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pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

8.6.17

Se nada der certo viraremos gaúchos | Depois de festa “Se nada der certo”, filho de porteiro dá resposta contundente ao Colégio Marista

Se nada der certo viraremos gaúchos

 

Publicado no Unisinos.

POR RICARDO MACHADO

Fracassamos. É chegada a hora de enfiar as mãos nos bolsos e sair a esmo, pensar no que temos feito para só depois de muito andar retomar o caminho de volta e começar tudo de novo. O Rio Grande do Sul, particularmente duas escolas privadas, uma da capital e outra da região metropolitana de Porto Alegre, tornou-se notícia nacional por uma brincadeira feita entre os estudantes do último ano do Ensino Médio que tinha como tema a frase: "se tudo der errado eu viro…". Pois bem, as reticências foram completadas com fotos e cartazes em que os alunos se vestiam como atendentes de fast foods, faxineiros, garis e catadores de material reciclado, entre outros. O Brasil que estampa Joesley em capa de revista é o mesmo que inferioriza certos trabalhadores.

Fracassamos. O ponto central nesse debate não diz respeito ao que se poderia compreender como uma espécie de patrulhamento do "politicamente correto" (eita expressão medonha!), mas ao desejo de produzir hierarquias sociais, econômicas e (pasmem!) intelectuais. A questão principal é a absoluta incapacidade de jovens de perceber o Outro, mesmo estando à beira de ingressar na universidade e que tiveram amplo acesso à formação que deveria ser da mais alta qualidade (afinal, paga-se caríssimo por ensino privado). Outro se escreve com a primeira letra maiúscula porque se trata de um sem número de Marias, Joões, Joanas, Pedros, Paulas e tantos outros.

Fracassamos. A vontade de minimizar o episódio ao sustentar que eram "apenas jovens", "que era só uma brincadeira" e que "não tinham intenção" é a expressão máxima do nosso fracasso ético. O Atlas da Violência 2017 divulgado esta semana mostra que a taxa de homicídios da população não negra caiu 12,2%, ao passo que a da população negra cresceu 18,2%. Somos o país que deseja a redução da maioridade penal para as populações marginalizadas, sobretudo negros e pobres, e passa a mão na cabeça dos brancos de classe média. Mimamos os ricos, surramos os miseráveis. Triste requiém para a educação tecnocrática da barbárie.

Fracassamos. As portas da Quarta Revolução Industrial estão escancaradas à nossa cara e tudo o que fazemos é apostar no empreendorismo individual. Formamos nas escolas jovens que precisam aprender a vencer a qualquer custo e nas universidades adultos cujo imperativo é a razão prática (empreendedora inclusive), que ali adiante será substituída por autômatos, diria Aristóteles, muito mais eficientes que nós humanos. A Revolução 4.0 não vem a galope, ela chega na velocidade da transmissão de dados, na Inteligência Artificial e na Impressão 3D, fenômenos que reorganizam não somente os modos de produção atuais, mas nosso ser/estar no mundo de uma maneira muito radical.

Precisamos encarar nossos fracassos e não esperar que a mão da história afague nossas cabeças de crianças mimadas que perceberam o erro, mas que não dimensionam seu tamanho. Precisamos compreender que estamos diante de uma fronteira cujos nossos próximos passos darão a direção do futuro. É melhor que, principalmente diante das transformações no mundo do trabalho, da biotecnologia e da Inteligência Artificial, sejamos capazes de optar por um processo civilizatório inclusivo e que resguarde a possibilidade de existência digna dos mais necessitados. Agora, se tudo der errado viraremos "gaúchos", essa débil caricatura de povo politizado e intelectualizado que acredita que tudo foi só uma "brincadeira inocente".

http://www.diariodocentrodomundo.com.br/se-nada-der-certo-viraremos-gauchos/

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Depois de festa "Se nada der certo", filho de porteiro dá resposta contundente ao Colégio Marista


"Se nada der certo, vou para o Colégio Marista. Lá pelo menos eu posso esconder meu ser vazio atrás de um patrimônio que consegui pisando nos outros", escreveu o filho de um porteiro após a repercussão de uma festa de 2015 em que os alunos se fantasiaram de faxineiras, atendentes do McDonalds, vendedores ambulantes e outras profissões que julgaram ser inferiores. Leia 

Por Redação 

Tem gerado polêmica nas redes sociais as fotos de alunos do terceiro ano do Ensino Médio do Colégio Marista e da Instituição Evangélica de Novo Hamburgo (IENH), no Rio Grande do Sul, na festa "Se nada der certo". Nas fotos, eles aparecem fantasiados de garçons, faxineiras, atendentes do McDonalds, porteiros e outras profissões que julgam ser inferiores.

A festa em questão aconteceu este ano na Instuição Evangélica de Novo Hamburgo e no ano de 2015 no Colégio Marista, mas veio à tona nesta semana após matéria do HuffPost Brasil. Ambos os colégios divulgaram nota pedindo desculpas pelo ocorrido e afirmando que não tinham intenção de depreciar nenhuma profissão.

Um filho de porteiro, no entanto, resolveu dar sua própria resposta ao Colégio Marista. Marcio Ruzon, que também já foi porteiro, publicou em seu Facebook, na noite desta segunda-feira (5) uma carta contundente em que expõe críticas aos alunos e ao colégio e que conta a experiência de seu pai enquanto porteiro.

"Meu pai conseguiu sustentar 3 filhos (e minha mãe administrando como uma Economista) com pouco mais de um salário, hoje todos bem e com família, mas infelizmente ele não deu certo".

Confira a íntegra.

Ao Colégio Marista:
Meu pai aposentou-se como porteiro. O mesmo que vocês têm aí na entrada do Colégio, que os pais "que deram certo" passam e nem cumprimentam. 
Então, falando do meu pai, ele trabalhava feito um condenado (aliás, mesmo depois que se aposentou teve que voltar à portaria pra completar a renda). O que meu pai recebia de salário era uma mensalidade que as famílias "que deram certo" pagam pra vocês ensinarem essa ética (ou falta dela) aos estudantes. 
Ele tinha uma Barra forte preta e com ela ia de sol a sol, chuva a chuva, noite a noite, cuidar de fábricas ou de condomínios ao estilo que os alunos moram ou que os pais "que deram certo" trabalham como Diretores, Gerentes.
Aprendi a profissão com meu pai. Fui porteiro por anos. Vi o que é você comer em pé ou no banheiro porque não tem ninguém pra substituí-lo nos intervalos. Cansei de atender pessoas na guarita enquanto mastigava um ovo frio. 
Já usei papelão como mesa em cima da privada para almoçar. 
Colégio Marista, meu pai não deu certo. Criou três filhos junto com a minha mãe que ficava apreensiva em casa: -" Será que ele volta?" Porque meu pai pegava estradas perigosas de madrugada, aliando-se ao fato de muitas vezes cuidar de galpões abandonados,que era alvo de bandidos. 
Mas ele não deu certo.
Conseguiu sustentar 3 filhos (e minha mãe administrando como uma Economista) com pouco mais de um salário, hoje todos bem e com família, mas infelizmente ele não deu certo.
Meu pai não é desses pais bacanas que param aí na frente do Colégio, com Cherokees, Tucson, sorrindo pra quem convém e pisando nos descartáveis.
Meu pai tem um Palio que vive quebrando, e mesmo debilitado pela idade, levava todos os netos às escolas públicas. Levava e buscava.
Mas, que pena! Meu pai não deu certo.
Quem deram certo foram essas famílias que dependem da faxineira, do porteiro, do zelador, da cantineira, do gari, da empregada doméstica. Eles deram certo! 
Ainda bem que muita gente "dá errado" na vida, senão quem iria preparar o lanche dos filhos que vão para o Colégio Marista? O pai? A mãe? Não sabem nem como ligar um fogão! Mas deram certo, não é?
Fique um dia sem um gari na sua rua e no dia seguinte você já está ligando na prefeitura fazendo birra! Ué? Pega uma vassoura e varre! Você não "deu certo"?
Fique sem porteiro no condomínio e mundo para. Não sabem descer pra atender o motoboy? Tem medo de quem seja? Pode ser um ladrão, não é? Deixa que o porteiro arrisca (sem seguro de vida) a vida por você (com seguro de vida).
Gente que não deu certo existe pra isso: mimar os que deram certo.
Tenho orgulho de ter um pai que não deu certo, Colégio Marista. E eu tenho orgulho de não ter dado certo também. Já pensou, criar minha filha num ambiente que debocha de profissões, que em vez de promover a isonomia e empatia, fomenta a segregação e a eugenia? 
Deus me livre! 
Aliás, por falar em deus, vocês são de formação católica certo? 
Se nada der certo, vocês vão virar carpinteiro também? Embora eu sendo agnóstico, respeito muito um carpinteiro que "não deu certo" e que vocês finjem amar. Que feio, Colégio! Ensinando crianças a desprezarem seu Mestre?
Enfim, falei demais. Obrigado pela lição de hoje. Talvez tenha sido o único ensinamento que vocês deixaram: 
Se nada der certo, vou para o Colégio Marista. Lá pelo menos eu posso esconder meu ser vazio atrás de um patrimônio que consegui pisando nos outros.

Viu, a lição de vocês acabou "dando certo"!

http://www.revistaforum.com.br/2017/06/06/depois-de-festa-se-nada-der-certo-filho-de-porteiro-da-resposta-contundente-ao-colegio-marista/






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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz