Mãos Limpas produziu juízes políticos e políticos que negam a política, diz historiador
TER, 29/08/2017 - 13:11
ATUALIZADO EM 29/08/2017 - 13:15
Foto: Cesar Castro
Jornal GGN - Mais de 20 anos após a Mãos Limpas - inspiração da Lava Jato de Curitiba - a Itália ainda não se recuperou do terremoto que a operação provocou na política nacional. Ao contrário do esperado por seus entusiastas, a Mãos Limpas não corrigiu os problemas da corrupção porque isso deveria ter sido uma iniciativa a partir de dentro da política, e não de agentes externos. É o que avalia o historiador especializado no fenômeno do berlusconismo, Giovanni Orsina, em entrevista publicada pela Folha nesta terça (29).
Orsina não quis fazer uma análise do que ocorre hoje no Brasil, mas apontou que, na Itália, a principal lição deixada pela Mãos Limpas é que "a política é uma atividade necessária", embora a sociedade tenha sido levada a pensar que não precisa mais de políticos na gestão do País.
O papel da sociedade na crise, inclusive, talvez seja o ponto para o qual o historiador mais chama atenção. Principalmente porque lança luz sobre o que pode acontecer em terras tupiniquins, quando da disputa presidencial de 2018.
"Ela (a sociedade italiana da época da Mãos Limás) quis a solução do grande gestor. Mas é importante lembrar que ele (Berlusconi) não foi eleito só por isso. A falta de alternativas era enorme. Ninguém queria um governo dos pós-comunistas, a esquerda."
"(...) em vez de a sociedade se responsabilizar também pela situação, os italianos resolveram colocar toda a culpa nos políticos. Acharam que se você se livrasse de bodes expiatórios, tudo ficaria bem. Apoiaram a Mãos Limpas, só que nada foi plantado exceto a ideia de que a política é ruim, e que os magistrados eram mágicos. Pediam a mudança, mas não aceitavam dar os instrumentos a quem poderia fazê-la. Acabou com o sistema."
Eleito por ser um "self-made man", um gestor que negava a política, Berlusconi tentou surfar na onda da popularidade da Mãos Limpas e até convidou para fazer parte do novo governo integrantes da operação, que declinaram.
Ainda de acordo com Orsina, é inegável que a Mãos Limpas apurou coisas importantes, mas foi, sobretudo, "um evento político que gerou uma crise política."
"Juízes e promotores viraram atores políticos, mas é muito difícil apontar se eles faziam isso por alguma agenda. (...) Até certo ponto, eu acho, alguns dos magistrados tinham sim uma agenda", disse.
O principal juiz da operação, Antonio di Pietro, acabou abandonando a toga e "virou ministro do governo de centro-esquerda de Romano Prodi em 1996 e de 2006 a 2008". Em 1998, fundou o partido "Itália de Valores", "cujo nome diz tudo".
Leia a entrevista completa aqui.
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