"Sirvam nossas façanhas de modelo a toda terra.
O governador gaúcho do PMDB - junto com o PP, da senadora Ana Amélia, um dos partidos mais envolvidos na corrupção que está sendo desvendada pela Polícia Federal -, José Ivo Sartori, em reunião com o vive-presidente Michel Temer, se referiu ao estado que governa como "vaca morta".
Depois dar calote nos funcionários públicos, parcelar o pagamento dos já minguados salários dos policiais e jogar a capital do estado nas mãos dos bandidos, o recém eleito Sartori declara, com a sua costumeira sofisticação intelectual: "Não posso tirar leite de vaca morta".
Pergunta de quem não votou nele mas mora na vaca morta: se não pode fazer o serviço, por que se candidatou a ele?
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Enquanto isso, os sonegadores e seus arautos, que sangram os cofres públicos dos bilhões de reais que fazem falta para pagar policiais, médicos e professores, reclamam da corrupção alheia."
10/set/2015, 8h31min
Sartori, o caos e a vaca morta
Por Antonio Escosteguy Castro
Ninguém imaginava que o civilizado e politizado Rio Grande do Sul pudesse passar por dias tão caóticos quanto estas duas últimas semanas. Era inimaginável, duas semanas atrás, que a população ficaria em casa, com medo de sair na rua, em face de brutal acréscimo da criminalidade. A falência da segurança pública é o principal sintoma da paralisação do estado provocada pelos repetidos erros políticos do Governo Sartori.
Após a posse de Sartori, em janeiro, o estado passou por um longo período aguardando que o novo governo apresentasse um plano razoavelmente coerente para enfrentar a crise financeira que fora o principal tema da campanha eleitoral. De adiamento em adiamento (será depois do carnaval, será na Páscoa, será….) foram meses e meses de inação, pontuados por uma ou outra medida paliativa. A situação foi se agravando e a sensação de desgoverno espraiou-se.
Em julho, o governo foi para o brete que construiu para si mesmo nestes meses e decidiu pelo maior aumento de impostos da história do estado, num momento econômico recessivo. E aumento apenas do ICMS, um imposto sobre o consumo, que pesa mais sobre os mais pobres.
Face à evidente impopularidade da medida, agravada, ainda, pelo fato de que na campanha eleitoral Sartori prometera não aumentar impostos, o governo optou por criar uma crise para que o tarifaço surgisse como a solução. O parcelamento dos salários de julho não teve o resultado esperado na sociedade e deu oportunidade à maior unificação do movimento sindical dos servidores em várias décadas. Em agosto, o governo, desesperado por aprovar o pacote, apostou em redobrar a crise, com um severíssimo parcelamento de apenas 600 reais. E criou o caos.
Não é crível que as famílias de milhares de professores, brigadianos, policiais civis e outras categorias que já são mal pagas e vivem no limite da necessidade possam sobreviver com o mínimo de dignidade com o pagamento de um valor que muitas vezes não cobrirá o cheque especial e as contas debitadas no banco. Para milhares de pessoas, muito provavelmente 600 reais significou nada.
O estado parou, a polícia saiu das ruas, a população enclausurou-se apavorada. E a mais cruel estratégia política já utilizada no Rio Grande do Sul ainda assim não parece dar frutos, porque como ninguém consegue ver um plano coerente de enfrentamento à crise, não adianta dar dinheiro a quem não sabe o que fazer com ele…
O governo não inspira confiança alguma e Sartori não se ajuda. A infeliz afirmação feita ao vice-presidente Michel Temer de que o estado é uma "vaca morta" é a confissão de sua impotência frente à situação. A uma vaca morta não se pode fazer nada , a não ser esquartejar vender os pedaços. Talvez seja apenas isto que Sartori queira fazer. Pobre Rio Grande.
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Antonio Escosteguy Castro é advogado.
http://www.sul21.com.br/jornal/sartori-o-caos-e-a-vaca-morta/
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