A Expointer quase sempre renova o debate sobre alguns temas que não deixam de gerar perplexidade. Um deles é o de excelente nível da produção rural gaúcha, assim apregoado pelos grandes proprietários de terra; outro é o dos maus tratos que eles sofrem por parte do Estado; um terceiro é a denúncia de que o MST e a reforma agrária só fazem mudar a miséria de lugar.
Algumas perguntas sobre tais afirmações exigem explicação mais atenta aos fatos. Se a nossa produção é tão boa, por que os índices que medem os graus de utilização da terra e de eficiência na sua exploração, previstos nas leis agrárias, têm de ser, hoje, os mesmos de décadas atrás, segundo os mesmos latifundiários?
Se o Estado só atrapalha, que recursos financeiros devem-lhe ser garantidos para mudar isso, sabendo-se que as dívidas tributárias dessas pessoas ou são sempre prorrogadas ou nem sequer pagas?
Se o MST e a reforma agrária somente mudam a miséria de lugar, o que explica o fato de o tão elogiado progresso dos países considerados ricos terem realizado a segunda, as vezes até com o uso da ocupação militar violenta, como MacArthur fez, em nome dos EUA, com os latifúndios japoneses após a vitória aliada na segunda guerra?
Se o MST somente cria favelas rurais, ao que se deve o fato de a miséria situar-se, aqui no Estado, justamente nas regiões onde o latifúndio mais impera?
Tinha assim toda a razão Enio Guterres, quando sublinhou a diferença entre produvidade e produtivismo, na sua obra Agroecologia militante. A primeira procura preservar a terra como fonte de vida para todas/os, tentando garantir essa justa partilha universal, sem a morte dela; o segundo, além de não se importar com o esgotamento e a depredação do solo, prefere que a miséria fique onde está, por mais que ele próprio seja o principal responsável pelo lugar dela.
Jacques Távora Alfonsin
Advogado
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