Neste domingo, o Papa Francisco terminou a sua exaustiva viagem de seis dias a três cidades americanas com uma forte exortação aos católicos americanos de que não tenham medo de tentar coisas novas, mesmo que elas parecem ameaçar tradições há muito tempo praticadas ou as estruturas eclesiásticas existentes.
A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada por National Catholic Reporter, 27-09-2015. A tradução é deIsaque Gomes Correa.
Numa homilia a centenas de milhares de fiéis em missa ao ar livre no icônico Benjamin Franklin Parkway, na Filadélfia, Francisco disse que os discípulos de Jesus também tinham medo de coisas novas – mas que Jesus rompeu todas as barreiras para permitir que o Espírito fizesse o seu trabalho.
"Jesus encontra hostilidade nas pessoas que não aceitaram aquilo que fazia e dizia", contou o papa aos fiéis, entre os quais muitos tiveram de esperar por longas horas para participar na última das três missas públicas do pontífice no país.
"Para elas, a abertura de Jesus à fé honesta e sincera de muitas pessoas, que não faziam parte do povo eleito de Deus, parecia intolerável", disse o pontífice.
"Entretanto os discípulos estavam a agir em boa-fé", continuou o papa. "Mas a tentação de serem escandalizados pela liberdade de Deus, que faz chover tanto sobre os justos como sobre os injustos, ultrapassando a burocracia, o oficial e os círculos restritos, ameaça a autenticidade da fé e, por isso, deve ser vigorosamente rejeitada".
"Para Jesus, o escândalo intolerável consiste em tudo aquilo que destrói e corrompe a nossa confiança no modo de agir do Espírito", disse Francisco.
Deus, disse o papa, "não Se deixa vencer em generosidade, e semeia".
"Semeia a sua presença no nosso mundo, porque 'é nisto que está o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi Ele mesmo que nos amou' primeiro", concluiu. "Aquele amor dá-nos uma certeza profunda: somos procurados por Ele, Ele está à nossa espera".
"É esta confiança que leva o discípulo a estimular, acompanhar e fazer crescer todas as boas iniciativas que existem ao seu redor", acrescentou. "Pôr em dúvida a obra do Espírito, dar a impressão de que a mesma não tem nada a ver com aqueles que não são 'do nosso grupo', que não são 'como nós', é uma tentação perigosa".
"Não só bloqueia a conversão à fé, mas constitui uma perversão da fé", disse ele.
Francisco falava no domingo em uma missa que atraiu um número incrível de pessoas à região central da Filadélfia. A caminho da cerimônia, o Papa saudou as pessoas direto de seu papamóvel, esforçando-se para abrir espaço através da multidão densamente reunida.
O pontífice parou o veículo dezenas de vezes, apontando e chamando bebês para abençoar e beijar.
As medidas de segurança para visita de Francisco à Filadélfia foram extraordinárias. O centro da cidade simplesmente fechou num raio de vários quilômetros, com todo o tráfego de veículos impedido e as pessoas sendo obrigadas a seguirem a pé passando por postos de controle de segurança ao estilo dos aeroportos.
A Polícia Militar realizou o trabalho de patrulha das ruas, das multidões e lojas locais – às vezes ultrapassando em números os peregrinos.
Estas medidas causaram alguns problemas para muitos que desejavam assistir à missa, pessoas que tiveram de enfrentar filas enormes para entrar nos postos de segurança e que, devido a grande quantidade de fiéis, não conseguiram chegar a tempo ao evento. Um grupo de Nova Jersey havia entrado na linha às 10h para a missa, que seria realizada às 16h, mas acabou se vendo obrigado a desistir.
A homilia de Francisco no domingo foi a última de uma série de discursos poderosos que ele fez em sua viagem aos EUA. Francisco se encontrava no país desde terça-feira (22), visitando as cidades de Washington, Nova York, e Filadélfia.
Em Washington, ele falou com o presidente Barack Obama, ao Congresso e líderes políticos, assim como aos bispos americanos; em Nova York, ele discursou às Nações Unidas; e na Filadélfia dirigiu-se aos leigos e a um grupo de bispos internacionais.
Na homilia de domingo, Francisco refletiu sobre uma leitura do Evangelho que vê os discípulos perguntarem a Jesus se eles devem repreender o outro que está curando em seu nome. Jesus responde: "Não lhe proíbam. Pois quem não está contra vocês, está a favor de vocês".
O papa disse que, assim como a felicidade, a santidade está "ligada a pequenos gestos".
"São gestos mínimos, que uma pessoa aprende em casa; gestos de família que se perdem no anonimato da vida diária", disse ele. "São gestos de mãe, de avó, de pai, de avô, de filho".
"O amor exprime-se em pequenas coisas, na atenção aos detalhes de cada dia que fazem com que a vida tenha sempre sabor de casa. A fé cresce quando é vivida e modelada pelo amor", declarou o papa. "Por isso, as nossas famílias, as nossas casas são autênticas igrejas domésticas: são o lugar ideal onde a fé se torna vida e a vida se torna fé".
Ao comentar sobre a grande multidão ali reunida para a missa, Francisco disse: "Isso em si mesmo já é algo profético, uma espécie de milagre no mundo de hoje".
"Quem dera que fôssemos todos profetas!", falou. "Quem dera que cada um de nós se abrisse aos milagres do amor a bem de todas as famílias do mundo, para assim podermos superar o escândalo dum amor mesquinho e desconfiado, fechado em si mesmo, sem paciência com os outros".
Em seguida, o pontífice ofereceu um gesto de gratidão a todas as famílias.
"Toda a pessoa que desejar formar, neste mundo, uma família que ensine os filhos a alegrar-se com cada ação que se proponha a vencer o mal – uma família que mostre que o Espírito está vivo e operante –, encontrará a nossa gratidão e a nossa estima", completou Francisco.
"Independentemente do povo, região ou religião a que pertença".
Francisco retorna a Roma no domingo à noite, após um breve encontro com cerca de 500 membros do Encontro Mundial das Famílias, evento que ocorre a cada três anos promovido pelo Vaticano e que aconteceu na Filadélfia esta semana.
O pontífice será enviado da Filadélfia pelo vice-presidente Joe Biden e sua esposa Jill, que viajaram de Washington para despedirem-se formalmente do pontífice.
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