Venezuela, futuro e memória
Cerca de metade da população atual da Venezuela não era nascida ou era criança quando Hugo Chávez se elegeu presidente, em 1998. Parte não viveu e parte não teve exata percepção do que foram as duas décadas de crise que o país viveu, fruto da queda dos precçs do petróleo e do experimento neoliberal num país em que toda a economia sempre foi extremamente dependente do Estado. A batalha da Venezuela neste domingo é uma batalha pelo futuro, solidamente ancorada na construção da memória dos anos recentes. O artigo é de Gilberto Maringoni, direto de Caracas.
Gilberto Maringoni
Oito milhões de habitantes da Venezuela têm entre 15 e 24 anos, numa população total de 30 milhões. Os números são das projeções do Censo de 2011 para este ano. Outros 8,5 milhões têm entre 0 e 14 anos. Isso quer dizer que metade da população não era nascida ou era criança quando Hugo Chávez se elegeu presidente, em 1998. Parte não viveu e parte não teve exata percepção do que foram as duas décadas de crise que o país viveu, fruto da queda dos precçs do petróleo e do experimento neoliberal num país em que toda a economia sempre foi extremamente dependente do Estado (que, por sua vez, depende da renda petroleira).
Para essas parcelas, as conquistas sociais do governo de Hugo Chávez já são parte da paiagem. Quando elas chegaram a idade de maior discernimento, não sentiram a tensão política que o país viveu para que se materializassem os seguintes indicadores:
1) Em 1999, a Venezuela tinha 49% da sua população urbana em situação de pobreza e indigência. Em 2010, este percentual foi reduzido para 28%.
2) Entre 26 cidades selecionadas no continente, o menor índice de Gini entre seus habitantes é o de Caracas, que é inferior a 0,40. No Brasil, é 0,5. Este índice mede a desigualdade de renda.
3) Nas cidades da Venezuela, mais de 80% das residências são ocupadas por seus proprietários. Na Colômbia, este número é inferior a 50%. A Venezuela é a melhor neste quesito; a Colômbia, a pior.
4) Na América Latina e no Caribe, a proporção de população urbana que tem saneamento está entre 80 e 85%. Na Venezuela, está próxima de 95%. Na Venezuela, 90% da população urbana recebem água encanada.
5) De 21 países selecionados, a maior cobertura de coleta de lixo urbana ocorre na Venezuela. A pior está no Paraguai.
6) Em 21 cidades selecionadas, mostra-se que o gasto médio mensal de um usuário regular de ônibus; em Caracas, é de 6% do salário mínimo. Em Buenos Aires, se gasta 5% e, em São Paulo e no Rio de Janeiro, 12%.
Tais dados não fazem parte de nenhum panfleto de Nicolás Maduro. Fazem parte de uma publicação da ONU denominada "Habitat", lançada em agosto de 2012, que avalia condições de vida urbana em toda a América Latina. A compilação acima foi feita pelo economista Joao Sicsú, da UFRJ.
Mesmo com tais conquistas, ainda há muito a ser feito na Venezuela. A inflação está por volta de 27% ao ano, o país precisa romper a extrema dependência do petróleo e a violência está muito alta. Apesar de graves, são problemas muito menores que os dos paíes da periferia da Europa, que vivem uma crise sem fim.
Sem ter sentido na pele a situação anterior, parte da juventude venezuelana quer mais. São esses pontos que a campanha do opositor Henrique Capriles elegeu como principais, tentando atingir esse eleitorado jovem. Para isso, conta também com o esquecimento de um fato distante: sua ativa participação no golpe de 2002.
A batalha da Venezuela neste domingo é uma batalha pelo futuro, solidamente ancorada na construção da memória dos anos recentes.
Os dados da população por faixa etária estão aqui:
(http://www.ine.gob.ve/documentos/Demografia/SituacionDinamica/Proyecciones/html/PoblacionEdad.html)
A participação de Capriles no golpe está aquí:
http://www.youtube.com/watch?v=h0fPkXKHZRc
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=21895
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