Elites se unem contra moradores do Pinheirinho. Pra que(m) serve essa terra?
Muito se pode escrever sobre o que aconteceu no último fim de semana em Pinheirinho, em São Paulo. Muito já se escreveu, também, e mesmo assim, em nosso conjunto de palavras, é difícil dimensionar o tamanho do problema do despreparo da Polícia Militar por todo o país somado ao neoconservadorismo de uma fatia da sociedade e o autoritarismo elitista dos partidos da direita brasileira. Também é difícil dimensionar as consequências disso tudo, mas elas salpicam sangue em nossos olhos quando menos esperamos.
No último domingo, centenas de famílias foram desalojadas no bairro do Pinheirinho, em São José dos Campos (SP), em uma ação violenta da Polícia Militar, sob ordens do governo estadual de Geraldo Alckmin (PSDB). Foram 2 mil PMs na operação. Há relatos, entre os moradores, de mortos na ação. Diz a polícia que foram vinte feridos, apenas. A ação foi em cumprimento a reintegração de posse, em benefício do empresário Naji Nahas. Segundo o Blog do Miro,
Naji Nahas, que reivindica a “propriedade” do latifúndio, é um especulador condenado (…). Mais: havia uma trégua em curso, acertada por todas as partes, e uma decisão da Justiça Federal mandando suspender a mal-chamada “reintegração de posse”. (…) Cansados de tantas arbitrariedades, alguns membros da ocupação vestiram-se de uniformes de resistência improvisados, numa encenação artística do que pode vir ser o contra-poder popular. O governo de Geraldo Alckmin, ligado ao fundamentalismo cristão de direita, e o Tribunal de Justiça de São Paulo, conhecido por seus laços com o que há de mais feudal e escravocrata na oligarquia paulista, não toleraram a hipótese de diálogo, muito menos a irreverência das imagens.
A PM invadiu durante a madrugada, quando os moradores dormiam. Tática de guerra. Uma polícia militarizada, treinada com foco em combate, e a sociedade como inimiga, os moradores como inimigos a serem expulsos ou eliminados. Agora, seis mil pessoas engrossam a fila de cidadãos ultrajados, desalojados, em condições precárias.
Tudo isso assinado embaixo por alguns setores da mídia, a começar pela Rede Globo. Em matéria de dois minutos no Fantástico, a pauta foi a criminalização dos moradores. A reportagem trabalhou com release da Polícia Militar e da Justiça de São Paulo, que contrariou orientação da Justiça Federal. Como bem escreveu Altamiro Borges, essa mídia “tratou os ocupantes como ‘invasores’ e culpados pelas cenas de violência”. E mais: “Nos momentos de confrontos mais agudos, os barões da mídia se juntam na defesa da “propriedade” e contra os que lutam por direitos humanos mínimos – como o direito à moradia. Nesta “cruzada sagrada”, eles inclusive protegem notórios bandidos, como é o caso do especulador Naji Nahas. De vilão, ele foi tratado como prejudicado no triste episódio do Pinheirinho”.
Entre a bala e a pedra, a velha mídia sempre esteve ao lado da bala. Bons exemplos são os tratamentos dados ao MST e à questão palestina, onde o “confronto” é sempre entre pedras e armas de fogo. Os casos recentes de agressões a estudantes da USP pela mesma PM paulista demonstram também uma preferência pelo porrete em detrimento da palavra, da ação violenta em oposição ao pensamento reflexivo (crítico).
Mas agora essa mídia não é a única voz, ainda que continue sendo dominante, opressora e dona dos principais espaços de circulação de informação (televisão, rádio e jornais). Os blogs vem fazendo uma grande cobertura jornalística do caso, denunciando os abusos da PM, da Justiça de SP, do governo de Alckmin e da mídia aliada às elites. Destaco o excelente trabalho de reportagem de Raphael Tsavkko e Maria Frô, e os artigos precisos e esclarecedores de Altamiro Borges que já citei neste post, mas muito mais pode ser encontrado em uma busca rápida pela rica e diversa blogosfera brasileira.
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