A crise do neoliberalismo: origens, desenvolvimento e perspectivas
24.04.2014 - 09.05.2014
O renomado economista francês Gérard Duménil estará no Brasil entre abril e maio para um ciclo de conferências de lançamento de seu mais recente livro A crise do neoliberalismo. Escrito em conjunto com Dominique Lévy, outro influente pesquisador do neoliberalismo, o livro reconta a história desse novo estágio do capitalismo: do colapso dos subprimes à dita “Grande Contração”. Ao discutir a financeirização econômica, a reestruturação produtiva, as lutas de classes e as relações internacionais às portas de uma nova ordem global multipolar, os autores propõem uma reflexão fundamental à compreensão da história e dos rumos da economia...............................................................................
A crise do neoliberalismo
ano de publicação 20144
Em A crise do neoliberalismo, Gérard Duménil e Dominique Lévy, dois dos mais influentes pesquisadores sobre o neoliberalismo, recontam a história desse novo estágio do capitalismo: do colapso dos subprimes à dita “Grande Contração”. Ao discutir a financeirização econômica, a reestruturação produtiva, as lutas de classes e as relações internacionais às portas de uma nova ordem global multipolar, os autores propõem uma reflexão fundamental à compreensão da história e dos rumos da economia.
O livro traz uma análise da chamada “Grande Contração” de 2007-2010 no contexto da globalização neoliberal iniciada nos primeiros anos da década de 1980. Com uma abordagem crítica não dogmática, Duménil e Levy articulam uma enorme quantidade de dados perturbadores para revelar, como saldo da globalização neoliberal, o enriquecimento dos 5% norte-americanos mais ricos, em paralelo à redução de 40% para menos de 10% do PIB dos Estados Unidos em trinta anos. A queda do investimento interno na indústria, uma dívida doméstica insustentável e a crescente dependência de importações, aliados ao financiamento e ao desenvolvimento de uma estrutura financeira global frágil e impraticável, ameaçam a força do dólar. A menos que haja uma alteração radical da organização político-econômica do país, os autores preveem um declínio agudo da economia norte-americana – e não hesitam em diagnosticar: “Sair da crise vai ser muito difícil”.
A do neoliberalismo é a quarta crise estrutural do capitalismo desde o fim do século XIX. A comparação com as crises anteriores – das décadas de 1890, 1930 e 1970 – coloca em perspectiva a análise profunda e detalhada que os autores fazem da situação atual. Contrapondo-se a diversas explicações sobre a crise econômica vigente, eles defendem a tese ousada de que a contração econômica em curso, à semelhança da Grande Depressão de 1929, é uma crise da hegemonia financeira.
Em vez de lançar a culpa sobre indivíduos isolados, como o fazem, por exemplo, Alan Greenspan e Ben Bernanke, Duménil e Levy concentram-se nas forças estruturantes da economia. Para eles, a presente crise é resultado direto das contradições inerentes ao próprio projeto neoliberal. Suas tendências abalaram as fundações da economia da “base segura” – isto é, a capacidade dos Estados Unidos de crescer, manter a liderança de suas instituições financeiras em todo o mundo e assegurar a posição dominante de sua moeda –, uma estratégia imperial e de classe que resultou em um impasse. Segundo os autores, consertar a quebra da economia norte-americana exige a imposição de limites sobre o livre comércio e a livre movimentação de capitais, além de políticas destinadas a aprimorar a educação, a pesquisa e a infraestrutura; a reindustrialização e a fixação de tributação das rendas mais altas.
Como observa Armando Boito Jr. no texto de orelha, “Diferentemente da maioria dos economistas, e inclusive de boa parte dos economistas críticos, Duménil e Lévy articulam a análise econômica com a sociológica e a política”. Assim, esboçam a natureza de um novo modelo – que, após essa crise estrutural, viria substituir o capitalismo neoliberal – a partir das dinâmicas da luta de classes e da correlação política de forças nos diferentes países e em escala internacional.
A crise do neoliberalismo conta ainda com um prefácio inédito escrito especialmente para a edição brasileira, em que os autores atualizam sua análise com considerações acerca do lugar da União Europeia e do Brasil no cenário global, fazendo um balanço das políticas econômicas brasileiras a partir de 2000.
Crítica
“A crise do neoliberalismo é um relato criterioso dos fatores que levaram ao declínio econômico. Como Duménil e Lévy deixam claro, a economia não pode mais retornar à sua trajetória pré-crise”.
– Dean Baker, Center for Economic and Policy Research
“Esta discussão político-econômica original e rigorosa do capitalismo neoliberal global mostra a profundidade das raízes da crise atual e até que ponto ela será obstinadamente resistente aos remédios convencionais”.
– Duncan K. Foley, New School for Social Research
“Um tratamento ambicioso e original da atual crise econômica global. Duménil e Lévy oferecem uma profunda narrativa estatística e histórica e uma estrutura analítica abrangente".
– Thomas R. Michl, Colgate University
Trecho do livro
“Com relação à fase mais recente do neoliberalismo, a partir do ano 2000, a economia brasileira é típica dos países que encontraram uma posição muito satisfatória na globalização neoliberal. O país evitou uma dependência excessiva da economia mundial. Um aspecto importante foi o grande superávit no comércio externo na meia década depois do ano 2000, o período de crescimento relativamente rápido mencionado anteriormente. A economia brasileira conseguiu redirecionar o seu comércio externo para a China. (Durante os últimos anos, as exportações brasileiras para esse país foram maiores que aquelas para os Estados Unidos.) Outra questão, mais controversa, é a natureza da ordem social prevalente no país. O Brasil é um país neoliberal? De um lado, desde o final da década de 1990, a renda per capita a preços constantes aumentou de R$ 15 mil para R$ 20 mil (preços de 2010), com algum impacto positivo nas “classes médias”. O componente de welfare das novas políticas é aplaudido. Porém, por outro, o setor financeiro do Brasil é muito poderoso, como geralmente se dá em situações neoliberais típicas, e o aumento das grandes riquezas foi enorme. Durante os últimos anos, o número de bilionários aumentou muito mais no Brasil que em outros grandes países latino-americanos. Os protestos recentes, exigindo mais democracia e maior compromisso do Estado para resolver os problemas do povo, levarão o governo para a esquerda?"
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