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pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

3.11.13

Em O Capital (2012), adaptação de novela francesa, Costa Gavras acerta mais uma vez - Carta Maior

02/11/2013 - Copyleft

Em O Capital (2012), adaptação de novela francesa, Costa-Gavras acerta mais uma vez

Em O Capital (2012), Costa-Gavras acerta mais uma vez. E reafirma seu mote: "Todo filme é político. Nada mais político do que os filmes de super heróis."


Léa Maria Aarão Reis

Não foi difícil para o escritor francês Stéphane Osmont,  economista egresso dos altos quadros da banca europeia, fazer o papel de oráculo quando escreveu a novela Le Capital, em 2004. Assim como o economista americano, Nouriel Rubini, um ano depois, o autor de festejados trabalhos de ficção (?) na área financeira (O manifesto e A ideologia) previu a crise que se abateria pelo mundo, em 2008, com origem na especulação desenfreada, nos Estados Unidos. Ele foi consultor financeiro e conheceu bastante bem os bastidores das altas apostas com as fortunas sem fronteiras.
 
Lançado no ano passado, O capital, adaptado para o cinema pelo cineasta Costa-Gavras (do célebre Z, de Estado de sítio, A confissão, Desaparecido e Music Box, muito mais que um crime entre outros; e agora em cartaz no Brasil há várias semanas) mostra o protagonista, o banqueiro Marc Tourneil interpretado pelo ator franco-marroquino, excelente, Gad Elmaleh, virando-se para a plateia e exclamando, cìnicamente, durante uma reunião com ávidos acionistas: ”Continuaremos tirando dos pobres para dar aos ricos neste jogo, meus senhores. Até que tudo isto exploda!”
 
A história pessoal da ascensão financeira de Tourneil no banco Fênix – é sempre bom lembrar: aquele que ressurge das cinzas -, e estruturada nos mais perversos jogos de poder, é o fio condutor para um passeio macabro pelos labirintos sujos do mundo do dinheiro, do poder, do sexo. Remete a Marx ao avesso – no título do livro e do filme - e ao “horror”, a que se referia, no seu livro seminal, Viviane Forrester, em 97 – O horror econômico.
 
Mais uma vez Costa-Gavras acerta, prosseguindo na sua obra de filmes ditos “políticos”. Quando o interpelaram porque só faz cinema político, ele respondeu: ”Não existe cinema político. Todo filme é político. Nada mais político do que os filmes de super heróis.” 
 
Neste mais recente trabalho enxuto, preciso e eficiente, pontilhado das ironias de Osmont e do cinismo dos executivos, pelo qual alguns críticos não se entusiasmaram (acharam “esquemático”) Costa-Gravas reproduz algumas observações literárias à perfeição, nos tempos cinematográficos justos, sem pernosticismos, permitindo que qualquer espectador tenha acesso à trama. Exemplos de algumas das observações dos personagens: ”A moral do capital é deixar os ricos mais ricos e os pobres mais pobres.” Ou: “Os estados democráticos não podem mais se livrar dos bancos que os asfixiam”. E mais: “Você é respeitado pelo salário que recebe e para tal é preciso possuir dinheiro.”
 
Outra delas: quando Tourneil responde, rindo, à sua mulher, no tom farsesco  que permeia o filme, e prestes a decidir o seu futuro se aproveitando de um vácuo de poder: “Quem é o presidente neste momento? Quem está no poder? É uma piranha gorda chamada A Conjuntura.” 
 
E a apologia da mentira, quando o banqueiro é entrevistado pela primeira vez, de supetão, durante uma mega festa organizada pela indústria de marcas luxuosas e se sai com esta: “O luxo é democrático! É um direito de todos!” Em seguida comenta, rindo, baixinho, também aqui para sua mulher: ”Agora aceito dar qualquer entrevista. A gente diz uma bobagem e pronto.”
 
O esquema é bastante conhecido, mas nunca é demais lembrá-lo. “Somos um bando de caçadores”, se autodenominam os grandes acionistas, em Miami, capitaneados pelo acionista mor do banco Fênix (outro excelente ator, Gabriel Byrne). Dizem os banqueiros franceses: ”Eles (referindo-se aos investidores dos fundos especulativos americanos) querem ganhos do capitalismo de caubói. Porque lá eles não têm empecilhos; não têm leis sociais como as nossas. Esses americanos adoram Paris, mas detestam a França”.
 
Depois de filmar a ditadura grega dos anos 60; o estalinismo na Europa Central; a tortura na aliança militar do Cone Sul (seu filme Estado de sítio não chegou a estrear em Washington e foi banido do Centro Kennedy porque seria “inapropriado”); os primeiros trágicos meses da ditadura chilena e os crimes de guerra do nazismo, agora, aos 80 anos Costa-Gavras mostra que está novo em folha, mordaz como de hábito - “A Europa se transformou em um grande supermercado”, observou recentemente – sempre ocupado em denunciar. 
 
Esquemático? Ou ativista?
 
Certo é que a aliança com Osmont, de 55 anos, uma geração depois da sua, deu certo. Os dois trabalham juntos nos grandes assuntos do nosso tempo: as conseqüências nefastas da globalização, o massacre das demissões em massa, o desemprego; os mercados desregulados, os abismos entre ricos e pobres; os produtos tóxicos oferecidos pelos bancos. 
 
Em mais um dos diálogos que mantém com a mulher (ela é um dos lados da sua consciência que o aguilhoa) Tourneil lembra duas coisas fundamentais. Primeiro: ”Neste mundo das finanças ninguém denuncia ninguém; é como na máfia”. Segundo: “Para que eu quero mais dinheiro? O que mais há além dele?”

Créditos da foto: unifrance.org


http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Cultura/Em-O-Capital-2012-adaptacao-de-novela-francesa-Costa-Gavras-acerta-mais-uma-vez/39/29422

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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz