Defensores da privatização sempre argumentaram que uma vez vendidas, 
as estatais prestariam contas aos mercados, 
o que por definição as tornaria mais eficientes, honestas, antiácidas e belas,  
propiciando ganhos a acionistas, empregados e consumidores. 
A oferta parecia barata e bacana. 
No Brasil, o exemplo arrematado das virtudes privadas seria a Vale do Rio Doce, 
que esta semana lustrou prognósticos dourados ao registrar em 2010 
o maior lucro da história das mineradoras em todo o mundo: R$ 30 bilhões, limpinhos. 
A euforia durou menos de 24 horas.  
Antes que as manchetes comemorativas envelhecessem, a Petrobrás 
- que também tem ações no mercado, mas é controlada pelo Estado brasileiro -  
veio informar que seu lucro em 2010 foi um pouco maior: de R$ 35 bilhões. 
Com algumas notáveis diferenças. 
O  plano de investimentos da petroleira, em processo de  revisão que poderá ampliá-lo - ]
prevê inversões de US$ 224 bilhões de dólares até 2014. 
Por ser predominantemente pública, 
a empresa deu ao país a maior descoberta de petróleo do planeta dos últimos 30 anos. 
A exploração soberana das reservas do pré-sal 
- com agregação de valor local e formidável demanda por equipamentos – 
figura como o maior impulso industrializante da história econômica brasileira.  
O que seria do pré-sal se a Petrobrás  tivesse se reduzido a uma Vale do petróleo? 
Vejamos: a mineradora vai distribuir US$ 4 bi de dividendos aos acionistas este ano. 
Mas se recusa a investir 5% do lucro líquido, US$ 1,5 bi, em uma unidade produtora de trilhos no Brasil. 
Para atender ao imediatismo dos mercados, prefere intensificar o embarque de minério bruto à China, 
de onde importamos  trilhos  para a expansão das ferrovias brasileiras. 
O círculo virtuoso, como se vê, tem um raio mais estreito do que apregoavam os tucanos
para justificar a venda da empresa por apenas R$ 3 bi, em 1997 (dez vezes menos que o lucro obtido agora).
(Carta Maior, Domingo, 27/02/2011)
http://www.cartamaior.com.br/templates/index.cfm?alterarHomeAtual=1&home=S
Nenhum comentário:
Postar um comentário