O não rosto de Luana é a beleza da democracia
Gilson Caroni Filho
O não rosto de Luana é a beleza da democracia
por Gilson Caroni Filho
As manifestações de ontem demarcaram bem a diferença entre quem marcha por um golpe e os que vão às ruas em defesa da democracia. Nesta sexta, ao contrário de domingo, as capitais foram tomadas por uma multidão rica em diversidade política. Havia militantes petistas, do PC do B, do PDT e do PSOL, que mesmo fazendo oposição programática ao governo Dilma, não fecha os olhos ao retrocesso.
Lá estavam também Coletivos do LGBT, do Movimento Negro e de outros atores, que lutam pelo direito à visibilidade e contra qualquer tipo de intolerância, reivindicando legítimos direitos. Também estiveram presentes sindicalistas, estudantes, pessoas sem filiação partidária e o que mais me enche de esperança; um número expressivo de jovens.
As palavras de ordem eram claras. Aquele mar de gente sabia o que queria. Era possível conciliar a defesa do Estado Democrático de Direito com críticas à política econômica do governo. Ninguém bateu ninguém apanhou. Foi resistência e confraternização.
A classe média, que permaneceu por horas reafirmando seu desejo por um país menos injusto, não é do mesmo extrato daquela que esbraveja contra a corrupção, mas menospreza a cidadania, burla a lei, preferindo o arbítrio do indivíduo onipresente. Não briga por uma democracia de alta intensidade que deve conjugar a forma representativa com participação popular. Nada mais feroz do que o inconformado com perdas de privilégios. Aquele que, facilmente mobilizável pela mídia hegemônica, vê o espaço público como arena para exibir seus recalques.
No Rio de Janeiro, bonecos infláveis e xingamentos deram lugar a um palco, melhor, a um altar de onde artistas proclamavam versos e cantores encheram o ar com belas canções.
Há várias fotos que dão conta da magnitude do que se viu ontem. Mas escolho aquela que para mim foi a mais emblemática. A de uma jovem estudante de jornalismo, Luana Dandara, estagiária de uma emissora de televisão, que compareceu à Praça XV e fez uma selfie ocultando o próprio rosto. Talvez seja o registro mais preciso da juventude que está aprendendo na luta. A democracia, sendo de todos, não é de ninguém. Só pode ser conquistada por um coletivo que não tem cara ou dono. E nisso reside sua beleza. O gesto desta quase menina sinaliza duas esperanças: a dos estudantes que ainda temos e dos jornalistas que estão por vir. Diante disso, qual a relevância do gesto desesperado de Gilmar Mendes ao suspender a posse de Lula? Nada além do desespero de um oligarca.
Em tempo: outro fato não pode ser esquecido, já que falamos em jornalismo. Enquanto não havia repórteres da TV com pés nos chão, a TV Brasil colocou os seus em todos os atos realizados nesta sexta, 18 de março. Deu uma aula de cobertura e análise dos fatos.
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