Brasileiro será o primeiro latino-americano a presidir a instituição da ONU
O brasileiro José Graziano da Silva, de 61 anos, foi eleito ontem (26-06-11) para o cargo de diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), derrotando o espanhol Miguel Ángel Moratinos. Graziano será o primeiro latino-americano a presidir a instituição encarregada de combater a fome no mundo. Ele sucede o senegalês Jacques Diouf, que ocupou o cargo de diretor-geral durante 17 anos. Em votação de segundo turno, o brasileiro obteve 92 votos, sendo apoiado pela Indonésia e os chamados "países não alinhados" do G-77, entre eles, boa parte da África. No primeiro turno, Graziano já havia superado Moratinos por 77 a 72 votos. As eleições foram realizadas ontem, em Roma.
Seu mandato vai de 1 de janeiro de 2012 a 31 de julho de 2015. Ele terá pela frente a dura tarefa de reformar um organismo internacional sob críticas pesadas - a instituição já foi acusada de ser vagarosa e desperdiçar dinheiro na execução de seus programas para combate à fome. Em seu primeiro pronunciamento, Graziano disse, perante representantes de 177 nações, que o combate à fome será sua prioridade à frente do organismo, que tem orçamento de US$ 1 bilhão. "Precisamos erradicar a fome e ajudar os países mais pobres", disse. "A partir de agora, deixo de ser o candidato dos brasileiros para ser o diretor-geral de todos os países." De acordo com dados da ONU, o mundo tem 1 bilhão de pessoas famintas.
A disputa teve contornos emocionantes, com manifestações de apoio de países. Graziano foi eleito sob fortes aplausos e assédio da imprensa estrangeira. O ex-chanceler espanhol Miguel Ángel Moratinos foi o primeiro a cumprimentar o brasileiro, logo após o anúncio da vitória. Eles trocaram abraços. A disputa pelo cargo se desenrolou por mais de quatro horas. A delegação brasileira foi liderada pelos ministros Antonio Patriota (Relações Exteriores), Wagner Rossi (Agricultura) e Afonso Florence (Desenvolvimento Agrário). Os três desembarcaram em Roma ainda na quinta-feira para buscar apoio de representantes dos países que integram a FAO. Ao longo das 72 horas que antecederam a eleição, os três promoveram encontros bilaterais com ministros e autoridades.
Graziano, que ocupa o cargo de diretor regional da FAO desde março de 2006, foi ministro da Segurança Alimentar e do Combate à Fome durante o governo Luiz Inácio Lula da Silva. Na pasta, o agrônomo e economista foi coordenador da elaboração do programa Fome Zero. Durante sua permanência na FAO, conseguiu que os países da América Latina e Caribe fossem os primeiros em nível mundial a assumir o compromisso de erradicar a fome antes de 2025.
Para Dilma, vitória reflete reconhecimento às ações do Brasil
A presidente Dilma Rousseff divulgou nota comemorando a vitória do ex-ministro José Graziano na disputa pela direção-geral da FAO. "Sua reconhecida contribuição na formulação da bem-sucedida estratégia governamental de assegurar o direito dos povos à alimentação, aliada às sólidas credenciais acadêmicas e ao profundo conhecimento da FAO, acumulado à frente do escritório regional da entidade em Santiago, confere a José Graziano qualificações essenciais para o cargo que ocupará nos próximos quatro anos", afirma a nota da presidência.
No texto, a presidente afirma que a vitória do brasileiro reflete "o reconhecimento pela comunidade internacional das transformações socioeconômicas em curso em nosso País - que contribuem de forma decisiva para a democratização de oportunidades para milhões de brasileiras e brasileiros".
O ministro da Agricultura, Wagner Rossi, avalia que a escolha de Graziano é um reconhecimento ao trabalho do governo brasileiro. "Nos últimos anos, o País experimentou uma situação de conforto e bem-estar social como poucas nações do mundo viveram. Mais de 28 milhões de pessoas deixaram a pobreza", comentou Rossi. "Isso no momento em que muitas nações sofreram enormemente com os impactos da crise financeira e econômica mundial", completou.
O ministro comentou que o candidato brasileiro tem credenciais que o levarão a fazer um trabalho extraordinário à frente da FAO. "O professor Graziano tem o respeito da comunidade internacional e vai cumprir o seu dever como um grande humanista que é, preocupado com os problemas sociais e a fome", apontou. "Ele vai desempenhar um papel decisivo para ajudar aos povos mais necessitados."
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