Escrito por Wladimir Pomar
18-Fev-2008
Tornou-se recorrente a suposição de que a crise norte-americana está associada a uma possível crise da própria globalização. Há quem recorra à situação da Europa e do Japão para procurar confirmar a tese de que a globalização capitalista, do mesmo modo que o capitalismo norte-americano, estaria passando por uma crise terminal. A estagnação japonesa, a perda de competitividade da indústria européia, a explosão dos preços do petróleo e a volatilidade das bolsas de valores seriam outros sinais evidentes de uma situação crítica.
Essa análise talvez não leve em conta que o petróleo teve seus preços elevados, tanto pelo aumento da demanda internacional, maior do que o aumento da oferta, quanto pela desvalorização do dólar e por manobras especulativas. Nem que o Japão apresenta sinais de recuperação industrial. E que a Europa, apesar de tudo, tem conseguido manter um certo crescimento e participação ativa no comércio mundial. Mais do que isso, porém, talvez não tenha percebido que a globalização não é mais pautada exclusivamente pelos Estados Unidos, Europa ou Japão. Ela também é pautada pelos países emergentes, que elevaram sua participação na produção e no comércio mundial de forma considerável.
A globalização mercantilista começou, no século XV, buscando especiarias para a Europa. Descobriu regiões de grande densidade populacional, que produziam o que os mercadores europeus procuravam, e também regiões de baixa densidade populacional, passíveis de serem ocupadas por migrantes europeus e escravos africanos, para a implantação de atividades produtivas em larga escala. Essa globalização criou as condições para a acumulação das riquezas que, três a quatro séculos depois, levou ao surgimento da manufatura e da indústria, e a profundas transformações sociais e políticas em quase todo o mundo.
A globalização imperialista teve início no século XIX, buscando matérias-primas minerais e agrícolas para as fábricas, e mercados para os produtos das novas potências industriais. Reorganizou o mundo colonial da primeira globalização, e subjugou países e regiões antes não dominados, liquidando sua manufatura artesanal e grande parte de sua agricultura tradicional.
Por outro lado, combateu o tráfico e o trabalho escravos, e transferiu elementos do modo de produção capitalista para aqueles países e regiões subjugados, implantando ferrovias, portos, oficinas de reparos, certas unidades industriais e o trabalho assalariado. Criou, assim, as condições, tanto para as guerras imperialistas, quanto para as revoluções anti-coloniais, nacionais e socialistas, que marcaram profundamente o século 20.
A globalização do final de século 20 e início do século 21, ainda em curso, tem diferenças significativas em relação a essas globalizações anteriores, e nada indica que ela esteja se esgotando. Mas isso é assunto para o próximo comentário.
Wladimir Pomar é escritor e analista político.
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