Aliados aconselham Temer a renunciar. Votações de reformas serão suspensas
Esplanada dos Ministérios e a praça em frente ao Palácio do Planalto são alvos de pessoas que chegam a todo momento: "Fora Temer"
Brasília – A divulgação da notícia de gravações de conversas nas quais o presidente Michel Temer discute com o empresário Joesley Batista o pagamento de propina para compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), na noite desta quarta-feira (17), tumultua a capital do país, que vive uma noite de movimentação. A Esplanada dos Ministérios e a praça em frente ao Palácio do Planalto recebem pessoas que chegam a todo momento portando bandeiras do Brasil, aos gritos de "Fora, Temer!" e pedidos de renúncia do presidente. Embora várias reuniões ainda não tenham terminado duas situações são dadas como certas. Primeiro, que a agenda de votação das reformas será suspensa. A segunda, confirmada nos bastidores por políticos do governo, é que caso não consiga reverter o quadro rapidamente, o presidente renuncie ao cargo.
"O Congresso não pode ficar calado. Estamos num ambiente de fim, um sentimento de que o governo acabou. A solução tem que ser ou a renúncia, ou um impeachment ou diretas já", disse o líder da oposição na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE). O pedido de impeachment de Temer foi protocolado pouco tempo depois da divulgação da gravação pelo deputado Alessandro Molon (Rede-RJ)*, na Câmara, enquanto a Procuradoria-Geral da República (PGR) confirmou o teor da gravação, que foi feita pelo dono da empresa JBS, Wesley Batista, e apresentada em delação premiada.
* já são três pedidos de impechment protocolizados: Alessandro Molon (Rede), Paulo Teixeira (PT) e Randolfe Rodrigues (Rede).
No Supremo Tribunal Federal (STF) ainda há informações de que há magistrados reunidos para discutir o caso, mas um pronunciamento oficial da suprema corte ou de algum dos ministros só será feito nesta quinta-feira (18), segundo informações da secretaria de Comunicação.
Já em relação a Temer, por volta das 21h30 o Palácio do Planalto divulgou nota oficial afirmando que o presidente "jamais solicitou" pagamentos para obter o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha. O documento destaca, ainda, que Temer "não participou nem autorizou qualquer movimento com o objetivo de evitar delação ou colaboração com a Justiça pelo ex-parlamentar". Apesar das declarações, o presidente confirma, neste comunicado, que recebeu, sim, Joesley Batista em março passado, no Palácio do Jaburu.
Michel Temer permaneceu dentro do Palácio do Planalto reunido com vários ministros da sua equipe, líderes da base aliada, deputados e senadores e até alguns governadores para discutir a melhor saída da crise política até por volta das 22h30. Ele saiu para o Palácio do Jaburu, onde reside, e continua a reunião lá, ao lado de políticos mais próximos.
'Tudo perdido'
Entre os deputados e senadores de todos os partidos, o ambiente é de nervosismo. Todos, quando abordados por jornalistas e questionados – seja em reservado ou publicamente – classificam a situação como "gravíssima".
O líder do governo no Congresso, senador Romero Jucá (PMDB-RR), chegou a pedir aos repórteres que evitem precipitações neste momento e evitou falar em adiamentos na votação das reformas, mas não conseguiu convencer.
As contas feitas por parlamentares da oposição e da base do governo são de que, no caso da reforma da Previdência, o Planalto contava, na manhã de hoje, com 225 votos favoráveis e 123 indecisos. Com a presença de governadores e prefeitos, que vieram a Brasília para participar de um seminário e acompanhar a votação da proposta que refinancia dívidas dos estados, a intenção do governo era conseguir o convencimento de mais 123 parlamentares – de modo a garantir os votos que faltam. Com a notícia da gravação, as articulações neste sentido foram interrompidas. "Está tudo perdido. Não há como falar em votação nenhuma neste momento", disse um senador peemedebista.
Impeachment, Diretas ou STF?
No Congresso, parlamentares da oposição discutem a posição a ser adotada daqui por diante no sentido de pressionar pela saída de Temer. Lindbergh Farias (PT-RJ) defende pressão para acolhimento, o quanto antes, pelo presidente da Câmara ou do Senado, do pedido de impeachment. Mas um outro movimento dos oposicionistas trabalha para que a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara, vote com urgência a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 227/16 que trata de eleições diretas para a Presidência da República.
No final da noite, outra possibilidade discutida foi de o tema ser decidido pelo Judiciário, por meio de um pedido a ser feito junto ao STF para abertura de processo contra Michel Temer por obstrução de Justiça. Caso o colegiado da mais alta corte do país decida pela abertura do processo, o presidente terá de deixar o cargo.
EUROPA
Repercussão internacional: 'Brasil mergulha em novo caos político'
"Mesmo antes das últimas acusações, o governo Temer já estava em crise", aponta o jornal inglês The Guardian
DW Brasil – Depois da revelação de um áudio em que Michel Temer dá seu aval à compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha, jornais da Europa destacam nesta quinta-feira (18/05) mais um período de turbulências na política brasileira. Correspondentes usam o mesmo tom ao afirmar que, caso o teor das gravações seja comprovado, o presidente acabará deixando o poder.
Le Monde, França: "Presidente Temer é machado com novas revelações"
Neste novo episódio de uma saga iniciada em 2014 com a deflagração da Lava Jato, o Brasil corre o risco de mergulhar em um novo caos político e econômico. O país, que mal começou sua recuperação de uma recessão histórica, poderá voltar a sofrer a ira dos mercados financeiros, preocupados com o bloqueio das reformas prometidas por Michel Temer.
La Repubblica, Itália: "Tempestade política no Brasil"
Desta vez não se trata de uma das revelações habituais, que anunciam outros escândalos e novas prisões. Desta vez é diferente. O impacto político é reforçado pela presença de uma prova em áudio que registrou um claro ato corruptor. No nível institucional mais alto. O PT, juntamente com outros partidos de oposição, anunciou que entrou com um pedido oficial de impeachment contra o presidente do Brasil. Um bumerangue. Foi o mesmo Temer, à época vice-presidente, que liderou com Cunha a batalha pela destituição de Dilma Rousseff. O destino, zombando, agora prepara o caminho para sua renúncia. Voluntária ou forçada. Negar ou minimizar aquelas frases tomadas por uma caneta-gravador será difícil. Talvez impossível.
The Guardian, Reino Unido: "Gravações explosivas implicam Temer em suborno"
A política provavelmente vai ficar ainda mais paralisada – mesmo antes das últimas acusações, o governo Temer já estava em crise. Três de seus ministros foram forçados a se demitir, e outros oito estão envolvidos nas investigações de corrupção da Lava Jato. Os índices de aprovação do presidente caíram para apenas um dígito, a economia permanece atolada em recessão, e os opositores organizaram recentemente uma greve geral em protesto contra suas políticas de austeridade e propostas de mudanças nas leis de aposentadorias, trabalhistas e ambientais. A possibilidade de o Brasil derrubar outro presidente ficou mais próxima, embora a coalizão governista tenha uma grande maioria no Congresso.
El País, Espanha: "Gravação em que Temer obstrui a Justiça estremece o Brasil"
Se o que o Globo noticia for confirmado, isso arrastaria o governo de Michel Temer para a beira do abismo. Temer só chegou ao poder porque ele concordou com o trâmite do pedido de impeachment de Dilma Rousseff, da qual foi vice-presidente. Exatamente ele assumiu as funções da presidência um ano atrás, completado nestes dias. Desde então, não foi capaz de despertar no eleitorado praticamente nenhuma simpatia que lhe garantisse estabilidade no cargo. Sua aposta na austeridade, com a qual pretende tirar o país da pior recessão em décadas, ganhou como resposta duas greves gerais e muitas manifestações. Seu governo se viu implicado em uma série de escândalos de corrupção, que foram minando sua já fraca popularidade.
Handelszeitung, Alemanha: "Presidente brasileiro Temer extremamente comprometido"
A mídia fala em uma "bomba que explode sobre o país". O presidente Michel Temer teria ajudado a silenciar com dinheiro um cúmplice em um escândalo de corrupção.
Segundo O Globo, durante uma reunião com empresários investigados por corrupção, Temer teria dado luz verde para silenciar com pagamento de dinheiro o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que se encontra preso. Em comunicado, o governo afirmou que Temer nunca propôs pagamentos para comprar o silêncio de Cunha. A reunião em si foi confirmada, tendo ocorrido no início de março.
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