Da Página do MST
Darcy Ribeiro é um dos principais estudiosos da realidade brasileira. E, mais do que isso, foi um grande brasileiro, um apaixonado pelo Brasil e seu povo.
Foi antropólogo, escritor e político brasileiro, conhecido por seus estudos em relação aos índígenas e a defesa incansável da educação no país.
Nascido em Montes Claros (MG), em 26 de outubro de 1922, completaria 78 anos.
Ele morreu em Brasília, em 17 de fevereiro de 1997.
Entre as suas principais obras, estão "O processo civilizatório – etapas da evolução sócio-cultural" (1968), "O dilema da América Latina – estruturas do poder e forças insurgentes" (1978) e "O povo brasileiro – a formação e o sentido do Brasil" (1995).
Abaixo, leia texto do escritor, filósofo e integrante da coordenação nacional do MST, Ademar Bogo, em homenagem a Darcy Ribeiro.
O novo histórico
Quando os olhos de Darcy Ribeiro bateram nos vergões da história brasileira
Provocados pelas chibatas e torturas praticadas contra os antepassados
Lamentou como qualquer outro visualizador bem comportado;
Mas, com o pranto nos olhos fez a síntese de algo que estava mal contado.
Olhou por baixo dos massacres, das dores e dos acintes
E encontrou as raízes de um povo feito sem pecado.
Eis a grande diferença das nações castigadoras e egocêntricas
Que moralmente cerziram a crueldade, como um direito da civilização;
O "povo novo" sob a língua ardida das chibatas
Fez o selvagem se tornar sujeito
Fez o amor jorrar sem preconceito
E surgir, mesmo que fosse um cativo, um servente um dominado...
Uma semente de um povo, solidário, solícito e ambientado.
Não tinha medo, pois se fora das senzalas os carniceiros
Não controlavam as selvas nem o espírito criador,
Onde namorava a biodiversidade com seus ventres e pernas enrijecidas
E sob os olhos do Capitão do Mato, do feitor e do próprio proprietário enciumados
Índios, negros e brancos fugitivos, se mestiçavam como as plantas florescidas
Acasalando o pólen para a fecundação,
Compartilhando a genética de matrizes coloridas.
E a mestiçagem corroeu com a alegria as entranhas do poder envelhecido
Mostrando que dançar, cantar e trabalhar era o fluir da mesma atividade;
Era a cultura da natividade, que nascia com a nação e perdoava o malfeitor
Por ser ingênuo, fraco, malquisto o invasor...
Não percebia que as proibições, as torturas e as restrições...
Não conseguiam fechar os corações e proibir de praticar o amor.
O princípio, na costa brasileira,
Quando se defrontaram duas visões de mundo:
Os Selvagens e os Civilizados.
Na consoante inicial ficara demarcado
O que cada uma das visões representava.
O selvagem: solidário, sensível, sorridente, sábio e servidor...
O civilizado: cruel, criminoso, carrancudo, carrasco, corrupto e castigador...
Uns puros, livres e nus; outros pecadores, opressores, vestidos, ali se defrontaram.
E ninguém naquele instante se dera por vencido,
Até hoje estes projetos se confrontam
Mas o novo que os valores dos selvagens ainda apontam, são muito superiores.
Por isto, nós, os descentes de todas as gerações de lutadores
Trazemos a tradição segura e preservada.
É o novo, é a história reencarnada
Na memória, nos gestos e nas vivências.
Darcy, com sua onisciência, vive em cada leitura repetida
É o novo da história revertida
Se fazendo na pele renovada da ferida.
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