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"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

8.7.09

Berços latinos, novas hegemonias

Jornal Correio do Brasil
 
7/7/2009 12:25:11
Por Gilson Caroni Filho - do Rio de Janeiro


Manifestante hondurenho protesta contra a ditadura

A vitória indígena no Peru, obrigando o Parlamento daquele país a revogar dois decretos sobre exploração de recursos naturais, é mais um sinal de que a impotência da solidão, termo criado pelo escritor uruguaio Eduardo Galeano, é um sentimento que se distancia do continente latino-americano. A região do mundo, outrora fraturada e abandonada em mil pedaços, aos poucos, abandona a moldura institucional forjada para privilégios de suas oligarquias e se apresenta como um bloco com identidade e interesses próprios. Um avanço inegável, por mais lentos e complicados que sejam os processos de integração entre economias tão assimétricas. É contra isso que a direita latino-americana se reagrupa, fazendo de Honduras seu balão de ensaio.

A assinatura do tratado de criação da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), em maio do ano passado, deu personalidade jurídica a um organismo que tem por objetivo a coordenação social, política e econômica em âmbito regional Algo tão inédito quanto a Cúpula da América Latina e Caribe para o Desenvolvimento e Integração (Calc) que, em dezembro, reuniu 33 chefes de Estado ou seus representantes. Sem presença ou permissão dos Estados Unidos, países até então contaminados por velhos rancores, uniram-se para resolver algumas urgências compartilhadas, como a de evitar que "os impactos da crise financeira afetassem os planos de desenvolvimento, superação da pobreza e crescimento econômico sustentável da região".

Como destacou o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim "é inacreditável que em 200 anos de independência a América Latina, quando tem uma reunião internacional, tenha que ter ou EUA ou União Européia, o rei da Espanha ou o presidente de Portugal". Natural que a leitura da direita tenha seguido em rota contrária. Para alguns setores da mídia, o evento serviu apenas de palco para as bravatas de Chávez e Evo Morales, sem trazer qualquer resultado positivo para o bloco da América do Sul e do Caribe. Mas, se o choro é livre, o que conta é a sucessão de inflexões a que temos assistido.

Alain Touraine já havia observado que um dos maiores erros cometidos pelas elites locais foi o de acreditar que a América Latina só avançaria se sacrificasse o bem-estar da maioria para construir uma infraestrutura moderna. Era falsa a crença de que o modelo capitalista liberal fosse uma referência próxima da realidade latino-americana. Se o Chile está perto de apresentar indicadores de países centrais, isso não se deve, como apregoaram muitos ideólogos do capital, aos experimentos neoliberais do governo Pinochet mas à realização de uma reforma agrária, iniciada no governo Frei e ampliada por Allende, que permitiu o desmantelamento de antigos latifúndios e a criação de uma classe ativa de empresários agrários. Convém não esquecer que o sistema educacional chileno nunca deixou de primar pela qualidade.

Na Bolívia, que sofria a perda de suas fontes de prata e estanho, um presidente aynara erradicou o analfabetismo, repetindo o êxito da Venezuela de Hugo Chávez. Rafael Correa, presidente do Equador, cumpre promessa de governo e cancela grande parte da dívida do país. Tabaré Vázquez, que preside o primeiro governo socialista do Uruguai, mantém, em seu último ano de governo, popularidade que bate na casa dos 61%. Passados 74 anos da Guerra do Chaco, os presidentes do Paraguai, Fernando Lugo, e da Bolívia, Evo Morales, proclamam o que chamam de "irmandade binacional", reiterando compromisso de não mais haver enfrentamento entre os dois países. É intensa a percepção de que separados não teremos destino.

O que acontece na América Latina é a ruptura de um paradigma que não admitia que a oposição de esquerda se fizesse a partir da auto-organização da classe trabalhadora, de partidos novos, de sindicatos e de movimentos sociais que não estavam ligados de forma clara à luta de classes, como o dos indígenas que adquire centralidade cada vez maior na região. Os blocos de poder conservadores, com seus discursos estruturados e argumentados, que apareciam como o "dever ser", o "poder ser" e o "que vai ser", perderam, junto com a esquerda tradicional, para uma política que se reinventa no interior das contradições, dos conflitos e da tessitura tensa dos mundos do capital e do trabalho. Uma bela lição que balança o berço das oligarquias e da burguesia liberal do continente. Uma aula de hegemonia posta à prova em Tegucigalpa.

*Publicado originalmente no Jornal do Brasil

Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior, colaborador do Jornal do Brasil e do Correio do Brasil.

http://www.correiodobrasil.com.br/noticia.asp?c=154615

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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz