No futuro, essa foto, mais do que qualquer outra imagem, será a representação simbólica desses dias de caos e desesperança.
É o instantâneo de todo o absurdo em que vivemos: um clarão sobre as personagens tétricas de uma ópera bufa patrocinada por uma revista que, hoje, é o emblema máximo da indigência moral da mídia e dos jornalistas brasileiros.
Nela, estão todas as deformações possíveis que resultaram do golpe parlamentar que derrubou uma presidenta eleita e jogou o País no lixo da História: o presidente ilegítimo, o juiz parcial, o senador patético, o governador bestial e o ministro sem sentido.
Que o juiz da região agrícola e o senador multicitado na Lava Jato tenham sido flagrados entre sussurros e risadas, não há de admirar ninguém.
Essa intimidade obscena, protagonizada por essas duas figuras lamentáveis, em um convescote de quinta categoria, é, literalmente, o retrato da república de bananas que nos tornamos.
Publicado originalmente no Facebook de Leandro.
Moro mostra sua 'imparcialidade' em eventos com tucanos envolvidos em corrupção
Helena Sthephanowitz
Da RBA
Com convidados que mais pareciam formar uma convenção do PSDB, entre eles, Geraldo Alckmin, Aécio Neves, João Doria, José Serra e Alexandre de Moraes (ministro da Justiça), a revista IstoÉ promoveu na noite de terça (6), uma festa para premiar o presidente Michel Temer como o "grande brasileiro do ano de 2016", bem como o juiz federal de primeira instância Sergio Moro, eleito pelos critérios da revista o "brasileiro do ano na Justiça".
Durante a cerimônia, numa das casas de espetáculos preferidas da classe média paulistana, o Citibank Hall, Moro em momento algum pareceu incomodado por permanecer no palco ao lado do presidente do PSDB, o senador Aécio Neves, com quem conversava todo sorridente e descontraído, aos cochichos e muitas vezes rindo solto.
Recordemos, Aécio é citado por muitos dos delatores premiados da Lava Jato – como o doleiro Alberto Youssef, e executivos das empreiteiras Odebrecht e OAS – e é investigado pelo caso conhecido como Lista de Furnas .
Mas na festiva noite organizada pela Editora Três, dona da IstoÉ, a atenção de Moro não estava voltada apenas para Aécio. Ele e a esposa, Rosangela Moro, deixaram-se fotografar alegremente em um animado bate-papo com outro chefão tucano, o ministro das Relações Exteriores, José Serra.
Recordemos também, Serra já foi citado inúmeras vezes por delatores de empreiteiras e acusado, no âmbito da Lava Jato por executivos da Odebrecht de ter recebido R$ 23 milhões via caixa dois, em contas na Suíça.
Mas nada disso abalou o "bom astral" do juiz federal, visivelmente à vontade durante todo o tempo que durou o festivo encontro.
Ao agradecer pelo prêmio dado pela revista, Moro cumprimentou Michel Temer de maneira protocolar e disse que o ano "foi muito cansativo". Por sua vez, Temer discursou sem citar Moro, deixando no ar a impressão de que estava um tanto chateado, talvez por ter sido excluído dos melhores momentos das animadas conversas do juiz com os tucanos, como mostram algumas fotos do evento.
No final da festa, Moro e políticos, na grande maioria encrencados na Lava Jato, fizeram um selfie coletiva, uma verdadeira celebração entre amigos.
Mas o evento da IstoÉ de ontem não foi o primeiro da semana em que Moro confraternizou-se com tucanos envolvidos em caso de corrupção.
Na segunda-feira (5), o governador de Mato Grosso, Pedro Taques, lançou o novo Portal Transparência do Poder Executivo do estado, numa cerimônia que teve Sergio Moro como convidado de honra. Até aí nada de mais, não fosse o fato de, na semana passada, o empresário Giovani Guizardi afirmar, em mais um acordo de delação premiada, que o esquema de corrupção na Secretaria de Educação do Mato Grosso, investigado na operação Rêmora da Polícia Federal, teve origem no pagamento de dívidas de campanha do tucano Pedro Taques ao governo estadual, em 2014. Segundo o empresário, foram repassados R$ 300 mil para o então candidato e que outro empresário integrante do esquema, teria dado mais R$ 10 milhões que foram "investidos" na campanha de Taques.
A operação investiga irregularidades em licitações para construção e reforma de escolas realizadas pela pasta de Educação do Mato Grosso em outubro de 2015. O esquema, segundo o Ministério Público, envolve servidores públicos e empresários. De acordo com o MP, os servidores recebiam informações privilegiadas sobre as licitações e organizavam reuniões com empreiteiros para fraudar as licitações.
De volta ao futuro
A menos que a festa de premiação tenha saído de graça, o que certamente não foi o caso, a Editora Três deveria ter economizado os recursos que vêm recebendo pelas publicidades que passou a receber do governo Temer para pagar seus funcionários. A empresa acumula problemas na justiça trabalhista.
Ontem mesmo, dia da festa do "puxa-saquismo", o portal Comunique-se publicou que, a Editora Três, em recuperação judicial, decidiu parcelar em cinco vezes o 13° dos profissionais da IstoÉ.
Além disso, um processo movido por uma ex-funcionária pode colocar à venda a mansão da família Alzugaray, dona da editora, avaliada em R$ 2,8 milhões, depois que uma juíza da 44ª Vara do Trabalho rejeitou pedido da família para que sua mansão no bairro do Morumbi não fosse penhorada para pagar a dívida trabalhista da profissional, atualmente estimada em cerca de R$ 1,4 milhão.
Ao Comunique-se, o advogado da ex-funcionária da revista Kiyomori Mori avalia a situação da empresa como "lamentável". "Infelizmente a IstoÉ sempre escolhe o caminho que mais prejudica o jornalista, como parcelar o 13º salário, mas quando casos assim chegam à Justiça e terminam em condenações elevadas, ela reclama do que chama de 'custo Brasil'".
Política
Corrupção
Moro e Aécio: uma foto para a história
Moro e Aécio em evento da Istoé: rindo de quê?
Herói dos manifestantes que desde 2015 vão às ruas "contra a corrupção", o juiz Sergio Moro, titular da 13ª Vara Federal de Curitiba, onde é responsável pelas investigações da Operação Lava Jato em primeira instância, foi flagrado em uma situação inusitada na noite de terça-feira 6. Em evento da revista Istoé, realizado em São Paulo, Moro apareceu gargalhando ao lado do senador Aécio Neves (PSDB-MG), uma das figuras que mais apareceu em delações premiadas na Lava Jato.
Por ser um juiz de primeira instância, Moro não poderia investigar Aécio, mas a boa convivência de entre os dois chama a atenção por conta dos diferentes perfis públicos. Em geral, Moro busca transmitir em suas aparições e manifestações uma imagem austera, exemplar de como um funcionário público engajado no combate à corrupção deve se postar.
Ídolo de manifestantes contra a corrupção, em especial a corrupção do PT, Moro se tornou uma espécie de reencarnação de Joaquim Barbosa, ex-ministro do Supremo alçado à condição de herói após liderar as condenações dos políticos envolvidos com o "mensalão". Nos últimos meses, Moro vem se tornando uma figura messiânica e, no último domingo, um manifestante chegou a classificá-lo de "segundo filho" de Deus.
Aécio, ao contrário, é uma figura cuja imagem tem sido duramente afetada desde outubro de 2014, quando perdeu as eleições presidenciais para Dilma Rousseff. O tucano já foi citado por pelo menos cinco delatores diferentes da Lava Jato, entre eles o ex-senador Delcídio do Amaral; o doleiro Alberto Youssef; um de seus entregadores de dinheiro, Carlos Alexandre de Souza Rocha, o "Ceará" (ambos casos arquivados); do lobista Fernando Moura, ligado ao PT; e do ex-deputado do PP Pedro Corrêa.
Nos áudios gravados clandestinamente pelo ex-presidente da Transpetro Sergio Machado, Aécio também aparece com destaque. "Aécio está com medo", diz o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) a Machado sobre a delação de Delcídio.
Em um outro trecho das gravações, Machado conversa com o também senador Romero Jucá (PMDB-RR) e pergunta: "Quem não conhece o esquema do Aécio?".
Mais recentemente, Aécio teria manobrado para aprovar, no Senado, o regime de urgência para a tramitação do pacote anticorrupção aprovado na Câmara, desfigurado pelos deputados. Segundo reportagem do jornal O Estado de S.Paulo, Aécio foi o primeiro a articular a urgência da votação e o PSDB prometeu votos no requerimento, mas não cumpriu. Isso teria ocorrido por conta da forte reação contrária da sociedade e de alguns senadores no plenário.
No prêmio da revista Istoé, Moro foi eleito o "Brasileiro do Ano na Justiça". O prêmio principal da noite, de "Brasileiro do Ano" em todas as áreas, foi para Michel Temer. Nenhuma surpresa. Nos últimos meses, a revista passou a adotar um tom laudatório para tratar Temer, e chegou a afirmar que o PMDB era a "nau mais segura" para "recolocar o País nos trilhos".
http://www.cartacapital.com.br/blogs/parlatorio/moro-e-aecio-uma-foto-para-a-historia
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