Vanderley Caixe
Foi uma longa noite!
Me recordo dela destruindo sonhos,
gentes "desaparecendo",
nos rios, nos porões do DOPS,
depois nos DOI-CODIs de todo o Brasil.
Eu era um menino-desadolescente,
era estudante consciente,
mas tudo acabou de repente,
naquelas fardas repletas de
medalhas e pingentes.
Os novos dirigentes
não precisavam de gente.
Precisavam da pusilanimidade,
dos lambe-botas, da unanimidade,
do ajoelhar daquele dia,
de toda covardia.
Deram o golpe de Estado e
compuseram o que quiseram.
Criaram leis, decretos, institucionais,
atos severos e não banais,
fizeram do Brasil céu de anil,
exemplos da p.q.pariu.
Prenderam e arrebentaram,
massacraram e torturaram.
Do chão a semente plantaram sem dó,
o medo, o degredo,
roubaram até a aliança da minha avó.
(era ouro para o bem do Brasil - do bolso deles.)
O lixo, o restolho,
os rebotalhos das delegacias,
viraram da noite para o dia,
AUTORIDADE!
Estava plantada no planalto
a DITADURA MILITAR - Brasil-EEUU
(leia-se Estados unidos).
Nós aqui: fodidos.
Veio MEC-USAID,
veio Globo (Time-Life),
veio Veja,
vieram ministros-generais,
todos diretores de multinacionais.
Criaram uma nova profissão:
general ladrão.
Andreazza para a ponte Rio-Niteroi,
Costa Cavalcanti, para Itaipu,
Roubo que até hoje dói.
Não é preciso procurar de lanterna,
basta ver a dívida externa.
Era preciso fazer um novo país servil,
mudanças para desmontar o Brasil,
cassar políticos nacionalistas,
prender lideranças estudantis,
operários e sindicalistas.
Um grande plano foi montado,
para a justiça foi reservado,
atividades sem garantias,
para todos os juizes togados:
libertar presos políticos,
juízes eram castigados.
Habeas-corpus suprimido e,
os desmandos policiais generalizados.
Inocentes, ou culpados, até prova em contrário,
respondiam no cartorário.
Nem os livros se podia ler,
até conversar era temerário.
Havia sempre um dedo-duro
cumprindo um papel de otário.
Nem os jornais iam dizer
a verdade e o acontecer.
Nas matérias censuradas, podem crer,
iam receitas de bolos e textos literários.
Ó Lusíadas de Camões,
nunca foi tão lidas pelo parvo.
Quem podia, se sumia,
cientistas, cultores do saber,
gente de bem com a Pátria.
Tudo se ia. Uns pra Europa se podia,
Quem não podia, aqui mesmo era enquadrado.(SE FODIA)
Milico virou poder,
poder degenerado.
Era de se crer,
um poder desmascarado.
Aos jovens não se perdoou a altivez,
as marchas e as passeatas.
Cães, botas, cavalos e cacetadas,
massacrando,ferindo, e, esperando, talvez
uma moçada silenciada.
Ledo engano.
Daquela luta ou se fez,
da força, da luta armada.
Embora com estilingues, outras vez,
lutando pela Pátria amada.
Então, esse Estado usurpado,
aos estrangeiros-imperialistas servindo,
fez da força a carnificina.
Fez do Estado um pecado:
matou homem, criança e menina,
na tortura, no choque e no machado.
Muitos corpos até hoje, nunca foram encontrados.
Os assassinos de Estado,
serviçais da elite e de nações devoradoras,
aos poucos foram sendo solapados.
A nação se cansou, abriu os olhos democratas.
Uma nova sociedade precisava.
Precisava de um novo Estado.
Uma democracia nova, sem milicos e sem golpistas.
Precisava de um espaço coerente,
uma nova fonte de vista.
A democracia se fez,
com eleições e Anistia.
A ditadura se foi mas,
até hoje seus males persistia.
PERSISTE!
40 ANOS DA DESGRAÇA DESTE PAÍS.
40 ANOS DA DITADURA MILITAR-EEUU.
DITADURA NUNCA MAIS!
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