Como a garota do Rio, Dilma foi também vítima de estupro coletivo. Por Paulo Nogueira
Uma é que os homens que a brutalizaram estavam certos da impunidade. De Eduardo Cunha a Aécio, de Caiado a Gilmar Mendes, de FHC a Alckmin, dos irmãos Marinhos a seus fâmulos nas redações, dos complacentes ministros do STF aos deputados e senadores que disseram sim, de Jucá a Renan, de Moro aos delegados da PF, de Temer a Cristovam Buarque – todos sabiam que o crime não teria castigo, porque representavam a plutocracia que domina e achaca os brasileiros.
Outra diferença é que mulheres ajudaram no estupro. Um exemplo notável é Marta Suplicy. Eleita por milhões de pessoas que jamais aprovariam o impeachment, Marta ajudou no estupro de que foi vítima Dilma com seu comportamento indecente. É como se ela gritasse aos homens que violentavam Dilma: "Não parem, não parem, não parem". E eles não pararam, para alegria infame de Marta.
Outra mulher presente ao estupro foi a ministra Rosa Weber. Ela conseguiu, depois do suplício a que Dilma foi submetida, intimá-la a dizer por que ela anda dizendo que o estupro foi estupro.
Uma terceira mulher relevante no ataque feroz foi a advogada Janaína Paschoal. Ela foi paga pelo PSDB de FHC, Aécio e Serra para produzir a peça de impeachment afinal aceita pelo principal estuprador, Cunha. Isso quer dizer: ela pretensamente legitimou o estupro. E acompanhou tudo ensandecida.
De Janaína pode-se dizer que vibrou, como se tomada por uma entidade do mal, com o que os homens fizeram com Dilma. A seu lado, na vibração incontida em que arremessava a cabeça para cá e para lá, estava um nonagenário que se revelou um câncer, uma metástase, uma zika para o Brasil, Hélio Bicudo.
Marina também incentivou os estupradores, com a torcida para que eles pegassem Dilma. Não esqueçamos disso: a participação de Marina. Mulheres cúmplices no jornalismo foram muitas, de Míriam Leitão a Eliane Cantanhede, de Dora Kramer a Cristiana Lobo.
Como Dilma sobreviveu é um mistério. Quer dizer, um mistério relativo. Para quem sofreu torturas dos militares por tanto tempo em masmorras, nenhuma violência é insuperável.
Os brasileiros têm uma chance, ou uma obrigação, de reparar o horror perpetrado pelos estupradores.
Basta devolver a Dilma o que lhe foi roubado no estupro, e punir seus estupradores, um a um.
(Acompanhe as publicações do DCM no Facebook. Curta aqui).As futuras gerações de brasileiros sentirão vergonha do seu país se a injustiça contra Dilma não for reparada. Por Paulo Nogueira
Na Inglaterra, por exemplo, as infames Guerras do Ópio até hoje são motivo de embaraço. Merecidamente. Em meados do século 19, os ingleses destruíram a China para que pudessem vender ali o ópio que produziam na Índia.
O pretexto foi o "livre mercado". A Inglaterra consumia seda, chá e porcelana da China. Os chineses não se interessavam por nada feito pelos britânicos. Até que os ingleses começaram a vender ópio na China.
As autoridades chineses proibiram, por razões óbvias. O imperador chinês chegou a mandar uma carta para a Rainha Vitória. Dizia que seu país vendia apenas coisas decentes para os ingleses, e não podia aceitar a contrapartida do ópio.
Proibiu este comércio criminoso. Os ingleses reagiram com uma guerra da qual a China só se reergueria mais de um século depois.
Nos livros de história, é um capítulo do qual os britânicos falam de cabeça baixo, um dos momentos mais baixos de sua existência milenar.
Tudo isso para dizer o seguinte.
O crime que está sendo cometido contra Dilma, se não for erradicado, vai pesar contra os brasileiros vindouros. Eles terão vergonha do seu país, ao mesmo tempo em que vão aprender nas escolas quem foi quem na trama suja de corruptos para derrubar uma mulher honesta.
Não é justo que a posteridade pague pelos pecados do presente.
Mesmo agora, quando ainda há muita coisa para aparecer, os fatos já são suficientemente claros para que se saiba que o que cerca o impeachment é lama em quantidade copiosa.
Ainda há tempo para reparar esta página abjeta da vida política nacional. Dilma não está morta e nem definitivamente afastada. Basta, primeiro, devolvê-la ao cargo do qual foi retirada por uma quadrilha. E, depois, punir os criminosos.
Não é fácil. Mas é muito mais difícil um país inteiro conviver, para sempre, com uma dor de consciência avassaladora. E é isso que ocorrerá se a brutal injustiça não for corrigida.
Dilma, se afastada mesmo, se tornará um mártir, e seus carrascos eternos canalhas. Mas o Brasil não precisa de mártires, e sim de justiça. Ou, pelo menos, de "decência básica", para usar a grande frase de Orwell.
Nossos filhos e nossos netos carregarão, se nada se fizer, o peso da monstruosidade cometida contra uma mulher que ousou combater como nunca a corrupção.
Os ingleses de hoje sofrem os impactos de uma barbaridade que seus antepassados impingiram contra um país pacífico e ordeiro. Isso jamais vai passar. Nada pode alterar o caráter imundo das Guerras do Ópio, e isso ficará para sempre registrado nos livros de história da Inglaterra. Pequenos ingleses, na idade escolar, sempre se perguntarão: "Como pudemos descer tão baixo?"
É o que teremos no Brasil caso Dilma seja definitivamente afastada.
Em nome das futuras gerações, em nome da "decência básica", isso não pode acontecer.
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