Preocupa, porém, a ausência de uma agenda consolidada para sua visita. O que, exatamente, Obama vem fazer no Brasil?
Notas na imprensa dão conta de que ele pretende fazer um pronunciamento público para uma multidão (provavelmente no Rio de Janeiro), visitar projetos sociais e reunir-se com lideranças políticas. É, mais uma vez, um elogio ao país, mas há mais que fazer no Brasil do que festejar nossa condição de candidatos a potência mundial.
Sobretudo na área econômica, o governo terá muito o que cobrar dos americanos, a começar pelas barreiras comerciais. Os EUA são um país que investe pesado nos subsídios ao agronegócio, o que gerou atritos com nossos produtores de algodão, disputa que se encerrou em acordo; e laranja, caso em que a OMC (Organização Mundial do Comércio) penalizou os Estados Unidos por suas políticas antidumping.
Além disso, há os subsídios à produção de milho para o refino de biocombustível, mercado que o Brasil buscou ocupar com o etanol retirado da cana-de-açúcar - mais barato, mais eficiente, menos poluente e que não inviabiliza a produção de alimentos com a mesma matéria-prima.
Nossos produtores de carne, em especial a suína, também cobram maior abertura de mercado para exportação de produtos in natura, ponto que pode ser tratado em acordo bilateral.
Depende principalmente de os Estados Unidos rever não apenas essas posições, mas todo o seu conjunto de barreiras comerciais para que possamos aprofundar os laços diplomáticos e trazer de volta o Brasil e a Índia para as negociações da Rodada de Doha. Se os estadunidenses aceitarem flexibilizar sua política de subsídios, o comércio mundial só tem a ganhar.
Outro tema que não pode passar batido é a disputa cambial e comercial entre Estados Unidos e China, que tem causado grande prejuízo às economias emergentes; entre elas, o Brasil.
Para tentar recuperar a economia americana dos efeitos da crise mundial, os EUA têm injetado dólares no mercado para forçar sua desvalorização e facilitar as exportações - essa manipulação do câmbio é devastadora para nossos produtores, porque afeta não só os mercados externos, mas também o consumo interno.
Se formos capazes de avançar em qualquer uma dessas discussões, estará justificada a festa pela passagem do presidente Obama em nosso país: o maior sinal de respeito à nossa soberania que os Estados Unidos podem fazer é atender às justas reivindicações comerciais e macroeconômicas brasileiras.
Essa é a base do relacionamento entre duas nações desenvolvidas, que se reconhecem como lideranças de um mundo multipolarizado.
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José Dirceu é advogado, ex-ministro da Casa Civil e membro do Diretório Nacional do PT
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