Os dois efeitos mais graves das políticas  neoliberais são a financeirização da economia e a precarização das relações de  trabalho. Ambas são resultados da mesma política de desregulamentação, de  eliminação das travas à livre circulação do capital  elemento chave das  políticas neoliberais, resultado do diagnóstico segundo o qual o que havia  levado a economia mundial ao estancamento seria a excessiva quantidade de  limitações e regulamentações para que o capital reativasse a economia. Quanto à  força de trabalho, a diminuição do seu custo de contratação levaria ao aumento  do nível de emprego.
O que se viu foi algo totalmente diferente. Liberado  de regulamentações, o capital se transferiu maciçamente do setor produtivo ao  financeiro, passando a concentrar-se na especulação. Mais de 90% das trocas  econômicas no mundo não se referem a bens e serviços, mas a compra e venda de  papéis, que não geram nem riqueza, nem emprego. São movimentos parasitas, que  concentram renda e sugam ganhos da riqueza da esfera produtiva. 
A  desregulamentação promoveu a hegemonia do capital financeiro, típica da era  neoliberal. Um capital financeiro já não mais dedicado a financiar a produção, o  consumo, a pesquisa, mas dedicado à compra e venda de papeis nas Bolsas de  Valores e dos papéis dos Estados endividados.
A financeirização significa  que os Estados se deixaram capturar pela lógica financeira, seu primeiro  compromisso  frequentemente o único sagrado  é o pagamento dos juros da  dívida, para o que se reserva o superávit fiscal. Grandes empresas passam a  dedicar-se, ao lado das suas atividades originarias, à especulação financeira.  Quem está endividado, devido ao estratosférico nível dos juros, não consegue se  livrar das dívidas. Outros não se aventuram a abrir uma pequena ou media  empresa, a comprar algo, com medo do endividamento. Assim o capital financeiro  se tornou a espinha dorsal das nossas economias. Tudo o resto é setorial   fechamento de empresas, de leitos de hospital, perdas de empregos. Só o que toca  ao capital financeiro é "sistêmico", como dizem os economistas  neoliberais.
Ao mesmo tempo, o que se propagou como "flexibilização" do  mercado de trabalho, na realidade se deu como "precarização", isto é, como  expropriação dos direitos dos trabalhadores, fazendo com que a maioria deles não  tenha mais contrato com carteira de trabalho. Não tem segurança de continuidade  do emprego, não podem associar-se, não podem apelar à justiça, não tem uma  identidade profissional e social. Não são cidadãos, no sentido de que um cidadão  é sujeito de direitos e eles não têm direitos na atividade fundamental de suas  vidas.
Lutar contra o neoliberalismo e passar a construir um modelo  alternativo, posneoliberal, tem centralmente a ver com esses dois fenômenos,  estruturais no neoliberalismo: a hegemonia do capital financeiro e a  fragmentação e submissão dos trabalhadores à superexploração e à impotência  organizativa. É trabalhar contra o capital especulativo e a favor da grande  maioria da população  que vive do trabalho  e, através dele, cria as riquezas  do país.
Quebrar a hegemonia do capital financeiro significa terminar com  a sua autonomia, de fato, no Brasil e suas estratosféricas taxas de juros, que  remuneram, atraem e incentivam o capital financeiro a especulação.  
Submeter a política financeira à política geral do governo e à política  econômica em particular, que teve o mérito de reintroduzir o desenvolvimento  e  associá-lo estreitamente  a políticas sociais, e que para tanto não pode ter  uma política do Banco Central, favorecendo ao capital especulativo,  autônoma.
Por outro lado, favorecer o mundo do trabalho significa seguir  fortalecendo o mercado interno de consumo popular, mediante políticas  redistributivas de renda, mas especialmente não conceder nenhuma isenção,  crédito ou qualquer forma de favorecimento do capital privado, sem ter  obrigatoriamente contrapartidas ao nível do emprego  um dos índices  fundamentais de um governo com alma social.
Postado por Emir Sader - 22.05.2009 às 15:37
Nenhum comentário:
Postar um comentário