Vida quer é
coragem
A trajetória de
Dilma Rousseff,
a primeira presidenta
do Brasil
Ricardo Batista Amaral
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A trajetória pessoal da presidenta Dilma Rousseff e a história do Brasil moderno se entrelaçam numa grande reportagem. Do suicídio de Getúlio Vargas, quando era criança, ao golpe de 1964, quando se aproxima das organizações de esquerda. Da clandestinidade, prisão e tortura na ditadura militar, à luta pela anistia e pela redemocratização. O encontro de Dilma com Leonel Brizola, na fundação do PDT, e sua aproximação com Lula, durante o apagão e na campanha eleitoral de 2002. A chefia da Casa Civil, que assume em plena crise do mensalão, os bastidores da reeleição, a luta contra o câncer e a vitória nas eleições de 2010: uma história de resistência, esperança e coragem.
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É fácil localizar em qualquer antologia os versos de um dos poemas mais conhecidos de Cecília Meireles, aquele que diz “aprendi com as primaveras a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira”. A poetisa é uma das autoras prediletas de Dilma Rousseff, e os versos talvez sejam a síntese perfeita de sua trajetória.
Foram muitos os cortes na vida da primeira presidenta do Brasil. Um dos mais profundos, a perda do pai, imigrante búlgaro que adotou o Brasil, privou a adolescente de 15 anos de seu “super superego” e mentor intelectual. O segundo corte aponta para a Rua Martins Fontes, seis anos depois, em São Paulo, onde a jovem militante da VAR-Palmares é presa ao “cobrir um ponto” (no jargão da militância).
Um corte rápido desemboca na Rua Tutóia, porões do DOI-Codi, onde é submetida a 22 dias de sessões ininterruptas de tortura. A sequência revela então a jovem levada às pressas para o Hospital Central do Exército por conta de uma hemorragia que não cessava. Um corte abrupto para o Dops do Fundão e de lá para o Presídio da Avenida Tiradentes. Por dois anos e dez meses, Vanda, Luiza e Estela tiveram suas vidas cortadas para voltar, inteiras, despidas do codinome, a reabitar sua única pele, a de Dilma Vana Rousseff Linhares.
Ao deixar a cadeia, a mineira de Belo Horizonte se torna um pouco a gaúcha de Porto Alegre. Ao lado do marido Carlos Araújo, inicia a trajetória que faria dela a primeira mulher a ocupar cargos-chave na Prefeitura de Porto Alegre e no Governo do Rio Grande do Sul. Primeiro foi o PDT, de Brizola; depois o PT, de Lula.
Nos governos do presidente Lula, torna-se a primeira mulher a ocupar o Ministério de Minas e Energia e a chefia da Casa Civil. A eficiência como gestora faz dela a mãe do PAC e impulsiona a candidatura presidencial sob a batuta do presidente mais popular da História brasileira. Um corte a mais, agora para a candidata à Presidência que acaba de receber por telefone o diagnóstico de câncer. “A vida não é fácil. Nunca foi”, desabafa.
É possível que, em algum canto da memória, ecoassem outros versos de Cecília Meireles: “Mas quem disse que é fácil ser feliz?/Nem tudo é fácil na vida...”. Menos de um ano se passa até a última cena: Dilma e Lula, no alto da escada que leva ao cinema do Planalto. “Deus te abençoe”, havia acabado de ouvir do presidente operário. “Em que espelho ficou perdida a minha face?”, talvez tenha se perguntado, ainda na trilha de Cecília Meireles, naqueles instantes que se seguiram à vitória.
No recorte de Ricardo Batista Amaral, é possível que a própria Dilma encontre hoje respostas diferentes para pergunta tão carregada de significados e possibilidades. Talvez sua vitória seja também a de tantos companheiros mortos, entre eles Beto, Dodora e Iara. São faces que com certeza nunca deixarão o espelho da memória. De alguma forma, a história estava reescrita naquele 31 de outubro de 2010. Os vencidos haviam vencido, afinal. Até ali, a vida não foi fácil. Nunca foi. O texto elegante e ágil de Amaral, quase um roteiro-biografia, é também um ensaio sobre um país que, assim como a personagem central da obra, se deixou cortar até se revelar novamente inteiro.
http://www.esextante.com.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=7155&sid=2
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