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pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

3.9.13

Carta Maior - Blog do Emir Sader - Convencimento, vergonha ou conveniência na ‘autocrítica’ da Globo?


01/09/2013

Convencimento, vergonha ou conveniência na 'autocrítica' da Globo?

O editorial do Globo começa mentindo: não foi um "apoio editorial". O jornal, junto com os outros que ele cita – quase toda a mídia da época, que quase toda ainda anda por aí –, participou do bloco golpista que criou o clima favorável ao golpe, promoveu as "Marchas da Família, com Deus, pela Liberdade", que funcionavam para tentar passar a ideia de que a população pedia um golpe militar.

Apoiou o golpe, buscou sua legitimidade e apoiou a ditadura militar ao longo de toda sua existência. E seguiu justificando-a até agora.

Não apoiou apenas o golpe. Apoiou tudo o que ditadura fez de ignominioso: desde todas as formas de repressão – prisões arbitrárias, torturas, execuções, condenações sem provas, etc. etc. Apoiou a política de superexploração dos trabalhadores com o arrocho salarial, que permitiu a recuperação da economia, com um modelo de favorecimento dos ricos e dos capitais estrangeiros, em detrimento da massa da população e das pequenas e médias empresas nacionais.

Apoiou inclusive o famigerado AI-5, que terminou de liquidar com os pequenos espaços de oposição ainda existentes. Saudou o golpe, a ditadura, a repressão, a liquidação da democracia, tudo em nome da "democracia", que ressurgiria.

Se opôs à democratização do país, às eleições diretas, ao direito de o povo brasileiro escolher seu presidente pelo voto universal, foi favorável à auto-anistia – vigente até hoje – imposta pelos militares.

Se projetou como a porta-voz oficial da ditadura, se enriqueceu com as vantagens que a ditadura lhe propiciou e que são responsáveis, até hoje, pelos privilégios que a Globo tem.

Se poderia listar muito mais monstruosidades que a Globo apoiou e de que participou ativamente. Não foi um "mau momento", um "equívoco" de avaliação no "apoio editorial" a uma circunstância concreta.

Foi uma posição firme e forte a favor da ditadura e contra a democracia, a favor das elites e dos interesses estrangeiros, e contra o povo e o Brasil.

Por que agora esse "arrependimento"? Não foi arrependimento, senão não teria o cinismo de tentar restringir o erro a um "apoio editorial". Teria feito autocrítica da participação ativa no mais hediondo regime que o Brasil já teve.

Em parte, como confessam, é "vergonha", porque pessoas jogam na cara deles ter participado do golpe e da ditadura. Tentam se limpar disso, dar álibis aos que colaboram com seus órgãos de imprensa, de que "fizeram autocrítica".

Que chega a poucos meses de se completar 50 anos do golpe e do início da ditadura. Por que não o fizeram durante a ditadura? Por que não o fizeram no começo da democratização? Por que não o fizeram em outro momento?

Porque estão cansados de ser derrotados, de ser execrados, de ter manifestações diante das suas sedes, de ter seus jornalistas repudiados pelas manifestações dos jovens, de saber que está consagrado "O povo não é bobo / Abaixo a Rede Globo", porque sabem que não tem credibilidade alguma. Que seus principais jornalistas são vítimas das chacotas e do ridículo.

É como se, nos anos 1980, fizessem autocrítica de terem sido contra a chegada do Getúlio ao poder, de terem se oposto sempre a seus governos e de terem promovido golpes contra o maior estadista brasileiro do século passado – autocrítica ainda pendente.

O editorial expressa conveniência de uma nova reconversão da empresa – em crise econômica, de audiência e com credibilidade zero. Não por acaso, ao mesmo tempo, os filhos do fundador foram visitar o Lula, depois de tripudiar contra ele durante mais de 10 anos.

Tirarão consequências do editorial? Mudarão radicalmente a orientação e a plana maior que da continuidade ao apoio e participação no golpe e na ditadura, ou seguirão como tem sido nestes 50 anos?

É por conveniência, envergonhada, sem convencimento algum, que a Globo faz como se fosse emendar rumos a partir do editorial. Quer limpar sua imagem diante de uma opinião pública que despreza o que o jornal fiz e opina.

Se dão conta que se desviaram ainda mais do Brasil real quando, depois de apoiarem os governos fracassados de Sarney, Collor e FHC, se opõem frontalmente aos governos que o povo brasileiro mais apoiou e apoia e que deve reeleger de novo. Se dão conta que não elegem presidente da república há mais de 10 anos e que correm o serio risco de seguir assim por pelo menos toda uma segunda década. Percebem que nem sequer no Rio de Janeiro, sua sede, não conseguem eleger governador, senador, prefeito há muito tempo, e devem seguir assim.

Arrependimento, não. Senão mudariam radicalmente sua linha editorial e informativa. Vergonha, não. Senão mudariam as equipes que os fazem passar vergonha. Conveniência, sim. Para tentar romper o isolamento, a desmoralização, a falta de credibilidade, a crise econômica, a perda acelerada de audiência.

Mas nunca conseguirão apagar o papel que tiveram e seguem tendo. "O povo não é bobo / Abaixo a Rede Globo" – seguirá ecoando por todo o país que conseguiu, contra a Globo, derrotar a ditadura, derrotar seus presidentes e consagrar os presidentes que expressam a construção de um país democrático, solidário e soberano, contra todos os que apoiaram o golpe, a ditadura e os governos antipopulares.


Postado por Emir Sader às 05:23

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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz