Todos são devolvidos para seus países. Nem sequer se têm a estatística de quantos chegaram, quantos morreram, o que passou com os que foram devolvidos a seus países.
A situação é clara: africanos, vitimas do colonialismo europeu e do imperialismo contemporâneo, buscam formas de sobrevivência nos países ricos, que se enriqueceram na base da exploração colonial e da escravidão. Países onde impera o racismo, que se consideram "civilizados", porque mais ricos, justamente porque exploraram os que consideram "bárbaros".
A mão de obra imigrante lhes interessa para as tarefas em que não há nacionais dispostos a trabalhar, especialmente a construção civil, a limpeza de ruas, o trabalho doméstico. Se interessam mais pelos latinoamerianos, porque brancos, católicos, que falam espanhol. Mesmo durante o período de crescimento da economia, rejeitavam os africanos. Agora, com a lei que Evo Morales chamou de "lei da vergonha", estabelecem cotas para expulsão de imigrantes.
A situação dos africanos é, de longe, a pior. Tentam formas de chegar a território europeu, em condições de extremo risco, com a esperança de conseguir formas de sobrevivência e poder mandar alguns recursos para as famílias. Quando não morrem, são tratados da pior forma possível, rejeitados e depositados nas costas da Africa de volta. Nem sequer há estatísticas sobre quantos chegam semanalmente, menos ainda sobre quantos e quais morreram. Não se sabe tampouco o que se faz com seus corpos – dos já milhares de cadáveres deste ano, por exemplo.
Acaba de suceder de novo algo similar com imigrantes haitianos, tentando chegar aos EUA. A precária embarcação afundou, varias dezenas morreram, em caso similar ao dos africanos na Europa.
Responsáveis pela miséria a que ficaram relegados os países africanos e vários da América Latina, os países do centro do capitalismo – todos ex-potências coloniais e atuais potências imperialistas e globalizadoras – continuam a exploração desses países, interessando-se apenas pelas riquezas naturais que possuam, sem fazer nada para que melhore substancialmente as condições de vida – emprego, habitação, saúde, saneamento básico – das suas populações que tentam emigrar para fugir das condições a que são submetidas nos seus próprios países.
Atualmente, a piora da situação dos trabalhadores imigrantes, aos que se tenta fazer passar como responsáveis pelo desemprego, é ainda mais injusta, porque a crise foi produzida justamente pelos países do centro do capitalismo, os que os utilizaram quando necessitavam de mais mão de obra e agora os rejeitam e expulsam. São tratados da forma que o capitalismo trata os trabalhadores – como mercadoria descartável.
Na Espanha e nos EUA, de forma mais direta, quem sustentou o boom econômico que desembocou na crise atual foi a indústria da construção, com mão de obra imigrante. A crise afeta particularmente o setor, que rejeita e expulsa quem sustentou o crescimento durante vários anos.
Países de onde vieram tantas levas de imigrantes para os países latinoamericanos, onde nunca foram rejeitados, que agora se interessam pela livre circulação de capitais e mercadorias, mas não de trabalhadores, aplicam aos originários dos países que foram colonizados por eles, a discriminação e a rejeição. Não se sentem responsáveis pela situação dos países que exploraram e ainda exploram.
Enquanto países como o Brasil legalizam a situação de milhões de estrangeiros, os países europeus e os EUA tomam atitude oposta, revelando o grau de desumanização a que seus governos e populações chegaram. Porque não é um caso de escândalo, de indignação e de medidas de emergência. Quem se identifica com eles são alguns governos dos países da periferia, que sabem o que foi o colonialismo, o que é o imperialismo e a globalização, o que é a discriminação e capitalismo.
Postado por Emir Sader - 30/07/2009 às 05:53
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