EX-JORNALISTA DA VEJA E FOLHA/SP: "A IMPRENSA BRASILEIRA É SEM VERGONHA E PARTIDÁRIA"
O jornalista e escritor Fernando de Morais é um dos 43 brasileiros que integram a delegação nacional no Salão do Livro de Paris. O autor promove a nova tradução de "Olga" para o francês. Morais participou na feira parisiense de várias sessões de autógrafos e palestras falando sobre biografias e sobre o Brasil de hoje.
Ao comentar neste domingo (22) a revelação de que o ex-ministro José Dirceu estaria envolvido na Operação Lava Jato, disse estar arrepiado. Mas ponderou que a informação "tanto pode ser verdade, quanto uma invenção. A imprensa brasileira é muito partidária."
Fernando Morais nasceu em Mariana-MG em 1946. É jornalista desde 1961. Trabalhou nas redaçoes do Jornal da Tarde, Veja, Folha de S. Paulo e TV Cultura. Recebeu tres vezes o Premio Esso e quatro vezes o Premio Abril de Jornalismo. Foi deputado (1978-1986), secretário da Cultura (1988-1991) e da Educaçao (1991-1993) do Estado de Sao Paulo.
Você já foi deputado nos anos 80, continua sendo um homem engajado, de esquerda. Como você avalia a situação política no Brasil hoje?
Vejo com muita tristeza, com muita preocupação. Sou luterano com essa questão da honestidade do homem público. Acho que todo mundo que sujou a mão com dinheiro público tem que ir para a cadeia e as penas tem que ser pesadas. (…) Eu não sou do PT, nunca fui. Aliás, tenho muitas divergências com o PT, tenho também algumas convergências. Mas estou nauseado com as denúncias.
Chegou a iniciar uma biografia sobre o ex-ministro José Dirceu, condenado no julgamento do Mensalão. Por que interrompeu o projeto?
Parei porque ele não tinha tempo. É um projeto anterior ao Mensalão. Eu não sou amigo do José Dirceu. Mas estou convencido de que neste caso do Mensalão, o crime que o PT cometeu não é de natureza penal, é de natureza eleitoral. Eles fizeram o que todos os partidos no Brasil fazem, que é o chamado caixa dois. (…) Isso é um crime eleitoral e eles estão sendo condenados por um crime previsto pela legislação penal. A partir do momento que o José Dirceu foi envolvido, passou a ser praticamente impossível eu ficar tomando depoimentos dele porque ele precisava cuidar da sua liberdade. (…) Então, nós paramos. Quando ele foi solto, eu já estava envolvido em um outro projeto, que é um livro sobre o ex-presidente Lula.
Você fala em crime eleitoral no caso do Mensalão, mas revelações atuais mostram que o nome do José Dirceu está envolvido na Operação Lava Jato.
Eu estou arrepiado. Eu vi hoje na manchete da Folha de São Paulo a notícia que ele arrecadou quase R$ 30 milhões como consultor. É um negócio inacreditável. É uma montanha de dinheiro. Eu vejo isso com temor, mas é preciso levar em consideração que a imprensa brasileira é muito sem vergonha. Isso tanto pode ser verdade, quanto pode ser uma invenção. E isso quem está falando é um jornalista que trabalhou em todos os veículos do Brasil, pelo menos nos mais importantes. É preciso tomar muito cuidado paraler a imprensa brasileira que é uma imprensa, sobretudo, partidária. Em qualquer lugar do planeta, de Cuba a Washington, imprensa está sempre a serviço dos interesses e da ideologia de quem paga as contas no final do mês. O que eu acho que pode revolucionar esse processo é a internet, porque a internet é um campo de livre atiradores. Eu gostaria de poder voltar à imprensa, sobretudo, para dizer essas coisas que eu estou te dizendo aqui. Muito provavelmente, se isso fosse numa rádio brasileira, não seria dado e, se fosse, seria editado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário