García Linera e a potência plebeia
Vice-presidente da Bolívia lançará livro, receberá homenagem e fará conferência no dia 13 de dezembro, no Rio de Janeiro. Autor de "A potência plebeia", Álvaro García Linera é um dos mais destacados intelectuais de seu país e do continente. Com longa trajetória de militância e elaboração teórica, Linera sempre primou pela busca de um marxismo adaptado à realidade concreta boliviana e sul-americana, conciliando o pensamento de Marx com uma série de influências indígenas e de outras matrizes do pensamento social. Ele receberá a Ordem Latinoamericana, da Faculdade Latinoamericana de Ciências Sociais (Flacso).
Redação
O vice-presidente da Bolívia, Álvaro García Linera, estará no Brasil no dia 13 de dezembro para o lançamento de seu livro "A Potência Plebeia" (Boitempo), reunião de ensaios, publicados entre 1989 e 2008, sobre diferentes etapas do processo sociopolítico da Bolívia. Linera aproveitará para fazer uma rápida visita à presidente eleita, Dilma Rousseff, em Brasília.
Ainda no dia 13, a partir das 18h30min, Álvaro García Linera receberá a Ordem Latinoamericana, prêmio que será entregue pela Faculdade Latinoamericana de Ciências Sociais (Flacso). O evento acontecerá na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ, Pavilhão João Lyra Filho, Bloco F, 1° andar, Auditório 11) e, nele, Linera proferirá a conferência: "A potência plebeia: ação coletiva, identidades indígenas, operárias e populares na Bolívia". Além de seu livro sobre esse tema, também será lançado nesta ocasião o n° 15 da revista Margem Esquerda (Boitempo Editorial).
A potência plebeia
Além de vice-presidente do Estado Plurinacional da Bolívia dirigido por Evo Morales, Álvaro García Linera é um dos mais destacados intelectuais de seu país e do continente. Com longa trajetória de militância e elaboração teórica, García Linera sempre primou pela busca de um marxismo adaptado à realidade concreta boliviana e sul-americana, conciliando o pensamento materialista dialético clássico com uma série de influências indígenas e de outras matrizes do pensamento social.
Coletânea de seis ensaios produzidos em diferentes épocas, "A potência plebeia – ação coletiva e identidades indígenas, operárias e populares na Bolívia' reúne pela primeira vez em português importantes momentos da produção intelectual de García Linera. Segundo o jornalista Pablo Stefanoni, autor do prefácio, a trajetória do agora vice-presidente o coloca no papel de "intérprete do complexo processo político e social iniciado em 22 de janeiro de 2006, após o primeiro indígena chegar à presidência desta nação andino-amazônica, onde 62% dos habitantes se autoidentificam como parte de um povo originário, em sua maioria quéchua e aimará".
Atraído pela questão indígena por conta da guerrilha guatemalteca, García Linera jamais abandonou esse interesse nas diferentes fases de suas concepções políticas, buscando apoio no marxismo para melhor formular a proposição de um "governo-índio". Ainda segundo Stefanoni, "dedicou centenas de páginas a esquadrinhar Marx, Engels e Lenin para encontrar respostas ao problema nacional – ou comunitário-camponês". Esses estudos puderam ser amplamente desenvolvidos no período em que esteve preso, por conta de sua participação em movimentos guerrilheiros.
Diferentemente de outros processos políticos latino-americanos, na Bolívia a chegada ao poder de um setor popular ocorreu escorada em fortes mobilizações sociais, sustentada por um partido político que se apresenta apenas como instrumento desses movimentos sociais. Como expresso no próprio conceito de práxis política, Álvaro García Linera sempre refletiu sobre tais conjunturas ao mesmo tempo que militava dentro delas. Pouco antes de assumir a vice-presidência, declarou: "é muito bonito conseguir essa combinação: um nível de especificidade inacessível para o pesquisador externo e um nível de generalidade e visão global imprescindível para te orientar em termos mais sistêmicos. Para isso se dirige meu esforço".
Trecho da obra
Apenas quando sai em rebelião a comunidade é capaz de invalidar, na prática, a fragmentação por meio da qual vem sendo condenada a se debilitar até hoje, reabilitando assim os parâmetros comunais da vida cotidiana como ponto de partida expansivo de uma nova ordem social autônoma. Isso significa que é nesses momentos que o mundo comunal-indígena deseja a si mesmo como origem e finalidade de todo poder, de toda identidade e todo porvir que lhe compete; seus atos são a enunciação tácita de uma ordem social que não reconhece nenhum tipo de autoridade alheia ou exterior à própria autodeterminação em marcha.
Essa maneira protagônica de construir o porvir comum que reivindica, ao mesmo tempo, uma distinta figura social-natural da reprodução social (autodeterminação nacional-indígena) e transita pela refundação da existência em coalizão pactada com a plebe urbana (o nacional-popular) exige que indaguemos sobre as distintas formas da constituição nacional das sociedades. O moderno Estado nacional é, em relação a essas opções, apenas uma particularidade suplantadora e tirânica dessas energias.
Sobre o autor
Álvaro García Linera, vice-presidente da Bolívia desde 2006, é matemático, sociólogo, estudioso dos movimentos sociais e da "esquerda indígena" boliviana e professor titular de sociologia e ciências políticas da Universidad Mayor de San Andrés, La Paz. Integra o grupo Comuna, responsável pela teorização do governo de Evo Morales. Recebeu o prêmio Agustín Cueva 2004, da Escuela de Sociología e Ciencias Políticas de La Universidad Central del Ecuador. É autor de vários livros, dentre os quais destacamos Sociología de los movimientos sociales en Bolívia (La Paz, Oxfam/Diakonía, 2004).
Fotos: Divulgação
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