A paz do viúvo Thatcher
Por Emir Sader.
Margareth Thatcher foi uma das protagonistas essenciais do final da guerra fria e do começo do período histórico atual, junto com Ronald Reagan e com o Papa João Paulo II. O trio promoveu ativamente o fim da URSS e a passagem a um mundo sob hegemonia imperial norte-americana. Ao mesmo tempo, Thatcher e Reagan foram os garotos propaganda do modelo neoliberal. Assim, Thatcher deixa no mundo contemporânea suas digitais sobre os dois elementos essenciais do nosso tempo: o imperialismo norte-americano e o modelo neoliberal.
Como todos os líderes neoliberais, Thatcher começou seu mandato peitando uma greve operária (de trabalhadores do carvão), levando à quebra do setor. (Reagan peitou a greve dos controladores aéreos; Berlusconi, os operários da Fiat; FHC, os petroleiros etc.). Era a demonstração que o tempo dos acordos tinha terminado e que uma dura política anti-operária estava a caminho.
Os governos neoliberais – ainda a grande maioria no mundo – representam o maior atentado aos direitos da massa da população que a história contemporânea conheceu. São produto e, ao mesmo tempo incentivam, a ditadura sem freios do capital sobre o mundo do trabalho. São eles que introduziram o mundo atual: o fim do Estado de bem estar social na Europa – um continente que teve pleno emprego durante três décadas e hoje amarga índices recordes de desemprego -, a crescente desigualdade e exclusão social, o clima de guerras e de intolerância.
Por isso Thatcher é uma queridinha da direita mundial. Ela ousou o que outros governantes não ousavam em termos de expropriação de direitos dos trabalhadores, de repressão aos sindicatos, de exposição descarnada do discurso do enfrentamento violento dos conflitos sociais. Por isso é odiada pelos trabalhadores e saudada pelo grande empresariado e seus porta-vozes.
Thatcher é a continuidade do conservadorismo da Rainha Vitória no século XIX e de Winston Churchill ao longo do século XX. É a grande antecessora e referência de Angela Merkel.
Apesar das vitórias inquestionáveis que obteve na sua carreira política, Thatcher morreu amargurada. Fui assistir o filme sobre sua vida [A dama de ferro] sentado perto da porta, pronto para abandonar a sala ao menor assomo de humanidade que pudesse aparecer na representação de sua figura. Mas fiquei até o final, porque a brutalidade do personagem foi retratado tal qual era. Já na primeira cena, aposentada, vivendo numa agradável casa londrina, ela dá um esporro gigantesco no seu marido já no café da manhã, porque ele passava muita manteiga no pão.
Mr. Thatcher é um sujeito que vive em paz agora. Sem ela.
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Emir Sader nasceu em São Paulo, em 1943. Formado em Filosofia pela Universidade de São Paulo, é cientista político e professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). É secretário-executivo do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso) e coordenador-geral do Laboratório de Políticas Públicas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). Coordena a coleção Pauliceia, publicada pela Boitempo, e organizou ao lado de Ivana Jinkings, Carlos Eduardo Martins e Rodrigo Nobile a Latinoamericana – enciclopédia contemporânea da América Latina e do Caribe (São Paulo, Boitempo, 2006), vencedora do 49º Prêmio Jabuti, na categoria Livro de não-ficção do ano. Colabora para o Blog da Boitempo quinzenalmente, às quartas.
http://blogdaboitempo.com.br/2013/04/10/a-paz-do-viuvo-thatcher/
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