Com Assembleia sitiada, Praça da Matriz vive novo dia de guerra. 'Defesa da democracia', diz Schirmer
Marco Weissheimer
A Praça da Matriz viveu um novo cenário de guerra nesta terça-feira (20), no segundo dia de votação do pacote enviado pelo governo José Ivo Sartori (PMDB) à Assembleia Legislativa, propondo a extinção de fundações, privatização de empresas públicas e de demissão de servidores, entre outras medidas. À tarde, durante uma visita à Assembleia Legislativa, o articulador político do governo e secretário de Segurança, Cezar Schirmer, defendeu o sítio da Assembleia Legislativa pelo batalhão de choque da Brigada Militar como uma medida de "defesa da democracia". O governo Sartori parece ter inaugurado, assim, um conceito peculiar de democracia que inclui o fechamento do Parlamento ao público e o uso de bombas de gás, balas de borracha e cargas de cavalaria com espadas em punho. Essa nova democracia fez disparar também a venda de leite de magnésia nas farmácias do Centro, utilizado pelos manifestantes para amenizar os efeitos do gás lacrimogêneo.
Pelo segundo dia, a Assembleia amanheceu cercada pelos pelotões de choque da Brigada Militar que deslocou cerca de 300 homens para fazer o cerco do Parlamento e do Palácio Piratini, medidas que, segundo o secretário Cezar Schirmer, foram tomadas para "defender a democracia". À tarde, as primeiras vítimas desse novo conceito de democracia foram policiais civis e servidores da Superintendência de Serviços Penitenciários (Susepe), que experimentaram o já tradicional protocolo do choque da Brigada em manifestações: bombas de gás, supostamente de "efeito moral", e balas de borracha que, em tese, deveriam ser lançadas abaixo da linha da cintura. Ou a regra foi descumprida ou o problema é de pontaria mesmo: um policial foi atingido no rosto e uma policial foi alvejada nas costas.
O novo conceito de democracia anunciado pelo ex-prefeito de Santa Maria não contemplou também a categoria do diálogo, protestaram os servidores. Os funcionários de fundações e secretarias ameaçadas de extinção não foram consultados sobre o tema. O debate na Assembleia excluiu a participação do público, colocando o pelotão de choque da Brigada para bloquear as entradas de acesso. "Nunca vi tanto brigadiano no centro da cidade", ironizou um morador da região, no início da noite, quando a praça estava tomada por homens do Choque e da Cavalaria da Brigada. Cavalaria, aliás, que foi objeto de denúncias nas redes sociais por abuso de autoridade e de violência.
Nem a presença de colegas da área da segurança pública convenceu a Brigada Militar a mudar seus métodos de ação. Alem do policial baleado no rosto e da policial atingida nas costas, e das dezenas de bombas lançadas ao longo do dia na Praça da Matriz, integrantes da cavalaria da Brigada agrediram também um jornalista que trabalha na Assembleia e que publicou em sua conta no Facebook uma imagem das marcas em suas costas fruto de uma "chibatada" desferida por um soldado da Brigada a cavalo no início da noite.
A tarde desta terça na Praça da Matriz teve duas sessões de bombas de "efeito moral", com direito a balas de borracha. Houve ainda uma terceira sessão, no início da noite, quando estudantes foram para a frente do pelotão de choque entoar palavras de ordem contra a existência da Brigada Militar. Um rojão lançado no chão, na direção dos policias, foi a deixa para uma nova sessão de bombas e cargas de cavalaria. Além de disparar contra os estudantes, a Brigada lançou bombas também em outras áreas da praça, aproveitando-se do incidente para tentar dispersar a manifestação. Nem o carro de som do ato escapou das bombas da Brigada, atingindo em cheio o operador de áudio do veículo.
No final da tarde, a Brigada ampliou os bloqueios para ruas que dão acesso à Praça da Matriz, como a Jerônimo Coelho e a Duque de Caxias, por causa do ato convocado pela Frente Brasil Popular e pela Frente Povo Sem Medo na Esquina Democrática. Cerca de 200 pessoas iniciaram uma caminhada em direção da Praça da Matriz sem saber se conseguiriam chegar lá. A estratégia utilizada pelos organizadores do ato foi pedir aos manifestantes que se colocassem em fila atrás do caminhão que serviu de palanque aos oradores. A caminhada começou a subir a Borges em fileira até que se dividiu em duas colunas: uma seguiu em frente pela Borges entrando na Jerônimo Coelho, e a outra chegou a Praça da Matriz via a rua General Câmara. Essa caminhada, ao contrário das estimativas iniciais, acabou chegando sem problemas até a praça.
Ainda na parte da tarde, deputados da oposição foram até a praça para informar sobre o andamento da votação dos projetos e reafirmar seu apoio ao movimento dos servidores. O deputado Jeferson Fernandes (PT), disse que os projetos do governo Sartori "flertam com a corrupção" ao preverem o repasse para a iniciativa privada de serviços que, hoje, são prestados pelo setor público. Na mesma linha, o deputado Edegar Pretto (PT) lembrou uma frase de Ulysses Guimarães ao promulgar a Constituição de 1988: "Traidor do povo é traidor da Pátria" – fazendo alusão ao governador Sartori e ao seu pacote de projetos.
Após o último lançamento de bombas pela Brigada, no início da noite, diminuiu o barulho na praça por alguns instantes. Os servidores se reagruparam na praça na área em frente ao Palácio e seguiram acompanhando a votação do pacote que, para muitos, pode significar a perda do emprego às vésperas do Natal e do Ano Novo.
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Tags: Brigada Militar, Cezar Schirmer, Governo Sartori, PMDB, Praça da Matriz, Sartori, Susepe, Ugeirm
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