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pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

18.3.08

‘Obama pode provocar um terremoto no futuro de Cuba’. Entrevista com Ignacio Ramonet

A saída do poder de Fidel Castro não muda em nada o rumo da revolução, mas uma eventual eleição de Barack Obama nos Estados Unidos poderia provocar um pequeno terremoto na evolução de Cuba. É o que pensa Ignacio Ramonet, diretor do Le Monde Diplomatique da França e autor do mais recente livro de conversas com o dirigente cubano intitulado: Fidel Castro, biografia a duas vozes (São Paulo; Boitempo, 2006). Num diálogo concedido por gentileza do Le Monde Diplomatique, edição argentina, Ramonet sustentava que Fidel “não é nem o monstro que certos meios de comunicação ocidentais descrevem nem o Super-Homem que às vezes alguns meios de comunicação cubanos apresentam”. Citou uma pesquisa da Universidade da Flórida, Estados Unidos, segundo a qual 65% dos cubano-estadunidenses apóiam um diálogo entre os dois governos.

Ignacio Ramonet é o jornalista que mais horas passou com Fidel Castro nos últimos anos e que mais o conhece na intimidade de sua vida e pensamento. Por isso é significativo que opine que sua saída do poder não mudará o rumo do governo cubano, mas que uma vitória de Obama poderia produzir uma verdadeira quebra.

Segue a íntegra da entrevista de Ignacio Ramonet publicada no Página/12, 02-03-2008. A tradução é do Cepat.

Até que ponto Fidel Castro deixará de ser o poder em Cuba?

É certo que, por enquanto, continuará como primeiro secretário do Partido Comunista de Cuba (PCC), e que esse não é um cargo menor num sistema político de partido único. Mas não creio que conserve esse posto porque já renunciou também a ser presidente do Conselho de Ministros (primeiro ministro) e ao grau de comandante em chefe. De qualquer modo, sua enorme influência sobre a opinião pública vai continuar.

Agora essa influência terá um caráter mais simbólico?

Bom, ele anunciou que agora se consagrará ao “quarto poder”: continuará escrevendo no jornal de maior tiragem da ilha, o Granma, “órgão central do partido”. A frente em que luta é, como diria Gramsci, o da hegemonia cultural pela qual sempre batalhou. Mas todos conhecem a influência que os meios de comunicação exercem sobre a opinião pública. No mundo de hoje, o quarto poder tem às vezes mais poder que o primeiro. Não tenho dúvida de que tanto os cubanos como os observadores internacionais continuarão a lê-lo com muita atenção. Por que? Porque é obvio que ninguém substituirá Fidel Castro como guia ideológico da revolução.

Você realmente acredita que na história de Cuba haverá um antes e um depois de Fidel ou tudo será uma ampla continuidade?

Na verdade, é um antes e um depois. Na história de Cuba, a trajetória de Fidel é única. Mas não digo isso unicamente por suas qualidades de líder, mas também porque as circunstâncias históricas que o modelaram nunca voltarão a ser as mesmas. Fidel Castro passou por tudo: pela guerrilha em Sierra Maestra, pela revolução de 1959, pelas agressões armadas dos Estados Unidos, pela crise dos mísseis de outubro de 1962, pelo apoio às guerrilhas (entre elas a de Che Guevara na Bolívia), pelo desaparecimento da URSS e a infinidade de enfrentamentos com os Estados Unidos. Esse tempo excepcional não voltará. Pois bem, o fato de que abandone o Executivo em vida deveria permitir uma evolução pacífica.

Mas os cubanos aceitarão ser governados por um personagem tão diferente de Fidel como é seu irmão Raul?

Eu penso que a maioria o aceita, enquanto se mantiverem os rumos e a via socialista. De fato, Raúl Castro tem as rédeas do governo há mais de um ano e meio, e a vida seguiu seu curso sem sobressaltos. E ele, de maneira pragmática, colocou no centro da ação de seu governo as questões que preocupam as pessoas: a alimentação, o transporte, a moradia, o custo de vida. Por outro lado, os cidadãos tiveram tempo para se habituarem à idéia de que Fidel Castro não iria mais presidir o Executivo.

Como é o Fidel observado de perto?

Não é nem o monstro que certos meios de comunicação ocidentais descrevem nem o Super-Homem que às vezes alguns meios de comunicação cubanos apresentam. É um homem com princípios éticos e morais rigorosos, que leva um modo de vida muito austero e frugal. Poucos sabem que, além disso, é um apaixonado pelas questões ecológicas e do meio ambiente. Tem uma incrível capacidade de trabalho, é sobretudo um estrategista de exceção. Pensemos que, diante da potência norte-americana hostil, levou uma vida inteira de resistência. Não cedeu nem foi vencido. Essa é sua grande vitória. Mesmo assim, é uma curiosa mescla de idealismo e pragmatismo. Sonha com uma sociedade perfeita mesmo sabendo que as condições materiais são muito difíceis de transformar.

E qual vai ser a “agenda” de Fidel como jornalista?

Sua preocupação principal hoje não é tanto o socialismo em seu próprio país, mas a melhora da vida num mundo desigual em que milhões de crianças continuam analfabetas, passando fome e doentes e que poderiam facilmente ser curadas.

Na maioria dos observadores predomina a impressão de que depois de Fidel não haverá mudanças bruscas. Você também acredita nisso?

É o que penso: este relevo não deveria implicar reformas espetaculares. Apesar de Washington, a maioria dos cubanos, inclusive os que criticam alguns aspectos do sistema (por exemplo, a limitação de liberdades e de direitos políticos), não contempla nem deseja uma mudança radical de rumo.

Por que?

Porque não querem perder algumas vantagens que o socialismo lhes ofereceu: educação gratuita, cobertura médica universal, pleno emprego, moradia gratuita, água, eletricidade e telefone quase gratuitos, e uma vida tranqüila, com segurança, com pouca delinqüência num país em paz.

Muitos observadores também pensam que Cuba irá se assemelhando gradualmente ao modelo chinês.

Não há dúvida de que o socialismo cubano evoluirá. Mas não creio que essa mudança será à maneira da China ou do Vietnã. Penso que Cuba seguirá um caminho diferente. Certamente, as novas autoridades introduzirão mudanças na economia, mas é pouco provável que assistamos a uma “perestroika cubana”, ou a uma “abertura política” ou a eleições multipartidárias. As autoridades estão convencidas de que este tipo de “transição” reabriria o caminho para uma intromissão norte-americana e para uma forma mais ou menos dissimulada de anexação. Entendem que o socialismo é a boa escolha mesmo que possa e deva ser aperfeiçoada. A curto e médio prazo, sua preocupação principal será manter a unidade.

Entre os críticos da Cuba de Fidel se escutou dizer que o extraordinário protagonismo da ilha é um grande mérito da cegueira dos governos norte-americanos. Para você, o quanto o tema Washington é importante para Cuba?

Eu penso que a principal tarefa que os herdeiros de Fidel devem resolver seja remontar o eterno desafio das relações com os Estados Unidos. É um assunto determinante, e eles sabem disso. Em muitas ocasiões, Raúl Castro anunciou publicamente que estava disposto a se sentar numa mesa de negociações para discutir com Washington o conjunto de contenciosos entre os dois países. E é provável que seja dos Estados Unidos que possa vir o sinal político mais importante para a evolução em Cuba.

Por que?
Pensemos um pouco: Barack Obama, candidato favorito dos democratas, não anunciou claramente sua intenção de discutir com todos os países considerados como “inimigos” ou “adversários” dos Estados Unidos, entre outros com Cuba? Já em 2003, Obama, na qualidade de candidato ao Senado, havia advogado por levantar o bloqueio econômico e havia reclamado diminuir as restrições para viajar e enviar fundos a Cuba. E ele próprio reclamou, no dia 22 de fevereiro, uma necessária transição nos Estados Unidos, ao menos sobre esta questão, declarando que se há sinais de mudança na ilha “os Estados Unidos devem estar preparados para avançar para a normalização das relações e atenuar o embargo”. Não duvido que isto significaria uma revolução copernicana na política exterior dos Estados Unidos desde 1961. Se bem que ninguém deve esperar uma mudança política radical e imediata em Havana, as eleições de novembro próximo nos Estados Unidos poderiam modificar a atmosfera das relações cubano-americanas. Sobretudo, se o novo presidente decidisse efetivamente acabar com o injusto embargo comercial unilateral imposto a Cuba há mais de quarenta anos.
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Se defrontará com a resistência da Flórida?

Não, não creio. Segundo uma pesquisa da Universidade Internacional da Flórida, 65% dos cubano-estadunidenses apóiam um diálogo com o regime cubano. Fidel Castro é da opinião de que George W. Bush é para Cuba, mas também para o povo norte-americano e para o mundo, o mais nocivo dos dez presidentes norte-americanos com os quais teve que tratar. E a saída de Bush dentro de um ano deveria levar Washington – instruído com as desastrosas lições do Iraque e do Oriente Próximo – a uma revisão da política exterior norte-americana e sem dúvida a se reorientar para a América Latina.

Como a América Latina reagirá em relação a uma aproximação entre Estados Unidos e Cuba?

Está claro que os Estados Unidos vão descobrir uma situação drasticamente diferente daquela que eles mesmos moldaram nos anos 1960-1990. Cuba já não está sozinha. Na sua política exterior, os cubanos reforçaram muito seus laços com o conjunto dos Estados latino-americanos. Pela primeira vez, Havana tem verdadeiros amigos no poder, principalmente na Venezuela, mas também no Brasil, na Argentina, no Uruguai, na Nicarágua, no Panamá, no Haiti, no Equador e na Bolívia. Alguns destes governantes não são particularmente pró-estadunidenses. De modo que será do interesse de Washington redefinir suas relações com cada um deles. Relações que não podem ser neocoloniais ou baseadas na exploração, mas no respeito mútuo. Cuba intensificou em particular seus intercâmbios com os países da organização política e econômica ALBA (Aliança Bolivariana para as Américas) e assinou acordos de parceria econômica com os Estados do Mercosul.

Mas nada do que acontece na América Latina é tão gravitante em Cuba do que o grande país do Norte?

A influência dos Estados Unidos é tão decisiva que, em grande parte, a evolução interna em Havana vai depender da atitude que adotar em relação à ilha o futuro ocupante da Casa Branca. Veja: enquanto, em Cuba, a saída, finalmente esperada, de Fidel Castro não modifica em nada o rumo da revolução, uma eventual escolha de Barack Obama nos Estados Unidos poderia provocar, na revolução de Cuba, um pequeno terremoto.

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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz