Ary Nelson da Silva Júnior *
Adital
No próximo dia 20 de setembro o Rio Grande do Sul irá comemorar mais um ano da revolução farroupilha, a guerra regional de caráter republicano contra o governo imperial do Brasil. A batalha foi de 1835 a 1845 e foi o conflito armado mais duradouro que ocorreu no continente americano. A revolução, que originalmente não tinha caráter separatista, influenciou movimentos que ocorreram em outras províncias brasileiras e latinas.
Aqui no Rio Grande do Sul, o 20 de setembro é uma data muito festejada pela população que exalta e orgulha-se dos costumes e tradições do povo do sul do Brasil. Na maioria das cidades ocorrem desfiles à cavalo, comemorações, festas e o orgulho do gaúcho é ainda mais inflamado. Os líderes farroupilhas como Bento Gonçalves, General Neto, Onofre Pires, David Canabarro, Garibaldi, entre outros, são lembrados e suas batalhas e façanhas são recontadas com orgulho pelos tradicionalistas. Com certeza, essa é a data mais importantes no calendário gaúcho e, talvez, só o Estado de Pernambuco tenha uma raiz cultural tão presente e cultuada até os dias de hoje.
Esse sentimento bairrista se incorporou ao dia-a-dia do povo Riograndense e muitos, até hoje, defendem a separação do Estado, desejando a criação de uma nova República. Devido às fronteiras territoriais com Argentina e Uruguai, os gaúchos incorporaram vários costumes e hábitos dos povos irmãos, como a linguagem, as roupas, a música, entre outros, e isso fez com que o Estado tivesse uma ligação cultural mais forte com os vizinhos portenhos do que, propriamente, com o Brasil. Essa ligação deixou marcas profundas no povo Riograndense.
Atualmente, temos como exemplo disso o comportamento dos torcedores da dupla Grenal que incentivam as equipes cantando num estilo, próprio, dos argentinos e uruguaios, além de vários jogadores de futebol oriundos de países da América do Sul estarem jogando no futebol gaúcho.
Em setembro também é comemorada a independência do Brasil, mas, ironicamente, essa data não desperta o mesmo amor à Pátria que o 20 de setembro por aqui. Por que será? Antes de sermos gaúchos, somos todos brasileiros.
Muitas pessoas levantam a bandeira de que amam e lutam mais pelo Rio Grande do Sul do que pelo Brasil. O que sinceramente nunca entendi é como um Estado que faz parte da República Federativa do Brasil pode ser tão separatista, em todos os assuntos. Vários gaúchos dizem que os melhores políticos são daqui, que ao melhores músicos são daqui, que os melhores são daqui. Porém, os mesmos esquecem que aqui também tem corrupção (como exemplo o escândalo dos selos na Assembléia), que também temos músicos ruins, os melhores não são, necessariamente, daqui e assim é em todos os lugares, em qualquer Estado brasileiro.
O verdadeiro patriota é aquele que luta pelo melhor do Brasil, afinal, esse é o nosso País. O bairrismo não serve para nada ou, talvez, para muito pouco. Tradição e cultura são elementos fundamentais para uma sociedade, porém, não vamos confundir isso com bairrismo exacerbado.
Precisamos com urgência e cada vez mais nos incorporarmos ao resto do Brasil para lutarmos por uma sociedade mais participativa, democrática e justa. Somente assim poderemos, um dia, impedir que ocorram seções secretas no Senado Federal; somente assim podermos cobrar e fiscalizar o Presidente, os Ministros, os 81 senadores e os mais de 500 deputados da nação, eleitos pelo Joãozinho do Acre, pela Maria da Paraíba, pelo José de Minas Gerais ou pelo Pedro do Rio Grande do Sul.
A integração deveria ser a prioridade de todos os gaúchos e brasileiros já que vivemos em um continente onde somente nós falamos português. Como diria a música, "isso aqui ô ô... é um pouquinho de Brasil ai, ai...".
Só iremos evoluir como nação no dia em que quebrarmos essas barreiras e nos unirmos, onde a coletividade seja o objetivo principal a ser alcançado.
O mais engraçado é que nos referimos aos argentinos como prepotentes, arrogantes, entre outros adjetivos, porque eles têm orgulho do seu País. Nós deveríamos ter orgulho do nosso também e não de alguns Estados apenas, pois, isso não leva a absolutamente nada e só serve mesmo para a criação de estereótipos.
* Estudante de jornalismo da UNISINOS, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, em São Leopoldo-RS
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