Nesta segunda-feira, em audiência no Vaticano, Bento XVI recebeu o presidente da Bolívia, Evo Morales, com o qual falou a sós durante 25 minutos.
Na véspera dessa audiência, Morales declarou que detalharia ao Papa as conclusões alcançadas durante um fórum social sobre as mudanças climáticas celebrado no mês de abril na Bolívia.
A reportagem é da Agência Efe, 17-05-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A audiência foi realizada na Biblioteca privada do Papa e, por ocasião do encontro, entraram na sala o séquito presidencial, composto por sete pessoas, entre elas seu porta-voz, Ivan Canelas, e o embaixador da Bolívia na Santa Sé, Carlos Ribas.
Bento XVI recebeu Morales – que vestia calça escura e a tradicional jaqueta andina, também escura, com bordados, e sem gravata – na sala do Tronetto, anexa à biblioteca, com um "bienvenido, presidente".
O presidente sul-americano lhe respondeu: "Que alegria, Santidade, saudar-te. É uma honra para mim". Depois, entraram no recinto, acompanhados por um intérprete.
Uma vez sentados um à frente do outro, o Papa indicou ao presidente a presença dos jornalistas que acompanhavam o ato.
Novamente, Morales comentou ao Papa que estava "surpreso e honrado pelo recebimento" e outra vez lhe agradeceu.
O intérprete disse a Morales: "O Papa está muito feliz por lhe receber".
O presidente da Bolívia, Evo Morales, entregou nas mãos do Papa uma carta na qual pede a abolição do celibato, o acesso da mulher ao sacerdócio e a "humanização e democratização da estrutura clerical".
Nela, Morales se apresenta como "membro da Igreja Católica" e "cristão de base" e propõe "muito respeitosamente" a Bento XVI "a necessidade de superar a crise da Igreja, que, como o senhor disse, está ferida e em pecado".
Para superar essa crise, Morales considera "imprescindível democratizar e humanizar sua estrutura clerical". E acrescenta: "Democratizá-la para que sejam reconhecidos a todas as filhas e filhos de Deus os mesmos direitos religiosos e que as mulheres possam ter as mesmas oportunidades que os homens para exercer plenamente o sacerdócio".
A natureza humana
Com relação ao celibato, o presidente da Bolívia indica que a Igreja "não deve negar uma parte fundamental de nossa natureza como seres humanos", e por isso "deve abolir o celibato (sacerdotal)". Na opinião do político, com essa medida "haverá menos filhas e filhos não reconhecidos por seus pais, e assim poderemos ser sinceros diante da realidade".
A carta também aborda os escândalos de pedofilia na Igreja. "Do mesmo modo e com muita decisão, devemos proteger nossas crianças, que, valendo-se da confiança que deve inspirar um sacerdote, são abusadas. Aqueles que cometem essas atrocidades pecam e também delinquem", denunciou Morales.
O presidente se mostrou convencido de que o Papa avaliará "com sabedoria" as suas propostas.
Em sua entrevista, o presidente boliviano se lamentou diante do Papa pelas críticas que recebe por parte da Igreja de seu país e defendeu os "numerosos padrezinhos e freiras que se sacrificam em favor dos agricultores".
Coincidências
Apesar das diferenças, Morales destacou a "enorme coincidência" que o une a Bento XVI na defesa "da Mãe Terra" e dos imigrantes.
Por sua parte, o Vaticano informou o "frutuoso intercâmbio de opiniões" sobre a conjuntura internacional e regional e a necessidade de fomentar uma maior sensibilidade social para a proteção do meio ambiente.
Da mesma forma, o Papa e Morales analisaram "alguns aspectos da situação da Bolívia, particularmente a colaboração entre a Igreja e o Estado em matéria de educação, saúde e políticas sociais na defesa dos direitos dos mais fracos".
Concluído a conversa a sós, o séquito presidencial entrou na biblioteca e, após as apresentações, o presidente Morales presenteou o Papa com uma "chalina", um chale branco marfim, de tecido de alpaca, e duas pequenas figuras de maneira de dois agricultores, um homem e uma mulher do altiplano boliviano.
O Pontífice lhe agradeceu com um "muchas gracias, son muy hermosas" e lhe correspondeu com a medalha de ouro do seu pontificado.
Após a audiência, Morales se reuniu com o secretário de Estado do Vaticano, o cardeal Tarcisio Bertone, e o "ministro do Exterior" do Vaticano, o arcebispo Dominique Mamberti. Para ler mais: |
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