Ocorrerá na próxima sexta-feira, dia 06 às 18h, na AASP, o coquetel de lançamento da obra Trabalhos Marginais, escrita por acadêmicos da pós-graduação da FDUSP e membros do GPTC, coordenado pelo Prof. Jorge Souto Maior.
A obra é um exercício prático de alteridade, e descreve de forma humana as condições de marginalização de diversas profissões, como terceirizados no serviço público, catadores de resíduos, prostitutas, estrangeiros e, não surpreendentemente, estagiários e advogados.
Mas o que os advogados estão fazendo neste balaio?
Enquanto a comunidade jurídica reproduz a simbologia da toga, da gravata e do salto alto, os reflexos da mercantilização do ensino jurídico e do utilitarismo que industrializa a judicialização – tanto das rasas relações de consumo quanto do profundo exercício dos direitos fundamentais – são percebidos na pele por imensa fatia da nova geração de advogados: enquanto seus familiares, amigos e clientes vivem o sonho virtuoso – vendido por eles mesmos, os advogados – da história de glória futura no trabalho árduo, com exemplo das gerações que os antecederam, expõem-se a relações de subordinação informais, à precarização de direitos, achatamento da remuneração e absoluta alienação entre o trabalho e o resultado do trabalho.
A dissociação entre o discurso da autoridade (aquele da toga, da gravata e do salto alto) e a realidade socioeconômica brevemente descrita fica muito clara pela surpresa que causa o choque de bases salariais: hoje pedreiros, jardineiros, diaristas e vigilantes noturnos via de regra não ganham menos que um advogado iniciante, cujas perspectivas de emancipação – no direito – se reduzem ao sonho, também mercantilizado, do ingresso nas carreiras públicas, ou à inevitável judicialização-de-tudo-o-q
Na obra em comento, trata-se com detalhes dessa realidade no cenário paulista. Colegas tratam, também, das realidades de outros trabalhadores marginalizados, como diaristas, prostitutas, catadores de papel, terceirizados do serviço público, anotadores do jogo do bicho, estrangeiro todos com questões semelhantes de precarização e, sobretudo, de inexistência mesmo de normas que tutelem suas profissões, como é o nítido caso das prostitutas, que sustentam as contradições da nossa sociedade machista e sexualmente aprisionada, e os estrangeiros, que em regra, na prática, não têm condições de opor seus direitos humanos firmados em tratados internacionais aos estados receptores, em virtude do argumento clássico da soberania e da anarquia internacional, ressalvadas políticas públicas recentes de proteção de refugiados.
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