Thomas Piketty e O Capital no Século XXI
O livro do francês Thomas Piketty sobre a história do capital e sua repartição passou a ser o mais vendido na Amazon. Encontrou mecanismos que explicam a desigualdade económica e o desenvolvimento de uma sociedade de herdeiros.
Quando o li, há umas semanas, estava ainda longe de imaginar o brutal impacto que ele viria a ter. Apesar das quase 700 páginas da edição inglesa, e das quase 1000 da edição francesa, atingiu recentemente a surpreendente condição de ser o mais vendido na Amazon. Paul Krugman chamou-lhe “o livro da década”. Stiglitz, Solow, Milanovic e outros economistas de topo foram igualmente elogiosos. Escreveram-se entretanto dezenas de recensões. Todos os dias aparece uma nova, ou mais do que uma. As recensões mais recentes são quase todas de economistas de direita que procuram pôr em causa as principais teses de Piketty. Outras são igualmente críticas, embora venham de economistas de esquerda. A estes, Piketty parece porventura demasiado favorável ao capitalismo; àqueles, demasiado hostil. De facto, a sua concepção do capitalismo implica, por um lado, prezá-lo como um extraordinário produtor de riqueza, de inovação, de tecnologia, de bem-estar, em suma: de desenvolvimento — mas, por outro, implica condená-lo como um sistema que tende a repartir a riqueza de um modo demasiado desigual e, na verdade, injusto e anti-democrático.
Felizmente, Piketty não escreve apenas para economistas, nem sequer apenas para especialistas das diversas áreas das ciências sociais e humanas. “A repartição da riqueza é uma questão demasiado importante para ser deixada apenas a economistas, sociólogos, historiadores e filósofos. Ela interessa a toda a gente, e ainda bem”, sublinha na introdução. Por esta razão, não há praticamente nada no livro que não esteja explicado de forma bastante elementar e clara — de tal forma, aliás, que o volumoso calhamaço se lê quase como um romance.
II. Para ser mais exacto, o volumoso calhamaço lê-se como um livro de história económica e, em grande medida, é um livro de história económica. Esta é provavelmente uma das razões por que muitas das recensões escritas por economistas são tão negativas e, em muitos casos, distorcem tão gravemente as teses de Piketty (nalguns casos, isso explica-se também pelo facto de os recenseadores fingirem ler um livro que não leram). Alguns dos economistas que escreveram sobre o livro pressupuseram que as teses de Piketty não poderiam não pretender ter o estatuto de verdades a priori de um modelo económico — quando, na verdade, pretendem ter apenas o estatuto de verdades históricas e, portanto, empíricas; outros perceberam bem a sua natureza apenas histórica e empírica — mas consideraram que, precisamente por isso, o livro não prova o que pretende provar, sobretudo quando fala do futuro.
Mas façamos a pergunta que todas as recensões têm feito e devem fazer: estamos, de facto, perante um livro que diz algo de fundamentalmente novo e muda a nossa forma de olhar para o mundo? um livro que faz avançar decisivamente a nossa compreensão do mundo em que vivemos e que, por isso, interessa, não apenas a economistas, e não apenas a sociólogos, historiadores e filósofos, mas, de facto, a toda a gente?
O livro é uma história do “capital”, como o título indica. “Capital”, para Piketty, tem um sentido lato (na verdade bastante conforme com o uso comum do termo), e significa o mesmo que “património”, ou “riqueza”: designa todo e qualquer “activo” (financeiro ou não financeiro, produtivo ou não produtivo) em que seja possível investir e que possa, por isso, proporcionar um retorno, seja este um retorno explícito (sob a forma, por exemplo, de rendas, dividendos, juros, ou lucros), seja um retorno implícito (como, por exemplo, a renda de habitação que não se paga quando se tem casa própria). Segundo Piketty, só este conceito de capital (nada usual na ciência económica) permite compreender o capitalismo e estudar a desigualdade económica no sistema capitalista — só esse conceito de capital permite desenvolver os métodos e explorar as fontes que conduzem à compreensão dos mecanismos da distribuição desigual do património, isto é, dos mecanismos que explicam a desigualdade não apenas (e não tanto) como um fenómeno resultante de diferenças salariais (ou de rendimentos do trabalho) quanto de diferenças na repartição da riqueza (e, portanto, no retorno do capital).
http://www.publico.pt/economia/noticia/thomas-piketty-e-o-capital-no-seculo-xxi-1636132
18/03/2014 - Copyleft
Thomas Piketty: a não ser que ajamos, a desigualdade global vai piorar
A não ser que ajamos, a desigualdade em nível global vai se tornar muito pior, vindo eventualmente a tornar as nossas instituições uma piada.
Jacob S. Hacker e Paul Pierson
Nos anos 1990, dois jovens economistas franceses, então ligados ao Massachusetts Institute of Technology (MIT), Thomas Piketty e Emmanuel Saez, começaram o primeiro esforço rigoroso para reunir dados sobre desigualdade nos países desenvolvimentos, ao longo de décadas. No estouro da crise, em 2007, questões fundamentais de economia que até então vinham sendo ignoradas chamaram a atenção. A pesquisa de Piketty e de Saez estava pronta, com dados que mostravam que as elites nos países desenvolvidos tinham, nos últimos anos, enriquecido muito mais do que a população em geral e do que a maioria dos economistas haviam suspeitado. Ao longo da década passada, de acordo com Piketty e Saez, a desigualdade tinha retornado a níveis próximos daqueles do início do século XX.
No último outono, Piketty publicou sua obra magna, O Capital no Século XXI, na França. O livro busca modelar a história, as tendências recentes, e volta ao futuro do capitalismo no século XIX. The American Prospect perguntou a especialistas e acadêmicos que estudam a desigualdade para analisarem o argumento de Piketty e o impacto potencial dele sobre as políticas dos Estados Unidos.
Jacob S. Hacker, diretor do Institution for Social and Policy Studies e Stanley B. Resor, professor de Ciência Política na Universidade Yale, Paul Pierson, o Professor de Ciência Política da cadeira John Gross, na Universidade da Califórnia, em Berkeley, são os co-autores, mais recentemente, do “Winner-Take-All Politics: How Washignton Made the Rich Richer and Turned Its Back on the Middle Class” [algo como: “O vencedor sempre ganha, na Política: como Washington tornou os ricos mais ricos e deu as costas para a classe média”]. Heather Boushey é diretora executiva e economista chefe no Washington Center for Equitable Growth. Branko Milanovic é professor visitante no Graduate Center, da Universidade da Cidade de Nova York, um pesquisador sênior do Luxembourg Income Study Center, e o autor de The Haves and the Have-Nots: A Brief and Idiosyncratic History of Global Inequality [algo como: Os que têm e os que não têm: uma breve e idiossincrática história da desigualdade global].
Um Tocqueville para hoje
Jacob S. Hacker e Paul Pierson
Quando Alexis de Tocqueville visitou a América no começo dos anos 1830, o aspecto da nova república que mais o entusiasmou foi a sua notável igualdade social. “A América, então, exibia no seu estado social um extraordinário fenômeno”, disse Tocqueville, maravilhado. “Lá os homens parecem ter muito mais igualdade no que respeita às condições materiais e intelectuais... do que em qualquer outro país do mundo, ou em qualquer outra época de que se tenha memória”.
Para Tocqueville, que ignorava quase completamente a exceção sombria do Sul, o progresso americano em direção a uma maior igualdade era inevitável, a expansão de seu espírito democrático, imbatível. A Europa, acreditava ele, em breve seguiria a liderança da América. Ele estava certo – de certa forma. A democracia ascendia, mas a desigualdade, também. Somente com a Grande Depressão do Século XX, com duas terríveis guerras e com a criação de um estado moderno de Bem Estar Social a concentração de riqueza nas democracias ricas começou a se dissipar e os frutos do rápido crescimento começaram a implicar ganhos generosos para os trabalhadores comuns.
Agora, um outro francês, com uma visão panorâmica – e evidências muito mais precisas – quer nos fazer pensar de nova maneira a respeito do progresso da igualdade e da democracia. Embora herdeiro da tradição analítica da história, de Tocqueville, Thomas Piketty tem uma mensagem que não poderia ser mais diferente: a não ser que ajamos, a desigualdade vai se tornar muito pior, vindo eventualmente a tornar as nossas instituições uma piada. Com a riqueza cada vez mais concentrada, os países competindo para concederem mais isenção fiscal ao capital e à herança vindoura, para rivalizar com o empreendendorismo, como fonte de ricos, uma nova elite patrimonial pode se provar tão inevitável como Tocqueville certa feita acreditou a igualdade democrática era.
Essa previsão está baseada, não na especulação, mas em fatos reunidos através de pesquisa prodigiosa. Os números espantosos de Piketty mostram que a distribuição da renda nacional oriunda do capital – que já se acreditou ser estável – está em ascensão. A riqueza privada alcançou novas altas relativas à renda nacional e está se aproximando de níveis de concentração que não se tinha desde antes de 1929.
O movimento intelectual poderoso de Piketty consiste em situar o tema da desigualdade econômica da América num contexto histórico mais amplo e transnacional. As forças responsáveis por nosso igualitarismo passado, lembra-nos Piketty, foram o rápido crescimento – tanto o populacional, como da economia como um todo. A França nunca teve o primeiro, que é a razão por que o país teve uma verdadeira classe “rentista” de proprietários aristocratas no começo do Século XX, quando os EUA ainda era uma terra de pequenos proprietários e de novos ricos. Ainda assim, o crescimento econômico segue como o grande fator: quando a economia se expande modestamente, ano a ano, o retorno em capital excede geralmente o crescimento da renda do trabalho, e as fortunas dos já ricos cresce, ao passo que o resto da sociedade decresce.
Desde o ressurgimento da desigualdade de renda, observadores preocupados vêm se concedendo conforto com a noção de que os donos da riqueza – ainda mais desigualmente distribuída que a renda – não estão se formando tão rapidamente com a renda ela mesma. Se olharmos para frente, no entanto, essa noção reconfortante parece suspeita. Algumas das maiores fortunas constituídas na nova era de ouro financiará a filantropia ou a frivolidade. A maior parte, no entanto, será afunilada de volta, em investimentos de capital ou repassada para herdeiros.
Piketty observa que os retornos desses investimentos são invariavelmente maiores para aqueles com maior riqueza – o efeito Matthew (*) é uma outra força de aumento da concentração. Enquanto isso, as heranças estão voltando como uma fonte maior de vantagem para os já avantajados. Enquanto a desigualdade de renda desce até uma pirâmide demográfica que se estreita, podemos esperar que as heranças se tornem uma fonte crescentemente importante de herança de privilégios.
Piketty é acertadamente pessimista quanto a uma resposta imediata. A influência da riqueza na política democrática e em como pensamos a respeito de mérito e recompensas oferece obstáculos formidáveis. Fortalecer a competição internacional para os ricos e os seus dólares leva Piketty a acreditar que, sem um contra-movimento sério, a taxação de capital tenderá a zero. A desigualdade está se tornando um problema tão “terrível” como a mudança climática – em que a solução deve não apenas superar poderosos interesses entrincheirados em países individuais, como ser global, para ser efetiva.
No entanto, é a taxação do capital e, em última análise, a taxação de capital global, que Piketty vê como solução eventual. Taxar apenas o consumo e a renda do trabalho viola a noção de que indivíduos deveriam financiar a riqueza comum com base em sua capacidade de pagar. Uma taxa global de capital – modesta, progressiva, baseada na transparência – poderia reforçar o conflito entre capacidade econômica e contribuição individual para atividades coletivas. Mais ainda, processo hesitante nessa direção já vem ganhando espaço, na medida em que países ricos visam a – sem grande sucesso, até agora – acabar com os paraísos fiscais e com a engenharia financeira das corporações que cada vez mais tornam a taxação voluntária para os super ricos. Porque a riqueza está ainda tão concentrada nas nações de industrialização avançada, acordos que abarquem cidadãos e transações no interior da Europa e da América do Norte ainda terão um longo caminho pela frente, até que essas atividades sejam trazidas às claras. Uma taxa modesta sobre as grandes fortunas também pode encorajar usos mais produtivos de capital, taxando gradualmente grande patrimônio com pouco retorno.
Piketty sugere que pressões por mudanças eventualmente provar-se-ão convincentes. Ou os capitalistas mais ricos vão se desagregar na competição pela diminuição dos custos, ou o resto da sociedade vai se levantar e impor um quadro mais justo. Para um livro que insiste no primado da política, no entanto, Piketty tem relativamente pouco a dizer a respeito de como – com as organizações ligadas ao mundo do trabalho enfraquecidas, com os interesses da finança fortalecidos, e com as forças anti-governo incentivadas – o tipo de movimento político necessário para a emergência de um futuro mais justo. (Foi afinal a guerra, não o sufrágio universal, que em última análise subjugou a desigualdade no século XX). Ainda assim, talvez com esse livro magistral, as realidades problemáticas que Piketty desenterra tornar-se-ão mais visíveis e as racionalizações do privilégio que as sustentam se tornem menos dominantes. Assim como Tocqueville, Piketty nos deu uma imagem de nós mesmos. Desta feita, uma a que deveríamos resistir, não dar boas vindas
(*) Efeito Mathew: “diz respeito ao fato de que a contribuição de certos cientistas é valorizada mais do que o devido. Este termo foi criado por Robert Merton para descrever como cientistas eminentes quase sempre levam mais crédito que um pesquisador desconhecido, mesmo se o trabalho for similar. Exemplo: John von Neumann é considerado o pai do computador, mas sua contribuição é residual.
Um corolário é o Efeito Matilda que afirma que o trabalho de uma mulher em ciência quase sempre é ignorado”. In: http://www.contabilidade-financeira.com/2008/08/efeito-matthew-e-matilda-em-cincias.html (N.deT).
Tradução: Louise Antônia León
(*) Publicado originalmente na The American Prospect
http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Thomas-Piketty-a-nao-ser-que-ajamos-a-desigualdade-global-vai-piorar/4/30502
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16/03/2014 - Copyleft
Em defesa da imaginação política utópica
A grande novidade no debate sobre a desigualdade é a publicação do monumental livro de Thomas Piketty, O Capital no Século XXI.
A grande novidade no debate sobre a desigualdade na semana que passou foi a publicação do monumental livro de Thomas Piketty a respeito do tema, “O Capital no Século XXI”. Eu falei a respeito do livro na minha resenha para o The Washington Monthly ; você também pode ler três resenhas no The American Prospect, assim como a crítica de Jean Baker no Huffignton Post. Paul Krugman discute alguns dos pontos técnicos do livro aqui.
Este livro está fazendo muito barulho, por excelentes razões. Comecemos com seu aparato técnico. Piketty, economista francês, reuniu uma base de dados formidável sobre riqueza e renda de várias nações que, em alguns casos, chega a antes do Século XIX. Isso lhe permitiu conduzir uma análise muito mais rigorosa e sistemática da história da desigualdade do que a geração anterior de pesquisadores.
O que também é estimulante no livro é a sua ambição e seriedade moral. Que se lhe reconheça o mérito: este cara escreveu nada menos um livro de 700 páginas, nas quais oferece uma grande teoria da dinâmica da desigualdade e da acumulação de capital, historicamente lastreada. Ao fazê-lo, ele recuperou um projeto que a maioria dos outros economistas abandonou há muito. Desde a “Curva de Kuznets”, de Simon Kuznets, nos anos 50 do século passado, não se tem um economista mainstream com uma investigação tão completa sobre a desigualdade.
Certamente, Piketty é mais responsável do que qualquer economista vivo pelo retorno da questão da distribuição de volta ao domínio que pertence: o centro da análise econômica. Esta é a pesquisa de Piketty e de seus colegas, como Emmanuel Saez, que primeiro demonstrou a profundidade e o alcance do problema da desigualdade econômica. Eles também identificaram o fato crucial de que a desigualdade em espiral é dirigida, sobretudo, por 1% dos mais ricos, na distribuição de renda. De acordo com os dados mais recentes de Piketty, nos EUA, os 10% mais ricos recebiam mais de um quinto de toda a riqueza. A desigualdade de renda neste país alcançou o maior nível dos últimos 100 anos.
É o caso lembrar que, durante a mesma década, enquanto a desigualdade continuava a aumentar, o livro econômico best-seller, de autoria de um jovem e aclamado economista premiado, orgulhosamente se dedicava a tópicos tão espetaculares e chamativos quanto trapaceiros, típicos de lutadores de sumô. Bem, este é o professor de economia estadunidense que se tem disponível por aqui.
Este O Capital trata de um tema cuja urgência é parte do que o torna tão bem vindo. E a lucidez incomum da escrita de Piketty torna-o tão acessível ao leitor externo – sem o jargão acadêmico horroroso, impenetrável – é especialmente admirável.
O mais impressionante de tudo, no entanto, é a poderosa análise de Piketty. O argumento do livro, em resumo, é este: sabe o período de declínio da desigualdade que experimentamos ao longo do século XX, que alguns de nós consideraram que duraria para sempre? Bem, ocorre que esse período foi, na verdade, uma exceção maior na história, e não uma norma.
Foi uma exceção porque a Grande Depressão e as duas guerras mundiais irromperam a ordem natural das coisas, criaram a necessidade do aumento de tributos, destruíram (na Europa) muito do capital físico, e deram espaço para a criação e o equilíbrio de um mercado de trabalho e de instituições políticas democráticas e, na deliciosa frase cunhada por John Maynard Keynes, “eutanasiaram a classe rentista”. Isso levou a um período estendido em que a taxa de crescimento econômico excedeu a de retorno de capital. Mas esse período não existe mais e estamos retornando rapidamente aos níveis de desigualdade que não eram vistos desde o século XIX. Dada a improbabilidade de altas taxas de crescimento econômico voltarem, estamos condenados a uma desigualdade em espiral – a não ser que façamos algo a respeito.
O “algo” que devemos fazer, de acordo com Piketty, está ligado à taxação da riqueza global, uma ideia que ele admite ser “utópica”. Ele também tem a ver com um aumento acentuado nas taxas marginais de imposto de renda dos que ganham muito, que eu discuto aqui.
Alguns liberais conhecidos que leram o livro não estão apaixonados por ele. Eles o acham muito determinista, acreditam que a visão de Piketty é sombria demais. Mas, a não ser que você acredite que o crescimento às taxas antigas voltará – algo que até economistas tradicionais como Larry Summers vem pondo, afinal, em dúvida –, o argumento de Piketty é difícil de refutar.
Também é verdade que há aspectos importantes da desigualdade econômica que esse livro não aborda. Se você quiser entender a política econômica da desigualdade – como nosso sistema político permitiu a ascensão dos 1% - eu recomendo vivamente o livro de Jacob Hacker e Paul Pierson: Winner Take-All Politics [algo como: o vencedor leva vantagem em todas as políticas]. E se você quiser entender o efeito da desigualdade em nossos corpos e almas, então o livro de Göran Thersbon, The Killing Fields of Inequality [Os Campos Mortais da Desigualdade] é o livro para você.
Piketty vai além ao traçar a história da desigualdade econômica e ao analisar suas causas. Nesta resenha, Dean Baker tem um ponto excelente: que os impostos sobre a riqueza e a renda não são a única maneira de golpear os 1%. Ele menciona as correções ou ajustes propiciados por governos, como o enfraquecimento da legislação de patentes, em detrimento do interesse das megacorporações, a regulamentação dos monopólios de telecomunicação e rede a cabo e a instituição de tributos sobre transações financeiras, tudo isso também poderia ajudar a pôr rédeas na elite rentista. Essas reformas certamente ajudariam, e seriam muitíssimo mais realistas, do ponto de vista político, do que a taxação sobre a riqueza global, de Piketty. Mas nenhuma dessas medidas tem o potencial transformador daquele proposto por Piketty.
De acordo com ele, se ações políticas razoavelmente dramáticas não forem tomadas para reverter a desigualdade, teremos um sombrio e desigual futuro. Ele torna isso claro. As intervenções políticas que ele julga necessárias – uma taxa sobre a riqueza global, taxas marginais de imposto de renda que excedam 80% - vem sendo desprezadas por alguns. “É muito impraticável!”. Mas, como Adolph Reed e outros têm argumentado ultimamente, já passou há muito o tempo da esquerda americana começar a abraçar a utopia. Se não o fizermos, podemos bem estar nos condenando a um destino distópico.
Tradução: Louise Antônia León
http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Em-defesa-da-imaginacao-politica-utopica/4/30487
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