28/05/2009
A história é a seguinte: um casal, Domingo Fernandez e Gilda  Borges, dirigiam duas casas de prostituição em Vigo, chamadas Mamba Negra e  Skorpio, assim como participavam da gestão do Sheraton, na cidade de Verin,  dirigida por Manue Atanes. Levavam moças do Brasil para trabalhar como  prostitutas nesses locais, sem esconder as atividades que elas iam ter. Pagavam  suas passagens e agiam para que elas chegassem como turistas. 
Chegadas à  Espanha, se impunham as normas de funcionamento dos locais, que incluíam  horários e os preços da bebida e dos serviços sexuais oferecidos aos clientes.  Estes pagavam aos garçons e no fim de cada noite elas recebiam sua parte, se é  que tivessem direito. Porque durante os primeiros meses tinham descontado o  preço da passagem, o que fazia com que elas não recebessem nada, além das multas  que poderiam receber, por chegar tarde ao trabalho, por falar alto (sic), por  dar o numero de telefone a clientes e por sair sem autorização. Além disso, elas  tinham obrigação de morar nos locais de trabalho e pagar pelo aluguel e pela  comida.
O casal foi condenado pela Audiência Provincial de Pontevedra a  seis anos de prisão por trafico ilegal de pessoas com fins de exploração e a  dois anos e meio por um delito contra os direitos dos trabalhadores. O Supremo  Tribunal Federal da Espanha ratificou a primeira condenação, mas absolveu o  casal do segundo delito, alegando que as condições de trabalho, as multas por  atrasos e falar alto "são normalmente penalizadas pela lei no mundo dos hotéis e  que as outras condições "são normais".
O Tribunal decidiu que "à margem  de razões de moralidade", a prostituição por conta alheia pode ser "uma  atividade econômica que, se é realizada em condições aceitáveis pelo Estatuto  dos Trabalhadores, não pode ser enquadrada no delito 312 do Código Penal, que  castiga aos que oferecem condições de trabalho enganosas ou falsas ou empregam a  cidadãos estrangeiros em condições que prejudiquem, suprimam ou restrinjam os  direitos que fossem reconhecidos por disposições legais, convênios coletivos ou  contrato individual."
O Supremo Tribunal Federal da Espanha considera  assim que pode haver uma relação, mesmo que atípica, no exercício da  prostituição por conta alheia? O Código Penal espanhol tipifica como delito o  proxenetismo, mesma se a mulher o consente. Mas os juízes fazem uma declaração  de principio afirmando que "a questão da prostituição voluntaria em condições  que não suponham coação, engano, violência ou submissão, ainda que por conta  própria ou dependendo de um terceiro que estabelece umas condições que não  atentem contra os direitos dos trabalhadores, não pode ser decididas com  enfoques morais ou com concepções ético-sociológicas, dado que afetam a aspectos  da vontade (das mulheres) que não podem ser coibidas pelo direito sem maiores  matizes."
Diante dessa situação, pergunta-se o jornal espanhol El  Pais:
"É possível explorar sexualmente a uma mulher e ao mesmo tempo  dar-lhe condições de trabalho `normais´? Se pode falar de relação de trabalho  nestes casos?" Responde que as leis sobre tráfico de mulheres e prostituição não  tem uma resposta clara, fazendo com as sentenças dos juízes sejam às vezes tão  confusas como a própria legislação.
Chega-se a uma situação tal de  mercantilização do corpo das mulheres, como se fosse normal, que a discussão se  transfere para a legislação laboral, aceitando-se implicitamente que a venda ou  o aluguel do corpo feminino é uma atividade comercial como uma outra  qualquer.
(Há poucos anos Fernando Gabeira aventou até a possibilidade de  apresentar uma proposta de lei que legalizaria a prostituição  infantil.)
Que sociedade é esse que discute com frieza e "normalidade" a  redução do ato sexual a uma mercadoria? A defesa dos direitos das prostitutas  torna-se uma reivindicação normal, dado que a prostituição passou a ser um  elemento compensatório da frustração tanto dos casamentos, quanto das outras  formas de relação amorosa.
Na era da globalização, enquanto os espanhóis  nos mandam seus bancos, empresas de telefonia celular, de exploração de petróleo  e gás, importam nossos jovens jogadores de futebol e moças brasileiras para  atender as demandas e as carências da afluente sociedade capitalista espanhola.  
Não há nenhuma indicação sobre quem são as brasileiras, quantas são e o  que aconteceu com elas depois do processo.
Postado por Emir Sader às 04:22
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