ISTOÉ                  COLUNISTAS             
             
          Paulo Moreira Leite
Diretor da Sucursal da ISTOÉ em Brasília, é autor de "A Outra História do Mensalão". Foi correspondente em Paris e Washington e ocupou postos de direção na VEJA e na Época. Também escreveu "A Mulher que Era o Outro General da Casa".
      Diretor da Sucursal da ISTOÉ em Brasília, é autor de "A Outra História do Mensalão". Foi correspondente em Paris e Washington e ocupou postos de direção na VEJA e na Época. Também escreveu "A Mulher que Era o Outro General da Casa".
Menos hipocrisia na Cultura, por favor...
A decisão de demitir e contratar apresentadores no "Roda Viva" é política. Não tem nada a ver com "rumos do jornalismo"
É bom controlar a hipocrisia quando se fala sobre mudanças no programa “Roda Viva”.
O antepenúltimo apresentador, Heródoto          Barbeiro, perdeu o posto depois de perguntar sobre pedágios ao          governador José Serra. 
                  Marília Gabriela, penúltima apresentadora,          deixou o programa após um ano de casa, apenas, para seguir sua          carreira em canais de grande audiência. 
                  Naquele período a equipe do programa          enfrentou pressões fortes e óbvias quando entrevistava          personalidades que não agradavam ao governo ou quando demorava          um pouquinho a mais para convidar nomes que agradavam. 
                  A mais nova mudança foi consumada depois que          se bateu um recorde tucano. O “Roda Viva” entrevistou José Serra          e Fernando Henrique Cardoso de uma enfiada só, em duas semanas          seguidas, sem pausa. 
                  O ato gerou protestos formais na Assembleia          Legislativa e assim surgiu o convite para o deputado Rui Falcão,          presidente do PT, prestar depoimento.
                  Não vamos exagerar, portanto. 
                  Queiramos ou não, a Cultura é um aparelho          político do PSDB paulista há bastante tempo e o único aspecto a          lamentar, mais uma vez, é que nada deve mudar daqui para a          frente. 
                  Seu novo presidente, Marco Mendonça, chega          ao posto pelas mãos de Geraldo Alckmin, de quem é aliado e          protegido. 
                  O antecessor, João Sayad, ali chegou por          decisão de Serra – de quem era aliado e protegido – que então          poderia dispor de uma tribuna para a campanha presidencial de          2010. 
                  Com Mendonça, Alckmin terá auxílio em 2014. 
                  Sinto vontade de rir quando leio repórteres          e colunistas de TV falando do “projeto” de quem chega, ou das          “ideias” de quem sai.
                  Sayad chegou a publicar artigo, nos jornais,          dizendo-se “indignado” no momento em que sua saída foi          resolvida. 
                  A decisão de demitir e contratar envolve          pura política. Não tem nada a ver com “rumos do jornalismo”. É          esquema de poder. 
                  Foi essa decisão que levou a troca de Paulo          Markun, nascido e criado na TV brasileira, por um economista que          mal conhecia os programas da casa, como Sayad. 
                  A permanente decadência da Cultura é          deprimente para quem se recorda de seu passado de programas          inovadores e de interesse público. Mas é perseguida com tamanho          empenho por seus gestores que parece obedecer a um instinto          político claro. Jamais dar certo, nunca crescer, para não          desafiar as emissoras privadas. 
                  É uma situação grave e estranha.
                  Mesmo durante o regime militar, havia uma          certa tensão entre o jornalismo e os governantes, como se          verificou, de forma trágica, nas pressões que Vladimir Herzog          sofreu depois que procurou dar um caráter mais autônomo ao          Departamento de Jornalismo. 
                  As denúncias que ajudaram a levar Herzog          para a prisão onde foi assassinado tiveram início com críticas          canalhas a seu trabalho na Cultura. 
                  Aliados da ditadura diziam que fazia um          jornalismo não-alinhado com a ditadura militar. 
                  Olha a ironia. Será que alguém faria essa          crítica hoje? 
                  Num país que não teve capacidade de discutir          formas de assegurar a democratização dos meios de comunicação,          consolida-se a vitória do pior. Embora sobreviva com verbas          públicas, a principal emissora pública brasileira é administrada          como se fosse uma instituição privada no pior sentido da          expressão. 
                  Atende aos interesses políticos e eleitorais          de quem ocupa o governo de Estado, enquanto emissoras comerciais          respondem aos interesses econômicos de seus acionistas. 
                  O verdadeiro compromisso é este, sendo o          resto exatamente o resto. 
                  As mudanças que nada mudam na Cultura são          assistidas como se fossem o processo mais natural do mundo, sem          dizer respeito ao cidadão comum, a sua família, a seus filhos.          Nem parece que se trata de uma emissora sustentada com recursos          públicos. 
                  É espantoso.
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