Escrito por Valéria Nader
23-Mai-2007
23-Mai-2007
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Privatizações em série, juros estratosféricos, elevação galopante da dívida pública, valorização cambial, reforma do regime geral da previdência, precarização nas relações de trabalho, corrupção envolvendo a “privataria” e outros mais são hoje, já com o “privilégio” do olhar distante, marcas reconhecidas do governo FHC. Até mesmo em certos setores à direita do espectro político não se recusa em muitos pontos essa apreensão
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A eleição de Lula, um líder popular egresso dos movimentos sociais que recrudesceram a sua atuação a partir do final dos anos 70, e após várias tentativas de chegar ao Executivo federal, traria um novo panorama à nação. Ainda que diante da evidência do afastamento de seu partido de sustentação, o PT, das bases populares e da adoção de uma estratégia crescentemente eleitoral ao longo dos anos 90, era possível, em 2002, ter esperanças no “governo em disputa”, e acreditar que venceriam os interesses das classes desfavorecidas.
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O decorrer do primeiro mandato foi paulatinamente desarmando essa expectativa, na medida em que não se arranharam nem mesmo minimamente os fundamentos da ortodoxia econômica anterior: seguiram-se os juros elevados, os lucros bancários exorbitantes e a queda no rendimento médio dos trabalhadores, a despeito do maior número de contratações crescentemente precarizadas.
O decorrer do primeiro mandato foi paulatinamente desarmando essa expectativa, na medida em que não se arranharam nem mesmo minimamente os fundamentos da ortodoxia econômica anterior: seguiram-se os juros elevados, os lucros bancários exorbitantes e a queda no rendimento médio dos trabalhadores, a despeito do maior número de contratações crescentemente precarizadas.
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O prestígio histórico de um líder como Lula, ao lado da execução de uma política assistencialista através do Bolsa Família – uma política necessária em face da fome de uma população miserável, mas cuja função coadjuvante foi alçada à grande e inédita realização de nossa República –, aos quais ainda se associou um cenário externo de grande liquidez financeira e extremamente favorável às exportações de nossas commodities criaram, no entanto, uma complexa realidade. Esses fatores acobertaram poderosamente a apreensão do insistente fortalecimento do capital financeiro em nosso país. Teceu-se o véu necessário para mascarar os assaltos que vinham sendo sorrateiramente realizados contra direitos sociais, deixando intacta a figura do líder, exercendo efeito intensamente desmobilizador sobre os movimentos populares e ocasionando uma crescente cisão entre os setores à esquerda.
O prestígio histórico de um líder como Lula, ao lado da execução de uma política assistencialista através do Bolsa Família – uma política necessária em face da fome de uma população miserável, mas cuja função coadjuvante foi alçada à grande e inédita realização de nossa República –, aos quais ainda se associou um cenário externo de grande liquidez financeira e extremamente favorável às exportações de nossas commodities criaram, no entanto, uma complexa realidade. Esses fatores acobertaram poderosamente a apreensão do insistente fortalecimento do capital financeiro em nosso país. Teceu-se o véu necessário para mascarar os assaltos que vinham sendo sorrateiramente realizados contra direitos sociais, deixando intacta a figura do líder, exercendo efeito intensamente desmobilizador sobre os movimentos populares e ocasionando uma crescente cisão entre os setores à esquerda.
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As eleições presidenciais de 2007, que colocaram o eleitor diante de um segundo turno em que estariam em disputa dois projetos de país, à esquerda, com Lula – que construiu um eficiente discurso “neodesenvolvimentista” contrário às privatizações, ainda que durante o seu primeiro mandato não tenha aberto nenhuma sindicância para a sua revisão –, e, à direita, admita-se que escrachada, com Alckmin, impuseram ao eleitor, aos movimentos populares e ao campo à esquerda uma nova encruzilhada, quase uma emboscada. Entraram em mais um round de desagregação, dessa vez com setores que já haviam se afastado de Lula e do PT considerando-se praticamente forçados a declarar-lhes um “apoio condicionado”.
As eleições presidenciais de 2007, que colocaram o eleitor diante de um segundo turno em que estariam em disputa dois projetos de país, à esquerda, com Lula – que construiu um eficiente discurso “neodesenvolvimentista” contrário às privatizações, ainda que durante o seu primeiro mandato não tenha aberto nenhuma sindicância para a sua revisão –, e, à direita, admita-se que escrachada, com Alckmin, impuseram ao eleitor, aos movimentos populares e ao campo à esquerda uma nova encruzilhada, quase uma emboscada. Entraram em mais um round de desagregação, dessa vez com setores que já haviam se afastado de Lula e do PT considerando-se praticamente forçados a declarar-lhes um “apoio condicionado”.
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O aspecto com que começasse a se apresentar o segundo mandato seria, portanto, decisivo para a reacomodação das forças populares. E esse mandato, ainda que incipiente, já vem sinalizando muito claramente a que veio. Mesmo que o presidente e vários de seus ministros ligados às áreas sociais se expressem, às vezes categoricamente, contra algumas das medidas que fragilizam a previdência e o trabalhador, alguns atos valem mais do que mil palavras: há já extensa gama de medidas muito claras em seus objetivos.
O aspecto com que começasse a se apresentar o segundo mandato seria, portanto, decisivo para a reacomodação das forças populares. E esse mandato, ainda que incipiente, já vem sinalizando muito claramente a que veio. Mesmo que o presidente e vários de seus ministros ligados às áreas sociais se expressem, às vezes categoricamente, contra algumas das medidas que fragilizam a previdência e o trabalhador, alguns atos valem mais do que mil palavras: há já extensa gama de medidas muito claras em seus objetivos.
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A retomada do projeto de transposição do São Francisco, a pressa para a obtenção de licenciamentos ambientais, chegando-se até mesmo a alterar a estrutura do Ibama, a liberação de transgênicos, o privilégio ao agronegócio em detrimento da agricultura familiar e, agora, a panacéia dos biocombustíveis, sem a abertura de canais efetivamente democráticos de diálogo, são medidas que têm estarrecido vários especialistas e estudiosos.
A retomada do projeto de transposição do São Francisco, a pressa para a obtenção de licenciamentos ambientais, chegando-se até mesmo a alterar a estrutura do Ibama, a liberação de transgênicos, o privilégio ao agronegócio em detrimento da agricultura familiar e, agora, a panacéia dos biocombustíveis, sem a abertura de canais efetivamente democráticos de diálogo, são medidas que têm estarrecido vários especialistas e estudiosos.
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Somem-se ainda as pretensões explícitas, algumas literalmente declaradas pelo ministro da Previdência ao jornal Folha de São Paulo, de desvincular os benefícios da Previdência do mínimo – uma medida que, comprovadamente, deverá aumentar os índices de pobreza –, aumentar o tempo de contribuição, elevar a idade mínima para 65 anos, acabar com a aposentadoria especial de professores e trabalhadores rurais, acabar com a possibilidade de a mulher se aposentar com 5 anos a menos que os homens, reduzir a pensão morte etc. e teremos configurado uma avassaladora tentativa de agressão a direitos arduamente conquistados e constitucionalmente garantidos.
Somem-se ainda as pretensões explícitas, algumas literalmente declaradas pelo ministro da Previdência ao jornal Folha de São Paulo, de desvincular os benefícios da Previdência do mínimo – uma medida que, comprovadamente, deverá aumentar os índices de pobreza –, aumentar o tempo de contribuição, elevar a idade mínima para 65 anos, acabar com a aposentadoria especial de professores e trabalhadores rurais, acabar com a possibilidade de a mulher se aposentar com 5 anos a menos que os homens, reduzir a pensão morte etc. e teremos configurado uma avassaladora tentativa de agressão a direitos arduamente conquistados e constitucionalmente garantidos.
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Os argumentos suscitados em defesa de tantas dessas medidas parecem comezinhos se justapostos a uma estatística básica em nosso país: 160 bilhões de reais foram gastos em 2006 somente para o pagamento da dívida pública, incrementando a olhos vistos os lucros bancários e os ganhos dos especuladores.
Mas esse escancaramento dos reais objetivos em pauta, agora apresentados com verniz menos espesso, tem um lado auspicioso. Ao deixar a realidade mais a nu, elimina a esquizofrenia persistente desde a Carta aos Brasileiros. E a prova disso é que, pela primeira vez após muitos anos de apatia, esse 23 de maio pode se tornar histórico.
Os argumentos suscitados em defesa de tantas dessas medidas parecem comezinhos se justapostos a uma estatística básica em nosso país: 160 bilhões de reais foram gastos em 2006 somente para o pagamento da dívida pública, incrementando a olhos vistos os lucros bancários e os ganhos dos especuladores.
Mas esse escancaramento dos reais objetivos em pauta, agora apresentados com verniz menos espesso, tem um lado auspicioso. Ao deixar a realidade mais a nu, elimina a esquizofrenia persistente desde a Carta aos Brasileiros. E a prova disso é que, pela primeira vez após muitos anos de apatia, esse 23 de maio pode se tornar histórico.
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Os movimentos sindicais, populares e estudantis convocam os trabalhadores e o povo a lutar em uma congregação inédita. CONLUTAS - Coordenação Nacional de Lutas; INTERSINDICAL; CUT - Central Única dos Trabalhadores; MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra; Via Campesina; UNE - União Nacional dos Estudantes; CMS - Coordenação dos Movimentos Sociais; Assembléia Popular; UBES - União Brasileira dos Estudantes Secundaristas; Marcha Mundial das Mulheres; Pastorais Sociais; CONAM - Confederação Nacional das Associações de Moradores; e ANPG - Associação Nacional de Pós-Graduandos estão todos juntos na mobilização programada para 23 de maio, na luta pela retomada da pauta dos verdadeiros interesses de uma nação.
Os movimentos sindicais, populares e estudantis convocam os trabalhadores e o povo a lutar em uma congregação inédita. CONLUTAS - Coordenação Nacional de Lutas; INTERSINDICAL; CUT - Central Única dos Trabalhadores; MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra; Via Campesina; UNE - União Nacional dos Estudantes; CMS - Coordenação dos Movimentos Sociais; Assembléia Popular; UBES - União Brasileira dos Estudantes Secundaristas; Marcha Mundial das Mulheres; Pastorais Sociais; CONAM - Confederação Nacional das Associações de Moradores; e ANPG - Associação Nacional de Pós-Graduandos estão todos juntos na mobilização programada para 23 de maio, na luta pela retomada da pauta dos verdadeiros interesses de uma nação.
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De seu fervor, capacidade de congregação, de mobilização e de superação de dificuldades advindas de antigas discussões e rivalidades dependerá o avanço desse processo.
De seu fervor, capacidade de congregação, de mobilização e de superação de dificuldades advindas de antigas discussões e rivalidades dependerá o avanço desse processo.
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Valéria Nader, economista, é editora do Correio da Cidadania.
Valéria Nader, economista, é editora do Correio da Cidadania.
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