Um dos participantes do Fórum da Liberdade, à vista de um caminhão queimado em Coqueiros do Sul, traduziu a sigla do MST por “miséria, sangue e terrorismo.”
Aquele movimento social seria um dos responsáveis, então, pelos milhões de brasileiros que, ainda hoje, não terão acesso à uma refeição completa. No que toca ao sangue e ao terrorismo, os dados anuais da CPT sobre os muitos agricultores assassinados por defenderem seu direito à terra, como fonte de vida e não de mercadoria, seriam o preço cobrado pela globalização dos mercados, a qual justificaria, entre outras coisas: a substituição do destino principal da produção agrícola - comida para o povo - pelo papel, a celulose e o etanol; a troca da biodiversidade, do futuro auto sustentável e ecologicamente equilibrado, pela desertificação, o efeito estufa, a morte das florestas, dos rios, dos animais e, nessa marcha, do desaparecimento da vida sobre a terra; Corumbiária, Carajás, Roseli Nunes, Margarida Alves e Dorothy Stang além de outros martírios, vítimas do descumprimento da função social da propriedade, não constituiriam “crimes hediondos”, mas sim as ocupações de terra, como pretende a bancada ruralista no Congresso.
O escândalo do caminhão queimado, pois, nem se compara com o da miséria, o sangue e o terrorismo pelo qual são responsáveis, com raras exceções, os poderes econômicos que sustentam o latifúndio predatório e entreguista do capitalismo brasileiro, capaz de violentar até a Constituição do país, como aconteceu com a expressão “produtiva” do seu art. 185, II (leia-se, a respeito, “O buraco negro” de José G. da Silva).
As suas vítimas, porém, não se deixam mais enganar. Quem entende bem mais de vida e liberdade do que esse Fórum, já as advertia há mais de dois mil anos, sobre os falsos profetas “que vem a vós disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos ferozes.” (...) “É pelos seus frutos, portanto, que os reconhecereis.” (Mt. 5).
Jacques Távora Alfonsin
Advogado
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