner confrontou a estrutura oligopolizada e a propriedade cruzada dos meios de comunicação. De acordo com o dispositivo legal, o setor privado poderá ter somente 33% das licenças do espectro radioelétrico, sendo o restante distribuído entre o Poder Público, as organizações sem fins lucrativos e as universidades. Tendo em conta a centralidade da grande imprensa no processo político, o ganho dos movimentos sociais com a medida é imenso.

Por aqui, a Conferência Nacional de Comunicação, convocada pelo presidente Lula, é, por si só, um avanço significativo. A mídia corporativa declara estar em curso um processo autoritário que, buscando "controlar a produção e distribuição de informação", objetiva ameaçar a liberdade de imprensa e o direito do cidadão à livre informação.

O famoso "diga-me com quem andas" não deveria ser lembrado quando vemos que a grita contra o encontro une alguns notáveis jornalistas a entidades como a ANJ e a Abert? Não vemos apenas a reação de hegemonias ameaçadas pela ação de um governo que, ainda que excessivamente cauteloso, ousou afrontar a produção de pensamento único?

Uma grita que perde qualquer sentido quando observada a composição tripartite da Confecom, seu caráter democrático e plural. Em jogo, mais que o poder político e o novo marco regulatório exigido pelas novas tecnologias, está a possibilidade de efetivação de um processo comunicativo horizontalizado, premissa básica de qualquer democracia

Por fim, foi na política externa que o bloco liberal-conservador sofreu outra derrota. A aprovação do ingresso da Venezuela no Mercosul, após duro embate entre governo e oposição no Senado, foi a vitória dos que apostam no Mercado Comum como espaço de integração. Apesar de ainda não terem superado incompreensões que obstaculizam ações unitárias, fundamentais para o enfrentamento de assimetrias, as forças progressistas da América Latina reiteram a opção pelo caminho sem volta de uma união soberana.

Estamos diante de um novo tipo de coordenação entre povos e Estados. Talvez fosse melhor falar em transição da transição. Um ponto de ruptura com a época em que o único sistema de coordenação possível era ditado pela Operação Condor. Uma conjuntura sombria onde as oposições burguesas mostraram o caráter mesquinho de seus supostos projetos de redemocratização. Os reais objetivos, sabemos todos, nunca passaram de tentativas mal dissimuladas de negociação com a ditadura, de melhores posições no jogo político montado para oprimir o povo.

São esses mesmos setores, com ar de vestais de republiqueta, que hoje que se opõem a Chávez, Lugo, Morales, Ortega, Kirchner, Lula e Correa. Continuam lutando por uma democracia depurada do elemento popular que a define. Não gostam apenas de paradoxos lógicos; amam retrocessos que levem a pactos intra-elites. Assim, a fragmentação da forças progressistas chilenas, que deu à direita uma vitória expressiva no primeiro turno das eleições presidenciais, deve servir como alerta ao campo democrático-popular brasileiro. Em 2010 não nos faltarão emoções fortes. Melhor evitar as desnecessárias.

Em tempo: Ao alterar o texto do julgamento do pedido de extradição de Cesare Battisti, o STF termina o ano aceitando chicanas de toda ordem, fato reconhecido até por ministros da Casa. É de Marco Aurélio Mello a constatação: "O que o governo da Itália pretende é uma virada de mesa".

Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Correio do Brasil e do Jornal do Brasil.

http://www.correiodobrasil.com.br/noticia.asp?c=161298

Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz