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pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

15.9.16

Esse homem precisa morrer...

Esse homem precisa morrer...

Pedrinho Guareschi*

Tanto lá, como aqui e agora, é preciso destruir esse homem...

Ao ouvir e ler as investidas dos Procuradores Gerais sobre Lula (dia 14/09/2016), arrisco-me a partilhar, e adiantar, parte do capítulo de um livro que estou reescrevendo sobre "Mídia, Educação e Cidadania – uma análise crítica da mídia"- onde discuto como fazer análise de imagens. Se tiver coragem de ler... Tanto lá, como aqui e agora, esse homem precisa morrer... Deixo aos leitores fazer as possíveis comparações e descobrir as motivações dos respetivos autores…

O primeiro exemplo (ver figura...) é do articulista Ruy Castro e ocupou quase a página inteira do Segundo Caderno do jornal Zero Hora (Grupo RBS), em maio de 1994. Importante saber que esse foi um ano em que se realizariam eleições diretas para presidente e um dos candidatos era Luiz Inácio Lula da Silva. Essa eleição se constituía num momento crucial na história política brasileira pois, como todos sabem, na eleição anterior para presidente, em 1989, aconteceu o conhecido enfrentamento entre Collor e Lula, quando Lula foi derrotado por pequena margem de votos e sua derrota foi atribuída, pela maioria dos analistas políticas, à manipulação do último debate pela TV Globo às vésperas do segundo turno (O vídeo "Brasil: Além do Cidadão Kane", do diretor Simon Hartog, do Canal 4 de Londres, documenta esse episódio – disponível via Internet). Todos esperavam, então, para ver o desempenho de Lula nessa eleição seguinte esperançosos, pois Collor, seu adversário em 1989, fora cassado em 1991, substituído por seu vice, Itamar Franco.

A data da publicação dessa foto é importante pois sabemos que as eleições se realizam em inícios de outubro, mas a "construção" dos candidatos começa sempre alguns meses antes. Ora, quem analisa mais criticamente a situação política de países capitalistas, como no Brasil, vai perceber que por detrás das pessoas que lutam para alcançar o poder está subjacente, de maneira velada, um confronto entre os que detêm o poder econômico e financeiro, as elites do país e, no outro polo, o grande contingente de trabalhadores/as, do campo e da cidade, possuidores de bens escassos, ou mesmo carentes de bens ou serviços. As disputas políticas revelam, como pano de fundo, esse conflito próprio de uma formação social capitalista. Era evidente que essas elites não queriam correr o risco de permitir que alguém, como Lula, que já tinha assustado essa minoria há cinco anos atrás, vencesse o pleito. Era preciso, então, começar a "desconstruir" a imagem desse perigoso candidato. Ora, uma imagem não se constrói, ou desconstrói, de repente. São necessários alguns meses de trabalho de informação, veiculação de notícias carregadas de valores, criação de fatos favoráveis ou contrários. Por isso para uma eleição que se realizaria em outubro, maio era uma data oportuna. O jornal Zero Hora, coerente com sua posição de classe e de representante dessa elite, passou a cumprir evidentemente com seu papel de "desconstrução" de possíveis inimigos.

Não é de estranhar que nos espantemos com a foto e o escrito. Na realidade, ele pode assustar. Mas era necessário empregar, junto com a figura chocante, termos que convencessem qualquer leitor(a) a nem pensar em apoiar tal candidato: "é peludo, quase humano (sic). Carnívoro, devora a cabeça das pessoas que captura". E o articulista previne os leitores: "E, atenção, está vivo entre nós". Isto é, não é invenção: ele existe!

O "imparcial e objetivo" articulista tem receio de que talvez alguns leitores incautos não cheguem a perceber de quem se trata, quem é esse personagem quase humano, feroz e carnívoro, por isso sublinha despudoradamente: quem fosse fazer um filme sobre o mapinguari no Brasil, "já teria ator para o papel: Lula".


* Pedrinho Guareschi é graduado em Filosofia, Teologia e Letras; pós-graduado em Sociologia; mestre e doutor em Psicologia Social; pós-doutor em Ciências Sociais em duas universidades (Wisconsin e Cambridge); pós-doutor em Mídia e Política na Università degli studi 'La Sapienza'; professor na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul); seus estudos, pesquisas e experiências focalizam a Psicologia Social com ênfase em mídia, ideologia, representações sociais, ética, comunicação e educação; conferencista internacional.

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Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz